A Secom (Secretaria de Especial de Comunicação Social), do governo federal, apagou um tuíte publicado nesta manhã com uma foto de um homem armado para celebrar o Dia do Agricultor, celebrado neste 28 de julho.
O texto da Secom dizia: "Hoje homenageamos os agricultores brasileiros, trabalhadores que não pararam durante a crise da Covid-19 e garantiram a comida na mesa de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo", embaixo da foto que está acima.
Naturalmente as entidades do setor reagiram de forma indignada, mas o estrago está feito. Dificilmente o incompetente motivado que gestou a ideia será punido. Vai ficar o dito pelo não dito ou o publicado pelo não publicado. Ou, para usar um termo da internet. Cancelado.
O problema é que esse tipo de atitude põe em cheque todo o trabalho do setor rural que dá certo, investe pesado em tecnologia uma vez que a Embrapa atualmente já não líder a pesquisa nas principais comodities, devido a falta de recursos para investimentos em tecnologia.
O setor que funciona é o mesmo que projeto para 10 anos um crescimento sustentado que deve elevar a posição do Brasil com um player internacional.
Um estudo recente do ministério da Agricultura (Projeções do Agronegócio 2019/20 a 2029/30) revela que o Brasil - que já é líder mundial na produção de soja - terá crescimento sustentado nas exportações, nos próximos 10 anos, de ao menos 12 produtos.
Diz o estudo vamos crescem em dez anos no milho (29,1%), soja (23,1%), algodão (41,65%) e açúcar (57,9%). No segmento de proteína animal, nossas vendas externas devem crescer em carne suína (36,7%), de frango (34,3%) e bovina (32,7%).
No setor de frutas, as projeções decenais são de crescimento de 57,6% na manga; 40% na uva; 47,6% no melão; 36% no mamão papaya e 33,6% na celulose. O Brasil é produtor de feijão (3 milhões de ton/ano) e arroz (10 milhões de ton/ano).
São números de áreas já consolidadas, enquanto agrega novos polos como a região formada pelos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, conhecida como MATOPIBA, que deve atingir produção de grãos de 32,7 milhões de toneladas nos próximos 10 anos numa área plantada de 8,9 milhões de hectares.
O Brasil, portanto, produz tudo o que precisa para alimentar sua população e ainda ser potência exportadora líder. E esse cenário não permite que seus cidadãos não se beneficiem desse extraordinário resultado.
Segundo o estudo apesar dos enormes problemas trazidos pelo coronavirus, o ano de 2020, é considerado como de excelentes resultados para a produção agropecuária, e em faturamento para o setor.
Segundo a CONAB, a safra de grãos deste ano deve ser de 250,8 milhões de toneladas. Esta é a maior safra que o país já teve. O valor bruto da produção (VBP) tomado como indicador de faturamento anual, é de R$ 703,8 bilhões, considerado de maio até hoje.
Não tem nada a ver com o discurso de Bolsonaro de que enquanto as pessoas estavam e casa o setor rural trabalhava. O setor rural trabalhou exatamente se protegendo do coronavírus. Não foi para a rua como insinua o presidente.
A contrário do que insinua a foto do incompetente motivado ideologicamente a produtividade continuará sendo o principal fator impulsionando o crescimento da produção de grãos nos próximos dez anos.
Isto poderá ser observado ao confrontar os dados de projeções de produção e área plantada – produção 26,9% e área, 16,7%.
Tomemos o caso do arroz. Segundo o Ministério da agricultura ss aumentos recentes no nível de produtividade do arroz decorrem de duas razões importantes: (a) a diminuição da área plantada com arroz de terras altas (também classificado como “sequeiro”), que possui produtividade bem mais baixa que o arroz irrigado e (b) o aumento de produtividade efetiva, dentro de cada sistema de cultivo.
O caso do algodão é mais impressionante. A produção de algodão concentra-se especialmente nos estados de Mato Grosso e Bahia, que respondem em 2019/20 por 89,3% da produção do país.
O Mato Grosso tem a liderança com 69,7% da produção nacional, vindo a seguir o estado da Bahia com 19,6% da produção brasileira.
As projeções para o algodão em pluma indicam produção de 2,9 milhões de toneladas em 2019/20, e de 3,8 milhões de toneladas em 2029/30. Equivale a 17,5 milhões de bales.
Outro produto é milho que há 20 anos o Brasil era importador tradicional da Argentina e Estados Unidos. A produção nacional de milho, em 2019/2020 está distribuída nos estados de Mato Grosso, 33,7%, Paraná, 15,5%, Goiás, 12,5%, Mato Grosso do Sul, 8,4%, Minas Gerais 7,6%.
Estes estados têm produção estimada em 79,5 milhões de toneladas, e devem contribuir com 77,7% da produção nacional, estimada em 102,3 milhões de toneladas em 2019/20. Houve nos últimos 10 anos uma mudança impressionante em relação à área de milho.
A área total cresceu 33,8%, mas esse aumento se deve a produtividade. As projeções indicam produtividade crescente nos próximos anos, especialmente do milho de segunda safra.
As exportações de milho deverão crescer 29,1% no período das projeções. A quantidade exportada deve situar-se entre 44,5 e 64,1 milhões de toneladas. No próximo decênio, os Estados Unidos continuarão liderando o mercado mundial de milho, com participação de 31,6%.
Mas o Brasil será o segundo maior exportador ocupando 23,2% das exportações mundiais. Em seguida estarão Argentina e Ucrânia (USDA, 2020).
Finalmente a soja. Foi a Embrapa quem inventou a soja tropical e o Plantio Direto. A produção de soja no país em 2019/20 está estimada em 120,3 milhões de toneladas. Esta é a maior produção obtida pelo país.
A produção de soja em 2029/30 está projetada em 156,5 milhões de toneladas. Esse número representa um acréscimo de 30,1% em relação à produção de 2019/20. Mas é um percentual que se situa abaixo do crescimento ocorrido nos últimos 10 anos no Brasil, que foi de 60,0% (Conab, 2020).
Detalhe: os Estados Unidos conseguem uma produção de 362,947 milhões de toneladas numa área plantada de 127,842 milhões de hectares. O Brasil (maior produtor mundial do grão) consegue uma produção de 135,409 milhões de toneladas numa área plantada: 38,502 milhões de hectares com uma produtividade média de 3.517 kg/há.
Não tem nada a ver com arma, grilagem, garimpo e atividades que o Governo não reprime e fez o país ter recordes de desmatamento.
O problema do desmatamento é que ele não agrega tecnologia nem leva para essas regiões os melhores produtores. No fundo acaba espalhando miséria com agricultura de subsistência, gado e baixa qualidade e garimpo ilegal.
Nesse ponto a arma da foto tem tudo a ver. Mas nada a ver com o que o Brasil que luta para ser reconhecido como eficiente.