O presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula têm uma coisa em comum. Ambos fazem duras restrições a atuação da imprensa brasileira. Bolsonaro, com o discurso de que não quer censura, defende a proliferação de fake News pelos seus canais e vê na imprensa - que informa sobre suas ações contra as instituições - uma ditadura dos grandes veículos que geram conteúdos que, informando corretamente fatos, o desagradam.
O ex-presidente Lula vai mais longe. Ele acredita ser necessário um controle da mídia e diz que se arrepende de nos oitos anos que governou o país, não ter conseguido aprovar uma lei de regule o setor de Comunicação.
As restrições dos dois à Imprensa é um bom sinal.
Para os jornalistas que informam hoje os desmandos e equívocos de Bolsonaro e, no passado, denunciaram os desmandos com o dinheiro do contribuinte os desmandos das gestões de Lula, é a confirmação de que estão no caminho certo.
Jornalistas são, de fato, uns sujeitos muito chatos aos olhos de governantes que acreditam numa Imprensa que não destaque apenas os atos positivos dos seus Governos e que relevam as coisas ruins.
Eles têm o péssimo hábito de procurar informações confiáveis, ler documentos públicos, fazer contas e comparações de dados em sites do próprio governo e mostrar as contradições.
Isso é muito ruim aos olhos de Lula e de Bolsonaro.
Sobre esse aspecto, eles têm visões muito próximas do que imaginam ser o papel da Imprensa. No fundo, ambos acreditam que o papel da Imprensa - paga pela iniciativa privada - é o mesmo da Imprensa Oficial - paga com o dinheiro do contribuinte - e que publica os atos do governo.
Lula e Bolsonaro vêm nos blogs e mídias digitais uma forma de se comunicarem diretamente com seus eleitores e da mesma forma que ficam satisfeitos quando a Imprensa destaca ações acertadas, reproduzidas em suas mídias partidárias com a chancela da credibilidade dos veículos comprometidos com a verdade, ficam muito irritados quando leem o contraditório.
Nisso os dois têm o mesmo comportamento de governantes autoritários que a História fartamente regista. Eles acreditam seriamente que Impressa boa é aquela que fala bem do Governo. O que os deferência é como se comportam quando a Imprensa busca por informações de qualidade sobre seus atos.
Jair Bolsonaro e Lula têm uma enorme dificuldade de entender que jornalista não os querem para colaboradores ou mentores de seu trabalho. Para a Imprensa, o importante e o comportamento ético e honesto do gestor que está no cargo. Não deseja e nem gosta de proximidade, embora exijam respeito.
Normalmente, jornalistas buscam as ilhas de excelência da ciência, da gestão, do zelo com o dinheiro do contribuinte e destacam os esforços dos servidores nas suas áreas. Normalmente eles são muito receptivos e trabalham duro em pautas do bem. Normalmente eles emprestam sua credibilidade na apuração de boas histórias.
O problema é que governantes como Lula e Bolsonaro têm uma tendência enorme para produzir fatos que vão na direção contrária. Eles têm uma absurda tendência de se contradizer em atos e falas o que, por ofício, leva os jornalistas a procurar a verdade.
Pode parecer absurdo, mas o mesmo ex-presidente que acha muito importante o trabalho da Imprensa na denuncia e investigação dos equívocos de Bolsonaro é o mesmo Lula que achou um desserviço à Imprensa denunciar e acompanhar os escândalos do Mensalão e os desmandos dos seus governos a partir do grupo que se instalou da Petrobras.
O Jair Bolsonaro que elogiou a Imprensa da apuração das denúncias dos desmandos e da corrupção no governo Lula é o mesmo passou abrir uma guerra de versões nas suas redes sociais quando a mesma Imprensa começou a mostrar seus desmandos do enfrentamento da pandemia da covid-19.
Tanto para Lula como para Bolsonaro, o comportamento da Imprensa foi o mesmo. Procurou informações em fontes e documentos e atos do Governo, do Judiciário e do Legislativo.
Esse comportamento em relação à Imprensa que Lula chama de mídia e Bolsonaro de comunista, os nivela e põe em relevância o papel da Imprensa e o papel dos jornalistas.
De fato, jornalistas incomodam muito quando não publicam as versões dos governantes. Eles têm mesmo essa tendência de ler relatórios, vasculhar jornais antigos, procurar atos no poder judiciário, atas do Congresso e buscar dar voz a pessoas que pensam diferente. E isso incomoda a Lula com incomoda a Bolsonaro.
Bolsonaro reclama da desmonetizarão de sites que publicam fake News com a mesma veemência que Lula promete o controle da mídia.
O problema é que no Brasil, a imprensa aprendeu a não depender apenas das declarações e percepções dos governantes. Como, aliás, no mundo inteiro. Mais equipada intelectualmente, mais preparada para fazer mineração de dados e ferramentas de internet e mais bem capacitada para trabalhar com fontes primárias, de fato, a propagação das narrativas do atual e do ex-presidente perderam consistência.
Mas eles vão continuar denunciando a Imprensa. E, felizmente, tendo a oportunidade de ler os seus ataques na mesma Imprensa que querem exercer o seu controle particular.
As instituições brasileiras agradecem. E a Imprensa sabe que está onde sempre esteve. No caminho da procura a verdade.
É isso que faz com que, toda noite, jornalistas voltem para casa com a certeza de estarem cumprindo seu papel. Governantes passam, a Imprensa fica. E ela sempre esteve alinhada à Democracia.