É perfeitamente compreensível a comemoração do governador Paulo Câmara, dos empresariados e até do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho, que já dá como certo um ramal da ferrovia para Petrolina. Mas é preciso ir devagar com o trem. Porque até o trem chegar a Suape vai levar tempo.
Antes de qualquer coisa é preciso entender que, apesar do Governo Federal afirmar como aconteceu ontem, da divulgação de uma nova legislação não se pode esquecer que hoje quem tem a concessão da ferrovia é o Benjamin Steinbruch.
Então, quando o governo de Pernambuco comemora que pode fazer o trem chegar a Suape é preciso não esquecer que a TSLA, é a dona da concessão completa. E é preciso saber se ela está disposta a fechar uma conta que mexe com o negócio todo. A questão é: esse distrato que Pernambuco comemora será amigável?
Mas porque essa festa do Governo de Pernambuco?
Bom, podemos explicar. Quando o ministro da Infraestrutura, Tarciso de Freitas, decidiu revelar que tinha acertado com o empresário Benjamin Steinbruch a rota da ferrovia Transnordestina fazendo a curva em Salgueiro (PE) com destino a Pecém (CE), o governo de Pernambuco percebeu que tinha que retomar as conversas com o Grupo Oportunnity, dono da mineradora GM4 que controla a Bemisa, que explora jazidas de minério de ferro, ouro, níquel, fosfato e calcário.
O fato novo no governo Bolsonaro era que Freitas queria dar o caso por resolvido e depois de uma articulação bem feita conseguiu reverter a coisa. Até porque o Projeto de Lei do Senado 261/18 (que trata do Marco Ferroviária) está sem perspectiva de aprovação.
A opção de Paulo Câmara foi primeiro, certifica-se de que, se o Estado aprovasse uma PEC assumindo a exploração os serviços ferroviários, a mineradora Bemisa aceitaria construir o trecho Custódia-Suape.
Paulo conversou com os diretores da Bemisa e a empresa topou, embora tenha advertido que isso demandará uma dura conversa da União com Steinbruch.
Com essa garantia, Paulo pediu a conversa com o ministro. Discretamente, a conversa teve a presença de representantes da mineradora, mas deu resultado.
O governador saiu o a promessa do ministro do anúncio da MP nº 1.065 de 30 de agosto último. A MP atualizou a legislação e viabilizou a aprovação pela Assembleia de Pernambuco de PEC estadual que permite o início do processo de retirada da ilha de Cocaia do perímetro do Porto Organizado pela União. Freitas se comprometeu a aprovar a retirada.
Ficou acertado ainda um terceiro movimento. O distrato do trecho Custodia-Suape, hoje incluído na concessão. A Bemisa - que tem a mina no Piauí - agora poderá ter a estrada de ferro com investimento de um quarto do já feito por Steinbruch.
Do ponto de vista técnico, o ramal que faz a ligação entre Curral Novo (PI) e Suape, tem 717 quilômetros. O investimento previsto é de R$ 5,7 bilhões. Mas terá que passar pela ferrovia que pertence a Steinbruch, que também estava interessado.
O Grupo Bemisa, um dos maiores do País no ramo de exploração e exportação de minérios, formalizou junto ao ministério da Infraestrutura seu interesse em viabilizar a conclusão do Ramal Suape da ferrovia e instalar o terminal de minério na Ilha de Cocaia.
O novo desenho muda a lógica da concessão dada à Transnordestina Logística S.A., do Grupo CSN, que mirava apenas o trecho de Elizeu Martins (PI) até o Porto de Pecém (CE). Agora virou o jogo a favor de Pernambuco. Mas nada garante que será tranquilo.
Claro que para qualquer ferrovia o que conta é a carga. E agora ela está indo para Pernambuco. Com o desenho, a TLSA ganha porque o que importa é o trem na ferrovia. Mas não se pode esquecer que o outro lado tem seus interesses. Aguardemos.