Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Mestre na autopromoção, Luciano Hang dá um banho na CPI da Covid em apresentação midiática

Políticos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro enxergam nele um exemplo de sucesso que deve ser copiado

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Fernando Castilho

Publicado em 29/09/2021 às 16:40 | Atualizado em 29/09/2021 às 19:20
Luciano Hang posa com senadores antes de depois na CPI da Covid-19 - REDES SOCIAIS SENADOR JORGINHO MELO

A CPI da Covid pode ter cometido uma de suas maiores bobagens em chamar para prestar depoimento o empresário Luciano Hang, dono da Rede Havan, cujas lojas ostentam uma estatua da liberdade, símbolo da democracia dos Estados Unidos.

Para começar, Hang conseguiu a proeza de exibir - antes de dar uma palavra - um vídeo institucional da sua empresa, cuja audiência foi catapultada pela presença que a CPI da Covid já possui nos canais de jornalismo do Brasil, onde ele aparece como um líder carismático adorado pelos funcionários que todos os dias cantam o hino nacional.

Políticos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro enxergam nele um exemplo de sucesso que deve ser copiado. Um pequeno empresário de varejo que se fez sozinho, disputando com os grande players do setor que o ignoram solenemente, exatamente, pelo seu alinhamento com as teses da direita.

Hang é uma espécie de Silvio Santos do varejo, que fez a publicidade de suas lojas aparecendo nos comerciais e trajando um discutível terno verde cana, cuja gravata amarela não só o remete à bandeira Nacional, mas ao personagem Zé Carioca, criado por Walt Disney para retratar a malandragem do brasileiro nos tempos de Carmem Miranda e da Atlântida.

E o que foi fazer Luciano Hang naquela caldeira maldita da CPI? Marketing. Puro marketing institucional, tanto seu, quanto da Havan. E aqui para nós, fez isso com muita competência, a começar pelos acenos de mãozinha antes da sabatina.

Nesse ponto, Hang já entrou ganhando de 1X0 dos senadores do chamado G7. Eles ficaram um tanto constrangidos com a decisão de convocá-lo para falar sobre a acusação de ser um dos agentes de financiamento do Gabinete do Ódio (CGO), como os integrantes da plataforma de Fake News do Governo assumiram depois que a imprensa começou a se referir a esse grupo de pessoas e sua capacidade de difusão de noticias sem fundamento.

Na verdade, antes de dizer qualquer palavra, Hang já estava faturando com uma postagem nas redes sociais com o grupo do G4 formado pelos senadores que o apoiam o Governo na CPI.

Certo, mas e o que disse Luciano Hang? Bom, ele só faltou dizer que o Celso Portiollle está muito bem na nova série de "Comprar é bom, levar é melhor". Sobre os assuntos relacionados com a CPI, absolutamente nada.

E não poderia se esperar muito de um sujeito que se dispôs a gravar um vídeo destacando o atendimento de sua mãe num hospital da rede Prevent Sênior, cuja equipe teria ministrado tratamento precoce?

A CPI da Covid realiza a oitiva de Luciano Hang, acusado de pertencer ao chamado "gabinete paralelo", que é suspeito de aconselhar Bolsonaro em relação à pandemia de covid-19 - LEOPOLDO SILVA/AGÊNCIA SENADO

Hang admitiu o diagnóstico de covid de sua mãe, Regina, e disse que, quando foi feito o teste, ela já tinha o pulmão mais de 90% comprometido. E que “tratou” sua mãe em casa, antes de levá-la ao hospital, com hidroxicloroquina e ivermectina.

E tentou mostrar que o "tratamento preventivo", que ele defende no vídeo, é diferente do "tratamento precoce" que a CPI da Covid e a comunidade medica internacional condena. Para ele, tratamento preventivo acontece antes do diagnóstico. Luciano Hang não é médico, mas prescreveu os remédios a sua mãe.

Ele também esclareceu que o fato de no atestado de óbito não constar SARS-CoV-2: teria sido um "erro" de um médico plantonista, que foi corrigido posteriormente em um segundo atestado. Então, se um sujeito dá esse depoimento sobre a morte de sua mãe e isenta a Prevent Sênior, o que a CPI deveria fazer era encerrar e audiência e pronto.

Mas o senador Omar Aziz preferiu prosseguir, e aí deu chance para Luciano Hang continuar seu show. O show do Hang com a audiência ficará na história.

A partir daí, Luciano Hang, que se descreve como “ativista político”, negou que tenha obrigado seus funcionários a votarem no presidente Jair Bolsonaro em 2018.

E ainda tirou onda quando um sisudo Renan Calheiros lhe cobrou respeito com a CPI pelo vídeo que publicou na redes sociais mostrando chaves. Hang disse que foi apenas senso de humor. "Não (foi brincadeira), senador, mas também temos que ter senso de humor, né?"

E admitiu que passou a vender cestas básicas nas Lojas Havan durante a pandemia, mas negou que sua intenção tenha sido driblar a legislação para poder abrir seus estabelecimentos. Até porque o espectro de atividades lhe permite vender também alimentos.

A partir daí, foi só negação. De que não teve envolvimento na elaboração ou acesso prévio ao aplicativo TratCov, de que tenha recebido benefícios fiscais de governos municipais, estaduais ou federais fora da legalidade.

E contou uma verdade que pouca gente sabe. No início da pandemia, "bancos estatais chegaram a oferecer dinheiro" a ele, "como ofereceram para todas as pessoas", mas ele não teria aceito. Se Hang não aceitou, perdeu dinheiro, pois todas as grandes empresas do seu segmento aceitaram, mesmo estando com caixa em alta.

O empresário Hang e a mãe - Aruqivo Pessoal

O requerimento para convocação de Hang foi apresentado pelo relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), no mesmo dia em que o empresário foi citado no depoimento do diretor-institucional da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Jr. 

Ele achava que poderia constranger Hang. Errou. No fundo, o empresário e comunicador ganhou a batalha de comunicação.

Renan Calheiros nunca vai admitir. Mas foi um enorme equivoco ter chamado o empresário apenas porque ele divulgou um vídeo apoiando a Prevent Sênior. Se não fosse chamado, não faria falta. Como foi, deixou constrangida a CPI pelo equívoco de chamar quem venceu na vida falando bem de si mesmo.

Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o aliado Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan - Divulgação

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