Talvez a melhor definição sobre a nova variante ômicron seja a de que ela tem mais repercussão no atestado médico de afastamento do trabalho do que no receituário do paciente.
Faz sentido. Felizmente, até agora, o número de mortes decorrentes da nova variante é expressivamente bem menor que das demais variantes (até pelo avanço da vacinação) assim como os casos de internação estão cada vez mais restritos a quem não tomou todas as vacinas. Embora o número de infectados nas clínicas de unidades de atenção básica tenha explodido.
Mas o problema é quem está sendo infectado, não tem ou tem sintomas muito leves, mas que precisa ser afastados e ficar em casa.
Ficar em casa, desta vez, não tem a ver com as bobagens de quem critica as medidas não farmacológicas.
Ficar em casa significa que a empresa tem que mandar seu funcionário para casa por ao menos 14 dias.
E como tudo que é ruim pode piorar, quando o funcionário escapa da covid-19 se contamina com a gripe H3N2 que também leva ao afastamento de sete dias.
Por si só a questão da influenza nas empresas já seria ruim. Sua combinação com a ômicron causou uma tempestade perfeita que está fazendo milhares de empresas funcionarem com pessoal reduzido, algumas fechando até que eles cumpram os prazos de afastamento, despencando o faturamento e a produtividade.
O fato novo dessa nova variante é que ela é exponencialmente mais contagiosa, e mesmo que não leve à internação, pelos protocolos médicos elas têm que mandar seus funcionários para casa. Inclusive os que tiveram contatos com os infectados.
A progressão geométrica, como está se observando, e como alertam as autoridades de saúde, virou um fator econômico de impacto muito forte que já atinge a economia de forma horizontal.
O noticiário está mostrando que as companhias de aviação e os hospitais estão com seu pessoal reduzido, de modo a manter os aviões em terra, e os leitos que deveriam estar abertos, fechados. Mas o impacto está nas demais empresas, especialmente as do comércio.
Tudo isso acaba sendo ruim para a empresa até pela legislação. Como o afastamento é de até 14 dias, a companhia não pode mandar o funcionário para o INSS. Assim ela fica sem sua força de trabalho completa.
Na prática, isso quer dizer milhões de horas não trabalhadas, e sua maioria por trabalhadores que necessariamente não perderam sua condição de trabalhar, mas que precisam estar afastados.
Do ponto de vista do negócio, as empresas estão tendo um aumento de custos combinado com perda de faturamento e queda na produtividade.
Setores como o comercio está perdendo milhões de horas de trabalho, mas a indústria também enfrenta o mesmo problema. E esta é uma situação da empresa legal que tem funcionários com carteira assinada.
Por isso é que se diz que a ômicron é um problema mais volumoso na emissão de atestados de afastamento do que o de prescrição de medicamentos, embora como ela está atingindo muito mais gente, esse crescimento exponencial acaba levando muito mais pessoas aos postos de saúde - o que acaba demandando mais internações, ainda que não sejam tão graves como chegavam os contaminados sem vacinação completa, quando a variante dominante era a Delta.
Mas a realidade em termos sanitários e econômicos é a mesma. E os prejuízos tendem a crescer nas próximas semanas, replicando o comportamento da covid-19 na Europa e Estados Unidos, sempre quatro ou seis semanas antes do Brasil.