GUERRA RÚSSIA E UCRÂNIA: Com barril a US$ 100, petróleo vai impactar inflação no mundo

Cada 1% de aumento do combustível tem mais de 0,04 ponto percentual de impacto no índice de inflação
Fernando Castilho
Publicado em 24/02/2022 às 11:00
ESTIMATIVA Produtos como linha branca e automóveis devem ser mais impactados pela redução. No total, 300 mil empresas serão beneficiadas Foto: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM


Às 9h15, o barril do petróleo tipo Brent estava sendo negociado a US$ 105,01, com alta de 8,44%. O petróleo Brent é um petróleo mais leve, negociado na Bolsa de Londres e produzido no mar do norte da Europa e na Ásia. Ele serve como referência para o mercado global.

Isso quer dizer que o preço chegou ao que os analistas internacionais temiam em relação a uma guerra da Rússia contra a Ucrânia. Um barril de petróleo a US$ 100 é ruim para todo mundo porque esse preço reflete, essencialmente, especulação. Não tem a ver com os custos de produção.

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Um dado importante é lembrar que a última vez que ele chegou a US$ 100 foi em 2014. E isso aconteceu devido ao profundo desequilíbrio entre oferta e demanda global de petróleo em que um grande excesso de capacidade de produção contrasta com uma desaceleração acentuada da demanda.

Acrescente-se a isso a recusa da Arábia Saudita e outros produtores da OPEP em continuar exercendo seu papel tradicional de regulador do balanceamento entre oferta e demanda de petróleo por meio de cortes na produção.

Outra coisa: em 2010, por exemplo, os preços excederam a US$ 100 por barril e continuaram crescendo nos anos seguintes, tendo atingido picos de mais de US$ 120 por barril em 2012. Mas em nenhum dos casos isso se deu por um cenário de guerra. Portanto, não é possível comparar as razões entre uma subida em 2014 e agora.

Isso tem a ver com o que vem por aí.

O que inicialmente preocupa é que não há perspectivas de que isso seja um conflito de curta duração.

Aparentemente, esse embate caminha com um cenário de guerra clássica. Por terra, com invasão de infantaria, artilharia e cavalaria mecanizada com tanques e apoio aéreo.

É bem diferente da guerra do Golfo com um Estados Unidos superpoderoso pelo ar atacando tudo de cima. A guerra de Putin é uma guerra de território mesmo.

É isso que, inicialmente, desenha um preço de US$ 100 por mais tempo. Claro que ele não vai ficar nesse patamar, até porque a OPEP pode, por exemplo, anunciar a ampliação das ofertas no mercado global pressionada pela União Europeia e Estados Unidos.

E o que isso tem a ver com a gente aqui no Brasil?

Muita coisa. A primeira coisa é que a Petrobras vai ganhar muito dinheiro. Com o conhecimento acumulado e a inovação tecnológica, o custo médio de extração do petróleo do pré-sal vem sendo reduzido gradativamente ao longo dos últimos anos.

Passou de US$ 9,1 por barril de óleo equivalente (óleo + gás) em 2014, para US$ 8,3 em 2015, e atingiu um valor inferior a US$ 8 por barril no primeiro trimestre de 2016. Em 2018, atingiu um valor inferior a US$ 7.

Depois, quando o pré-sal brasileiro foi descoberto, o mundo encontrava-se em plena expansão econômica, acompanhada por um aumento expressivo da demanda global de petróleo e trajetória ascendente dos preços.

A Petrobras ganha dinheiro até mesmo se o petróleo chegasse a inimagináveis US$ 15.

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Em 2016, as descobertas passaram a ser avaliadas e desenvolvidas com intensidade pela Petrobras e companhias internacionais de petróleo em parceria, permitindo que a produção de petróleo do pré-sal atingisse hoje mais de 1 milhão de barris de óleo equivalente por dia.

Ano passado, a produção no pré-sal foi de 1,95 milhão de barris de óleo equivalente por dia (boed). Esse volume corresponde a 70% da produção total da companhia, que foi de 2,77 milhões de boed no ano passado.

O recorde anterior foi em 2020, quando atingiu a marca de 1,86 milhão de barris de óleo equivalente por dia, representando 66% da produção total da empresa. A produção no pré-sal vem crescendo rapidamente, e o recorde registrado em 2021 representa mais do que o dobro do volume que produzimos nesta camada há 5 anos, ou seja 2016.

O problema é que isso bate na inflação. Se o dólar se mantém nesse patamar, os preços dos combustíveis continuam pressionando a inflação. A gasolina e a energia elétrica residencial têm um peso quase três vezes maior do que os outros insumos analisados.

Além disso, devido à pandemia, de 2020 para 2021 observa-se um aumento considerável da inflação sobre os combustíveis; como consequência, a reta do IPCA aumenta sua inclinação.

André Braz, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), estima que a cada 1% de aumento do combustível, tem mais de 0,04 ponto percentual de impacto no índice de inflação.

Mas ainda será necessário esperar um pouco para ver se, primeiro, o barril de petróleo se mantém em US$ 100. Depois, por quanto tempo vai durar essa guerra, mas para o Brasil não tem notícia boa, porque com o barril do petróleo acima de US$ 60, nada de bom vai acontecer com a inflação.

ALEXEY NIKOLSKY / SPUTNIK / AFP - O presidente russo, Vladmir Putin
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