Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Bolsonaro se aproveita, mas gasolina no Brasil é mais barata que em 80 países. Na Rússia, preço é de R$ 1,35 por litro

O país de Vladimir Putin cobra a sétima gasolina mais barata do mundo, de apenas US$ 0,37 (R$ 1,35) por litro

Fernando Castilho
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Publicado em 14/03/2022 às 11:40
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SALGADO Está cada vez mais difícil encarar os postos de combustíveis para os motoristas brasileiros - FOTO: BETO DLC / JC IMAGEM
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Numa videoconferência do Congresso Brasil Profundo, no sábado passado, o presidente Jair Bolsonaro disse que a gasolina brasileira é uma das mais baratas do mundo.

Para quem está assustado com as repercussões do aumento de 24,9% nos preços dos combustíveis anunciado pela Petrobras, isso pode ser mais uma de suas provocações em ano eleitoral, mas a verdade é que o presidente, de certa forma, tem razão. Considerando apenas a gasolina, o país fica em 81º lugar no mundo.

Segundo levantamento da consultoria Global Petrol Prices, a Venezuela é o país com o combustível mais barato no mundo, entre 170 países e territórios analisados em seu mais recente relatório semanal, divulgado na última segunda-feira (7).

De acordo com o mesmo ranking, o Brasil ocupa a 90ª posição numa lista de 170 países, atrás de países como Estados Unidos e Paraguai. Hong Kong é o mais caro.

O governo federal tenta encontrar um discurso para a disparada do preço dos combustíveis, e o Senado chegou a votar sobre dois projetos para tentar conter o avanço dos preços. E é verdade que o presidente Jair Bolsonaro mobilizou as bases para as discussões em torno de dois textos relatados pelo senador petista Jean Paul Prates (RJ), que pretendem amenizar as altas dos preços.

Pode parecer estranho ver o governo Bolsonaro alinhado a um senador do PT, mas o fato é que mesmo que os projetos estejam a um oleoduto de distância da solução, isso ajuda no discurso contra os governadores, com quem o presidente vem travando um embate há meses.

E a aprovação do projeto que manda o Confaz definir um preço único para o ICMS cobrado no óleo diesel foi uma vitória dele sobre os governadores.

Mas voltando ao preço dos combustíveis: segundo ranking do Global Petrol Prices, que monitora 170 países diferentes, o galão de gasolina mais caro foi vendido em Hong Kong por US$ 10,72, o que significa que abastecer até um carro pequeno quebraria a barreira dos US$ 100.

A diferença entre o Brasil é que lá, o sistema de transporte público funciona. O metrô de Hong Kong, por exemplo, tem 220 km de extensão com 155 estações. É economicamente um dos sistemas mais rentáveis do mundo.

Depois vem a Noruega, que tem os preços de combustíveis mais altos da Escandinávia, e o segundo mais alto do mundo. Em sua defesa, no entanto, é também o 11º país do mundo em acessibilidade de mercado.

Além disso, a Noruega tem um poder aquisitivo várias vezes maior que o Brasil.

E em terceiro vem a Dinamarca, um dos três países com a gasolina mais cara do mundo. Essa colocação pode não surpreender a maioria das pessoas, dada a notoriedade do país por ser extremamente caro. No entanto, a Dinamarca produz a maior parte de sua própria energia e possui consideráveis reservas de petróleo graças à Groenlândia.

Na lista de 170 países presentes no ranking, o Brasil encontra-se na 81ª posição das gasolinas mais caras do mundo. E mesmo com os novos ajustes anunciados pela Petrobras na quinta-feira, dia 10, não deve sofrer grandes alterações nessa situação atual.

Ainda no caso do Brasil, os impostos representam 37% do preço final da gasolina, quase o mesmo equivalente do preço cobrado pela Petrobras nas refinarias, que é de 36%, segundo informações fornecidas pela própria estatal.

O problema é que no caso do Brasil, quando Bolsonaro se queixa de Vladimir Putin e do fato que as sanções aplicadas à autocracia que comanda pioraram a situação, ele apenas está falando de uma parte do problema.

Quando se observa os lugares onde a gasolina é mais barata, é fácil listar a Venezuela, onde o litro de gasolina custa US$ 0,025. Depois vem a Líbia, com US$ 0,032, e a seguir o Irã, com US$ 0,51.

O que pouca gente sabe é que, na Rússia, o preço dos combustíveis é um dos mais baixos do mundo. Segundo a lista do Global Petrol Prices, o país de Vladimir Putin cobra a sétima gasolina mais barata do mundo, apenas US$ 0,37 por litro, ou R$ 1,35 no câmbio de hoje (R$ 5,01).

O presidente afirma que a grande culpada pelos aumentos é a Petrobras, que não ajuda o País e repassa os aumentos automaticamente.

Na verdade, desde os tempos da Lava Jato e das consequências dela na empresa que a Petrobras usa o padrão dólar para suas operações. O problema é que isso foi bom enquanto o preço do barril do petróleo em dólar estava barato.

Por exemplo, no ano da pandemia da covid 19, o preço do barril ficou em US$ 40. Mas em 2021, com a volta das atividades na economia global, ele subiu para US$ 100, em dezembro.

O presidente, então, começou a tentar resolver tentando mudar o presidente da estatal, Roberto Castelo Branco, pelo general Silva e Luna. Mas o presidente não determinou que o Conselho de Administração da empresa mudasse a estratégia feita lá em 2017, no governo Michel Temer.

Ele foi alertado que se fizesse isso, a empresa perderia bilhões de reais e poderia ser acionada na Justiça pelos acionistas minoritários.

Além disso, quem decide se muda ou não, são os conselheiros. Eles têm obrigações legais para atuar na defesa dos interesses da empresa. Se não fizerem isso, poderão responder pessoalmente (no seu CPF) pelos prejuízos.

Bolsonaro também se iguala a Lula nas críticas, mas é difícil imaginar que Lula também fizesse isso, devido às amarras da legislação. Na presidência da República, eles podem fazer isso, mas sabendo que vai ter problemas, Bolsonaro, como Lula, não quer correr o risco.

Passagens aéreas deverão ficar mais caras devido ao aumento do combustível

Tendência é de que as empresas elevem o preço das passagens e tenham de reduzir suas operações para atravessar o período turbulento

Passagens aéreas deverão ficar mais caras devido ao aumento do combustível
Quando começavam a superar a crise provocada pela pandemia de covid-19, as companhias aéreas passam a enfrentar dificuldades devido à alta do querosene de aviação (QAV), na esteira do aumento do petróleo. Responsável por 35% dos custos do setor, o combustível teve o preço ajustado em 76,2% no ano passado, quando o petróleo subiu 54%. Agora, quando a commodity já registra alta de 45% no acumulado de 2022, a tendência é de que as empresas elevem o preço das passagens e tenham de reduzir suas operações para atravessar o período turbulento.
A Latam, por exemplo, já admitiu que os passageiros terão de arcar com a alta do combustível. Em nota, afirmou que o impacto nos custos das companhias em decorrência da guerra na Ucrânia é "inegável" e que a alta do preço do querosene da aviação afetará o valor das passagens, diante "desse novo cenário de crise sem precedência e previsibilidade." A Azul afirmou que a alta do QAV poderá adiar a retomada da oferta de voos e a Gol não se pronunciou por estar em período de silêncio antes da divulgação de seu balanço financeiro.
 
A Latam anunciou que a operação de novas rotas - previstas para o primeiro semestre do ano - foi adiada para depois de julho. Analistas do setor acreditam que esse movimento pode ser apenas o início de uma série de medidas que reduzirão, novamente, o porte das companhias. Como o mercado aéreo é bastante elástico em relação ao preço - isto é, qualquer aumento nas tarifas reduz o número de viajantes -, esse repasse diminuirá a demanda por voos.
 

Demanda menor

Algumas rotas podem ficar inviáveis financeiramente com um menor número de passageiros. O problema é agravado porque a elasticidade-preço (cálculo porcentual da demanda por um serviço quando há alteração de preços) é maior no setor de turismo. "Não tem como as empresas não repassarem, porque a margem do setor é muito apertada. Aí a solução será reduzir a oferta e ficar apenas com os voos mais rentáveis", afirma o consultor André Castellini, sócio da Bain & Company.
 
O analista de transportes Pedro Bruno, da XP, destaca que, com o cenário atual, o repasse de preços é a única opção das aéreas. Ele pondera, porém, que a redução da oferta dependerá da disciplina das companhias. Antes da crise de 2016, as aéreas fizeram uma guerra de preços para atrair a clientela. O resultado foi uma crise financeira no setor que colocou, principalmente, a Gol em situação delicada. "Os períodos de crise, porém, costumam trazer essa disciplina. Vimos isso na pandemia, quando as empresas reduziram as operações drasticamente", diz.
 
Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), o cenário de alta do petróleo poderá "frear a retomada da operação aérea, o atendimento logístico a serviços essenciais e inviabilizar rotas com custos mais altos." O presidente da entidade, Eduardo Sanovicz, criticou a política de preço da Petrobras. "Ela criou uma situação em que consumidores e sociedade não podem bancar (os combustíveis)."
 
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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