Um dos mais icônicos edifícios do Bairro do Recife, localizado no número 200 da Avenida Marquês de Olinda, está disponível para locação.
O prédio de 1.000 m² já abrigou os consulados de vários países e foi a sede do Banco Nacional do Norte S. A. cuja marca era (e ainda é) suas portas de cinco metros em cobre que abriam às 9 horas.
O edifício de quatro andares tem entrada pela Rua Álvares Cabral também com o número 200, com elevadores e um estilo de construção que permitiu ao banco colocar seu cofre de aço inoxidável. O preço do aluguel é 18 R$ mil. Não existem interessados até agora.
Para ele e para diversos prédios (18 estão sendo oferecidos na mesma rua) que já abrigaram as sedes dos Bancos Industrial de Pernambuco, Banco do Povo além de várias instituições, entre elas a sede da Caderneta de Poupança Banorte cujo prédio na Rua Madre Deus, 126, também está para locação.
Estão também vazios os prédios da antiga agência dos Correios na mesma rua e do edifício BIG ES restauração há mais de oito anos. Também está tapumado o prédio do Edifício Chanteclear que faz parte do complexo do shopping Paço Alfândega.
O Bairro do Recife vive uma situação curiosa. Tem uma política de localização de empresas na área de TI com redução de ISS de 5% para apenas 2% instituída pela Prefeitura do Recife; mais de 400 empresas com endereço no bairro, mas sem que efetivamente, os empregados trabalhem ali.
Um grande número as empresas adota a estratégia de um endereço registrado na Junta Comercial de Pernambuco no Bairro do Recife, mas localiza os seus funcionários noutros bairros da cidade.
Isso não quer dizer que o bairro não atraia gente. Na verdade, segundo o presidente do Porto Digital, Pierre Lucena, mais de 12 mil pessoas trabalham em empresas ali instaladas. E um grande número está instalado em prédios como o edifício sede do Porto Digital, que foi sede do antigo Bandepe, onde apenas um andar está disponível para locação. Mas há, de fato, um vazio muito grande.
Lucena adverte que as empresas do Porto Digital não vão mesmo ocupar todos os prédios, mas lembra que uma boa parte deles tem problemas.
Ele cita o caso do edifício onde foi o Banorte. Ele tem apenas 1mil m², pé direito alto e só pode ser ocupado por uma única empresa. Isso exige que seja uma companhia de porte, pois além do aluguel tem as despesas de segurança e condomínio.
Para ele, esse é o caso de um número grande de prédios. Isso sem falar nos que para serem habitados exigem a restauração de acordo com as exigências do Iphan. Para ele isso faz com que cada prédio desse tamanho exija um projeto único.
Isso não quer dizer que não existam espaços disponíveis de qualidade no Porto Digital. Existem e com preços acessíveis às empresas.
O presidente do Porto Digital avalia que em alguns casos a atividade fim de TI não sustenta mesmo ocupar um prédio desses. São os casos dos belíssimos edifícios do Marco Zero que foi o Centro Cultural do Santander e o outro dos Correios vizinho ao prédio do Banorte. Nesses casos é necessário estar ali outra atividade.
O desafio do Bairro do Recife é semelhante ao do bairro de Santo Antôniob embora a ilha tenha situações mais atrativas. O ideal de todos os analistas é que o Bairro do Recife seja residencial. Mas não existem ainda condições de transformações de prédios que foram concebidos há mais de 60 anos como comerciais para se transformar em residências.
Para o presidente do Conselho de Administração do Porto Digital e do CESAR, Silvio Meira “uma das coisas que mudaria o estado do território inteiro seria a decisão dos empreendedores imobiliários do Bairro do Recife investir nas suas propriedades e prepará-las para as demandas das empresas de tecnologia."
O problema é que são poucos, ainda. O Grupo Excelsior, por exemplo, decidiu investir na restauração do antigo edifício na rua em frente a sua sede, onde hoje funciona um grande cowork sobre um agradável café.
O Secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Recife, Rafael Dubeux, lembra que a pandemia da covid-19 fez com que muitas empresas no mundo todo migrassem para o sistema home office de trabalho no momento mais crítico, assim como aconteceu com as embarcadas no Porto Digital.
Porém, com a melhora nos indicadores epidemiológicos da cidade, segundo Rafael Dubeux, a Prefeitura vem observando sensíveis sinais de retomada da ocupação dos imóveis e das atividades no Bairro do Recife.
Ele revela uma mudança de atitude da Prefeitura sobre imóveis onde os proprietários não contribuem. Segundo ele, a Prefeitura do Recife iniciou desde o ano passado o projeto-piloto de Arrecadação de Imóveis e identificou 14 imóveis com características de abandono e que estão sendo submetidos a processos administrativos. Ao menos 10 deles, sendo convocados para regularizar a situação fiscal e tributária dos espaços.
Na verdade, além desses endereços existem grandes prédios para serem ocupados, mas isso não está acontecendo. Mesmo antes da pandemia havia áreas para locação e venda sem procura. Na pratica, apenas a Prefeitura, o Tribunal Regional do Trabalho e o Tribunal Regional Federal (TRF%) ocupam de fato seus espaços.
A pandemia mudou a ocupação para baixo. Empresas como a Accenture reduziram a um terços a área que ocupavam os galpões do Projeto Porto Novo. A companhia que ocupa mais de 3 mil m² está se preparando para voltar a operar no Bairro do Recife presencialmente.
Apesar desse vazio há indicativos de grandes investimentos no Bairro exatamente para local e para residência como o projeto de apartamento nos 12 silos do antigo Moinho Recife vendidos pela construtora Moura Dubeux em apenas uma semana. E o empreendimento mais arrojado o projeto
O Moinho Recife Business & Life fica localizado na Rua São Jorge, Bairro do Recife, e teve as obras iniciadas no começo deste mês de agosto, sem alarde. O projeto seria um empreendimento de R$ 80 milhões.
A recuperação do antigo moinho segue o conceito retrofit, que consiste na modernização de áreas antigas com a preservação de características da construção original.
Ao todo, o complexo multiuso abrigará 52 mil m² distribuídos em seis blocos, ocupando a estrutura física existente do antigo Moinho Recife, contando com hotel e apartamentos residenciais em suas próximas etapas.
A expectativa dos empreendedores é que sejam gerados de 800 a mil empregos diretos e indiretos durante a construção; e 2,4 mil empregos quando o complexo estiver concluído.
O Moinho Recife Business & Life está na área de abrangência do Porto Digital que conta com incentivos fiscais, cerca de 10.000 colaboradores, em mais de 320 empresas.
Os antigos silos do moinho de trigo no centro do Recife (PE), que existem desde 1914, ganharam revitalização e nova função com o Projeto Moinho Recife Business & Life, criado a partir de uma parceria entre a Revitalis Incorporações e a construtora Moura Dubeux.
As obras do projeto Moinho Recife Business & Life, que fica em frente ao Porto do Recife, entraram na segunda etapa, onde os silos serão transformados em dois edifícios residenciais. O Comitê Executivo da Revitalis, formado pela família Moura e membros das famílias Tavares de Melo e Petribú, está investindo R$ 80 milhões na primeira parte do projeto, já em andamento.
O Moinho Recife está desativado desde 2009, agora, com o projeto, está sendo totalmente recuperado, mantendo as características originais do imóvel, que começou a funcionar há mais de 100 anos.
Além do retrofit, para o desenvolvimento do projeto, foram aplicados conceitos importantes como o de utilização multiuso de um empreendimento, além da inovação e interação ente as pessoas.
Em novembro do ano passado, a Prefeitura lançou o Programa Recentro, que visa revitalizar os bairros do Recife, São José e Santo Antônio.
Mas parece claro que não basta o poder público facilitar a tributação. Sem que o mercado imobiliário identifique novas opções e encontre soluções que permitam o poder público impulsionar ocupar o bairro do Recife vai continuar sendo um enorme desafio.