Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Consumidor de energia vai pagar usina térmica mesmo com reservatório cheio

A Usina Termelétrica de Cuiabá (UTE) Mário Covas gera, em média, 480 megawatts de energia elétrica ao dia

Fernando Castilho
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Publicado em 19/05/2022 às 12:25
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POTÊNCIA Usina Termelétrica de Cuiabá Mário Covas gera, em média, 480 megawatts de energia elétrica ao dia - FOTO: DIVULGAÇÃO
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Um dia antes do Tribunal de Contas da União (TCU) realizar sua sessão onde autorizou a capitalização da Eletrobras, uma reunião ordinária da Diretoria da Aneel aprovou o pedido da empresa Âmbar Energia S.A., dona da usina termelétrica Mario Covas, no Mato Grosso, para manter o fornecimento de energia elétrica conforme o seu Contrato de Energia de Reserva, celebrado no auge da crise energética do ano passado. Naquela época, o governo aceitou pagar a Receita Fixa Unitária de R$ 1.761,30 por cada MWh gerado.

Seria perfeitamente justificável se o Brasil ainda vivesse, como viveu em 2021, uma grave crise hídrica, que quase nos levou a um racionamento. Embora tenha estourado os preços cobrados ao consumidor final, através de bandeira vermelha e bandeira vermelha especial, que agregou até R$ 14,09 para cada 100 MHh ao consumidor.

Mas essa não é mais a realidade do nosso sistema elétrico, no qual os nossos reservatórios acumulam, segundo o Operador Nacional de Sistema Elétrico (NOS), água suficiente para gerar astronômicos 291,2 milhões de megawatt/mês em função da quantidade de energia (água) acumulada nos reservatórios.

CHESF/DIVULGAÇÃO
PLUVIOMÉTRICO Cenário levou o maior reservatório do Nordeste à totalidade de sua capacidade, vertendo uma vazão de saída, atualmente, de 3.000 metros cúbicos por segundo - CHESF/DIVULGAÇÃO

Como se sabe, essa água faz parte de um grande sistema de barragens e usinas hidroelétricas que geram energia limpa a um custo médio de apenas R$ 206,03 MWh, que é o Preço Médio da Energia Hidráulica (PMEH) praticado a partir de 1º de janeiro de 2022. É a energia que empresas como a Chesf entregam ao ONS em contratos de longo prazo.

O reconhecimento pela Aneel do direito das empresas Âmbar Energia S.A., SPE EPP II Centrais Elétricas Ltda. e SPE EPP 2 Itaguai Energia Ltda, donas da termelétrica Mario Covas, mostra como as coisas no setor elétrico são ajustadas.

E como, mesmo quando o ONS busca preços menores para entregar energia, nem sempre consegue. Porque tudo é muito bem ajustado de contrato.

E, por contrato, a termelétrica Mario Covas, que deverá operar com Custo Variável Unitário (CVU) de 616,03 R$/MWh sempre que ficar parada como reserva de capacidade de geração, agora vai receber R$ 1.761,30 por MWh quando o ONS mandá-la gerar energia em tempo integral.

De fato, o que ele conseguiu com a Aneel foi que, mesmo com os reservatórios cheios, deverá funcionar e entregar a sua energia movida a gás natural por R$ 1.761,30 por MWh.

A Usina Termelétrica de Cuiabá (UTE) Mário Covas gera, em média, 480 megawatts de energia elétrica ao dia, graças ao fornecimento de gás natural vindo da Bolívia. Ano passado, ela venceu o leilão de contratação de energia firme, com o preço de 1.594,84 R$/MWh.

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A autorização da Aneel é vista como um alerta no setor porque, em tese, todas as demais empresas que o Governo Bolsonaro contratou em regime de emergência, ano passado, podem, em tese, exigir o mesmo direito.

E porque a razão dessa decisão da Aneel foi reconhecer o Contrato de Energia de Reserva (CER), onde está definida a obrigação de entrega horária e que a “inflexibilidade contratual” devem permanecer as mesmas definidas originalmente no respectivo documento.

Para se ter uma ideia, ano passado a estimativa de contratação desses contratos era de que eles deveriam agregar mais R$ 39 bilhões aos custos de energia nas cobranças dos brasileiros.

E demonstra o que o consumidor pode esperar nos próximos anos, inclusive com a privatização da Eletrobras.

No Brasil, segundo o ONS, a movimentação financeira no setor elétrico é da ordem de R$ 280 bilhões por ano, sendo R$ 160 bilhões correspondentes ao Ambiente de Contratação Regulada (ACR), onde estão Chesf e outras estatais, e R$ 120 bilhões correspondentes ao Ambiente de Contratação Livre (ACL).

A conta inclui as despesas fixas – como encargos de uso do sistema de transmissão (da ordem de R$ 2 bilhões/mês) e pagamentos de receitas fixas associadas a contratos por disponibilidade e chamada Reserva de Capacidade, onde se coloca a compra de usinas como a termelétrica Mario Covas.

Segundo o ONS, em março houve redução de 25% nos custos com geração térmica em relação ao mês de fevereiro/22: R$ 1,9 bilhão para R$ 1,4 bilhão e, pelo quinto mês consecutivo, não houve necessidade de despachar uma usina térmica por motivos extraordinários.

Agência Petrobras
Dutos da unidade de processamento de gás natural no pólo industrial de Guamaré - Agência Petrobras

Isso se deve, essencialmente, porque o Brasil tem muita água armazenada para gerar energia hidráulica. O Subsistema Sudeste / Centro-Oeste, por exemplo, tem energia armazenada de 66,69%. E o Subsistema Nordeste, tem 95,30%

O Subsistema Sudeste é chamado de a “Caixa d’água do Brasil” pelo que pode gerar de energia limpa. É lá onde ficam os reservatórios de Furnas, Ilha Solteira e Três Marias. No Subsistema Nordeste, é onde está o reservatório de Sobradinho, que hoje tem 100% de seu volume útil.

Teoricamente, com essa situação, o Brasil não precisaria gerar um megawatt de energia térmica. E ele está fazendo isso. Nesta quinta-feira, as hidrelétricas geraram 61,23 médios, dos 65,92 MW médios usados no Brasil.

Mas como ficou definido pela Aneel, a partir de agora, nessa conta terá que ser acrescido aos 6,59 MW médios que hoje o ONS, a energia produzida pela térmica Mario Covas do Mato Grosso, e que o consumidor vai pagar na sua conta mensal de energia em breve.

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Fachada de um prédio da Eletrobras. - REUTERS/Pilar Olivares/Direitos Reservados

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