Aconteceu de novo. Paulinho da Força foi levar o apoio do seu partido Solidariedade à campanha do presidente Lula e foi vaiado pela militância. Há duas semanas, o ex-governador Geraldo Alckmin também levou uma vaia ao ser apresentado como candidato a vice-presidente da futura chapa do ex-presidente, que concorre a um terceiro mandato.
Tem sido um comportamento curioso o dos apoiadores e militantes do PT que parecem não entender que, num confronto bipolar como o que se apresenta com o presidente Jair Bolsonaro, o prestígio de Lula não junta toda a oposição contra aquilo que cientista político Antônio Lavareda chama de incumbente.
Esta semana, o candidato do PT conversou com o presidente e fundador da XP Investimentos e a militância digital do PT "desceu o cacete" em cima do empresário.
Esse comportamento juvenil da militância do PT tem ao menos 40 anos de atraso, quando o PT se dizia puro e não fazia aliança com ninguém. O PT votou contra o Real, que anos depois fez o próprio Lula surfar na maior onda internacional que um presidente brasileiro já teve.
Tem sido um exercício do presidente conversar com empresários formadores de opinião que preferem conversas rigorosamente fechadas e sem fotografias.
Talvez os militantes acreditem que os problemas que Lula vem tendo para costurar apoios seja um equívoco e que o prestígio e perspectiva de poder de uma eventual vitória faça todos os atores econômicos virem para o PT espontaneamente, aceitando ser criticado abertamente, agora na arena virtual.
É verdade que a atual colocação nas pesquisas pode dar aos militantes a certeza de que o ex-presidente seja eleito talvez no primeiro turno. É natural o militante político se comportar como o torcedor fanático que não vê os acertos do adversário e só enxerga as virtudes de seu time.
As vaias ao Solidariedade, assim como ao PSB, passam a ideia de que estar no palanque de Lula é saber que terá que passar pelo constrangimento de não ser bem recebido, quando se vai emprestar apoio.
Talvez porque esteja em moda entre os jovens a cultura do cancelamento, que faz milhões deles não assumirem politicamente suas preferências nas redes sociais.
Se os militantes vaiam os dirigentes partidários do PSB e do Solidariedade, como vão reagir quando Lula precisar conversar com outras forças políticas?
O grande líder do PSB, Miguel Arraes, consumava dizer que na política só se faz aliança com adversários porque os apoiadores já estão com a causa.
E aqui para nós, faz tempo que o ex-presidente Lula segue Arraes nesse tipo de atitude política. Aliás, só tem feito isso desde que divulgou a chamada "Carta aos brasileiros".