Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Discurso de Lula sobre economia passa sensação de que ele pensa que o País ainda roda como em 2010

Quem decidiu emprestar a empresas a juros subsidiados foi o seu governo, que pediu dinheiro a 12% ao ano e emprestou a 3% a.a.

Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 27/07/2022 às 15:20 | Atualizado em 27/07/2022 às 16:49
Lula comGeraldo ALkimin no Recife. - GUGA MATOS/JC IMAGEM

Com todo respeito que o ex-presidente Lula merece, até pela condição de líder nas pesquisas, mas o seu discurso sobre o que pensa da economia passa uma perturbadora sensação de que ele pensa que a economia brasileira ainda “roda” como em 2010.

Na sua entrevista ao UOL, Lula fala e constrói linha de raciocínio do mesmo jeito que deixou o País quando o entregou a Dilma Rousseff. Poucas palavras sobre como se comportam atores econômicos 12 anos depois que ele saiu do governo. Até as frases parecem ser a mesmas.

O problema é que quando fala de temas como BNDES, Petrobras, Portal da Transparência e Programa de Aceleração do Crescimento, Lula diz querer retomar as ações antigas.

E mesmo quando fala da corrupção, Lula fala como se não fosse um ator importante. Como se empresários, empresas e políticos estivessem atuando sem que as instituições que diz ter ajudado a criar não estivessem envolvidas até serem descobertas pela investigação.

"A corrupção só aparece quando tem liberdade, quando tem possibilidade de investigação. O PT criou o Portal da Transparência, criou a Lei do Acesso à Informação, o PT nunca fechou porta para investigação, criamos a delação premiada", argumentou Lula.

Não, ex-presidente. A corrupção aparece quando agentes públicos permitem que ela seja perpetrada. E, salvo nas ditaduras, a investigação independe da liberdade. Por esse raciocínio, devemos inferir que a Operação Lava Jato foi uma consequência de instrumentos como o Portal da Transparência e da Lei de Acesso à Informação.

Isso é uma enorme distorção dos fatos. E o PT não ajudou em nada nesse processo. Até porque parte de seus lideres viraram réus.

Mas o fato mais preocupante é sim a questão de sua visão de mundo em 2022, especialmente quando diz que vai trabalhar para que empresa não mais atue "para agradar aos acionistas em detrimento de brasileiros" e quando diz que fará mudanças para que o preço seja calculado em função dos custos nacionais "porque produzimos em real, pagamos salário em real".

Bolsonaro pensa e até já atua igualzinho embora não construa seu raciocínio dessa forma.

O presidente esquece quando ele mesmo fez a capitalização da empresa, a segunda maior do mercado, trouxe os acionistas internacionais e brasileiros para o quadro de acionistas.

O que talvez não saiba é que sendo listada na NYSE mudanças que prejudiquem como esse seu pensamento a rentabilidade dos acionistas eles vão acionar a empresa nas cortes americanas, e não aqui no Brasil, inclusive por brasileiros. Quanto ao argumento de que “produzimos em real” alguém precisa dizer que a Petrobras é a maior importadora máquinas e equipamentos do Brasil, aliás pagos em dólar.

É importante não achar que a Petrobras é uma estatal ingovernável. Primeiro, ela não é uma estatal, mas uma empresa de economia mista. Segundo, ela pode fazer com que tenha uma atuação social na medida em que os seus lucros e dividendos sejam direcionados para ajudar na redução de preços quando em tempos de alta exagerada do preço do barril de petróleo.

Mas isso exige uma atitude do acionista que tem o controle decidir gastar isso com o consumidor. Coisa que Bolsonaro nunca fez e embolsou os resultados enquanto criticava a empresa como instrumento de campanha eleitoral.

O problema de Lula é que ele perece atuar como ser analógico quando o mundo é digital. Como imigrante digital, ele precisa saber que o mundo mudou, especialmente o corporativo.

Quando diz que vai fazer que o BNDES seja 'emprestador' de dinheiro para pequenos e médios empreendedores. Não apenas emprestar para grandes empresas o presidente parece esquecer a história.

Ora, quem decidiu emprestar as grandes empresas foi ele mesmo. E de uma forma de campões nacionais.

Grandes empresas tomam naturalmente dinheiro no BNDES porque oferecem garantias e pagam as taxas de juros de mercado.

Quem decidiu emprestar a empresas a juros subsidiados foi o seu Governo que pediu dinheiro a 12% ao ano e emprestou a 3% a.a.

Quando a pequenos e médios empresários. Poderia dizer que o BNDES será um grande gestor de fundos de aval que assume a garantia para quem não tem garantia para dar como aliás se faz hoje no Pronampe.

No seu governo, o BNDES simplesmente nem atuava nesse segmento diretamente.

Talvez o grande problema de Lula seja achar que ainda pode atuar como em 2012 e usando os mesmos instrumentos. Ele quando fala assim despreza todo o avanço de Dilma, Temer e Bolsonaro na melhoria de processos e de gestão do setor público. E ele pode fazer coisas muito boas se entender os novos processos.

Ele pode ajudar muito se decidir com os governadores ter ações diretas de combate a fome. Gastar dinheiro para as pessoas comprarem comida ao menos em 2023.

O que Lula parece não entender é que o estrago que Bolsonaro fez na vida de um terço da população foi a destruição de uma de suas maiores conquistas: tirar o Brasil do Mapa da Fome.

Lula não precisa ser especialista em Metaverso para fazer isso. Até porque as pessoas que precisam comprar comida hoje são bem reais.

Tags

Autor

Webstories

últimas

VER MAIS