Investigação da repórter Adriana Guarda mostrou que entre 2019 e 2021 Pernambuco foi o Estado em que a pobreza mais cresceu no Brasil, com taxa de 8,14%.
O dado também é comprovado pelo Mapa da Nova Pobreza, divulgado pela FGV Social, que aponta que são 1,6 milhão de pessoas vivendo com uma renda de, no máximo, R$ 497 por mês.
O quadro dramático já pode ser percebido na arrecadação de ICMS, indicando que a população está comprando menos alimentos, o que acaba se refletindo na arrecadação de impostos.
Embora ainda não estejam disponíveis os números por segmento relativos ao período janeiro - julho de 2022, uma busca nos números de arrecadação de ICMS informados pelo Estado ao Confaz indicam que a questão da fome já é um fato econômico.
O quadro em Pernambuco não é muito diferente do Brasil, e os números do comércio atacadista tiveram crescimento de 11,75% comparado a 2021.
No comércio varejista - onde, em Pernambuco, o segmento de alimentos é mais importante - o crescimento de 9,24% mostra o impacto que a queda de renda já reflete na arrecadação.
Comparando-se os sete primeiros meses de 2021 sobre 2020 no comércio varejista, pode-se ver que o crescimento foi de 22,64% (de R$ 1,84 bilhão para R$ 2,25 bilhões) puxado, essencialmente, pelo segmento de alimentos.
Esse crescimento já reflete o pagamento do Auxílio Emergencial de R$ 600, o que acabou turbinando o crescimento de alimentos nos atacarejos.
O mesmo aconteceu com o setor de atacado, onde no mesmo período o crescimento foi de 20,93%, saindo de R$ 2,25 bilhões em 2020 para R$ 2,72 bilhões em 2021.
Segundo o relato de Adriana Guarda, Pernambuco também está no topo do ranking do desemprego.
Em 2021, o Estado registrou a maior taxa do Brasil, com quase 20% (19,9%) da população em idade para trabalhar sem emprego. A desocupação ficou bem acima da média nacional, de 13,2%.
A taxa de informalidade, que já é bastante alta no Estado, continuou crescendo, passando de 52,1% para 52,6% das pessoas ocupadas.
Isso quer dizer que, além do desemprego, metade das pessoas empregadas está na informalidade, sem proteção social e, consequentemente, mais vulneráveis.
Cesta básica cara
Em julho, a cesta básica de 12 itens acompanhada pelo Dieese alcançou, pela primeira vez no Recife, a casa dos R$ 600, sendo vendida por R$ 613,63.
O preço, inclusive, superou o valor de R$ 600 do Auxílio Brasil, que o governo federal acabou de reajustar e começou a pagar neste mês de agosto.
Segundo dados da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), em junho de 2022, o consumo no Lares Brasileiros em valores reais, deflacionadas pelo IPCA/IBGE, apresentaram alta de 0,10% na comparação com o mês imediatamente anterior (Mai/22) e alta de 6,03% em relação ao mesmo mês do ano de 2021 (Jun/21).
Ainda segundo o IBGE, o consumo de alimentos no domicílio já subiu 11,94% em 2022. O problema é que, este ano, o preço do feijão mulatinho subiu 35,86%, o preço do macarrão subiu 16,17% e o floco de milho, 9,07%. Até a farinha de mandioca subiu 13,99%.
Nos primeiros sete meses do ano, o segmento de comércio atacadista, onde estão alocadas as vendas de alimentos pelos distribuidores a nível nacional, revela um crescimento de apenas 7,49% de janeiro a julho, o que aponta para um número real bem pequeno, já que, segundo o IBGE, nos primeiros seis meses a inflação acumulada chegou a 5,49%.
Em 2021, o segmento de atacado cresceu 20,35% nos 12 meses, num comportamento bem diferente de 2022. Em julho último, a arrecadação do ICMS no segmento de atacado pela primeira vez e vários anos foram bem menores que o mês de julho de 2021.
Tem mais: no comércio varejista, o quadro não é muito diferente. O crescimento de 10,95% embute um número que, descontado a inflação, é bem inferior aos anos anteriores.
E como aconteceu no comércio atacadista, a arrecadação do ICMS em julho (R$ 5,89 bilhões), quando também foi menor que em julho de 2021 (6,23 bilhões).
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