Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Política, raquel lyra, Marília Arraes

O que impressiona os eleitores de Raquel e Marília na hora do voto? A gestora, a gerente ou a política

As candidatas Marília Arraes e Raquel Lyra nasceram de famílias de políticos como Miguel Arraes e Fernando Lyra

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Fernando Castilho

Publicado em 28/10/2022 às 21:00 | Atualizado em 28/10/2022 às 22:52
Raquel Lyra (PSDB) e Marília Arraes (SD) - RENATO RAMOS/JC IMAGEM

Independentemente de quem o cidadão, eleitor e contribuinte escolher para governar Pernambuco neste domingo, a série de debates e sabatinas proporcionou - a quem se dispôs a ouvir ou assistir na TV e na internet - um importante conjunto de informações sobre o que pensam e como pretendem atuar à frente do poder executivo do Estado, numa eventual eleição, as candidatas Marília Arraes e Raquel Lyra.

Pernambuco terá a oportunidade de poder escolher entre duas candidatas que nasceram e viveram sempre dentro do ambiente da política. E as duas no campo da esquerda, quando seus antepassados estavam lutando pela redemocratrização e, naturalmente, sofreran influência direta de personagens como Miguel Arraes e Fernando Lyra.

Isso permite dizer que não vamos escolher entre duas neófitas e, muito menos, entre duas jovens que desde a adolescência não estiveram enfurnadas nas conversas em voz baixa e presenciais realizadas em lugares longe dos gabinetes oficiais, onde se decidia as ações que seriam oficialmente anunciadas mais tarde. Elas cresceram falando e vivendo de política.

Portanto, as duas são animais políticos. E isso abre para os pernambucanos uma extraordinária oportunidade de mudança de atitudes do personagem governador.

Curiosamente, por não ser político profissional, o governador Paulo Câmara entrou no debate do segundo turno como alvo das duas, exatamente por ter feito o certo na gestão do caixa. Mas também por não ter feito mais, além disso, na sua gestão de oito anos. Resumindo: Paulo esqueceu a política.

A história das administrações de Pernambuco, certamente, terá que registrar a personalidade do gestor que durante seis dos seus oito anos precisou cuidar de reorganizar financeiramente o Estado, pagando as contas de Eduardo Campos. E esse fato foi central para as duas candidatas nos seus embates, quando não destacaram os aspectos administraivos positivos de Paulo e cobraram resultados.

Elas têm razão. O que Paulo Câmara não fez foi se preparar para ter um legado político como tocador de obras nos dois anos que lhe restavam. Talvez por não ter a política como profissão. O que se fez de estrada pelo gestor foi com o cuidado de não começar nenhum obra que já não tivesse como pagar. Ele agora está pagando caro por isso.

O equívoco (ou opção política) do governador foi não ousar no tempo que lhe restava. O temor de ficar sem caixa para pagar suas próprias ordens de serviço, ao menos agora, travou sua trajetória de futuro como politico de carreira. Embora isso não signfique que ficará assim para sempre.

E isso pode ser materializado na célebre diretiva da equipe em determinar que não começasse nenhuma obra enquanto não tivesse os recursos em caixa. Ora, nenhum político profisisonal agiria assim. Esse é comportamento típico de gestor - jamais de alguem que deseja ficar na política.

De certa forma, essa norma foi muito além de uma outra diretiva bem conhecida em Pernambuco e pronunciada, pelo então governador, Roberto Magalhães, que se recusava a tomar empréstimos porque só queria fazer obras com o “dinheiro azul e branco”.

O debate entre Marília e Raquel nos dará a oportunidade de decidir entre uma governadora que, reconhecidamente, nunca teve à frente de um órgão executivo de grande porte, e uma que dirigiu a segunda cidade mais importante do Estado.

O que podemos observar - não no último debate desta quinta-feira, na TV Globo-, mas em todos os demais debates e sabatinas - maioria feitos no Sistema Jornal de Comercio de Comunicação - foi uma aposta de 100% de suas fichas políticas por Marília Arraes com o argumento de que o diferencial em um Governo não é apenas gestão.

Porque, como ela disse, um gerente se contrata. O que conta para um líder político é a capacidade de articulação no cenário nacional e até internacional. E isso quem tem que ter é a governadora.

Em certa forma, o discurso de Marília Arraes centrou-se na sua visão de mundo, a partir da política. O que, aliás, também era uma marca de Eduardo Campos.

O problema é que Marília Arraes precisou enfrentar o fato de que Raquel Lyra também pensa na política como ferramenta de gestão, e assim o fez à frente da prefeitura de Caruaru.

O embate se deu com Raquel afirmando que estava mais equipada para ser governadora porque tinha tido a oportunidade de já ter sido testada num cargo Executivo numa prefeitura cujas demandas são de grande porte.

Se isso se constituiu no fator de decisão do eleitor, saberemos neste domingo.

Mas pela primeira vez em muitos anos teremos a oportunidade de comparar personagens que estavam niveladas no campo da política. A quem entenda como prática honesta e responsável.

O que diferenciou Raquel de Marília no embate foi o fato de ela ter a vantagem de poder afirmar que, assim como sua adversária, ela também era da política e que, como ela, também saiu da infância para adolescência ouvindo esse tipo de conversa.

De certa forma, isso acabou beneficiando Raquel no sentido de, após nivelar-se no embate da política, pôde dizer que tinha experiência prática.

Ao longo da série de confrontos, enquanto Marília radicalizou no discurso de que ela, através da política, decidiria que gerente contratar para fazer um governo revolucionário, especialmente no campo social, Raquel pôde confrontá-la afirmando que, também, iria decidir da política sua futura gestão, embora com o background de sua experiência de Caruaru.

Isso pôde ser percebido quando a ex-prefeita de Caruaru chegou para a conversa de campanha com um projeto de Governo pronto e detalhado. Enquanto Marília insistiu no argumento de que, primeiro seria necessário definir os conceitos e os objetos centrais, e só depois tratar da execução.

Na série de debates, naturalmente, Raquel pôde se sair melhor, exatamente, porque sabia detalhes dos processos e poderia definir o que poderia prometer.

Isso não aconteceu com Marília Arrraes, que se propôs a falar em promessas de alto custo como, por exemplo, R$ 1 bilhão apenas para ações de apoio a pessoas com vulnerabilidade alimentar.

Num dos debates (realizado na Fiepe), por exemplo, enquanto Marília não teve qualquer dúvida em afirmar que eliminaria programas de incentivos fiscais que estavam tirando a competitividade das empresas, Raquel disse que, primeiro, seria necessário fazer contas.

Essas diferenças se repetiram com outros temas onde a preocupação administrativa de Raquel com processos e custos se contrapôs ao dicursso mais geral de Marília.

Claro que por terem sido registrados no TRE, os programas de governo de ambas poderão ser consultados. Mas o que podemos assistir nos embates das candidatas ao posto de governadora é que existem propostas bem semelhantes. O que não significa dizer que todas serão cumpridas em apenas quatro anos.

Até porque, até agora, nenhuma das duas avançou na concepção de um projeto de governo mirando o longo prazo. O que nos permite ter a expectativa de que, quem seja a vencedora, ainda poderá ser apresentado aos pernambucanos isso - já que o gestor Paulo Câmara deixou as contas em dia. 

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