João Campos tinha menos de 20 anos quando perdeu seu pai num trágico acidente de avião, no dia 13 de agosto de 2014. Naquele dia, perdeu também seu mentor político. Menos de cinco anos depois, também perdeu seu tio (que tinha virando uma espécie de conselheiro), João Henrique Carneiro Campos cujo nome herdara numa homenagem de seu pai.
Ele precisou completar sua formação com políticos do PSB, sob o olhar vigilante da mãe, Renata Campos que nunca escondeu ter visto nele, o destino de completar a missão do marido interrompida pelo desastre em Santos (SP). João Campos virou deputado federal sem muitas dificuldades obtendo 460.387 votos dados pelos pernambucanos como um último tributo ao governador Eduardo Campos.
Mas ele não repetiu a mesma votação, em 2020, quando precisou disputar o segundo turno da eleição para a Prefeitura do Recife com a prima Marilia Arraes obtendo 447.913 votos, que representaram 56,27% dos válidos. Talvez porque o eleitor só paga gratidão a politoco uma vez.
O que os números frios daquela disputa já mostravam foi esforço desesperado do PSB para não perder a eleição para o PT, onde Marilia Arraes estava abrigada. Mas eles prenunciaram o desastre da eleição de 2022 quando o candidato do PSB de João Campos, Danilo Cabral não foi para o segundo turno.
João Campos virou, de fato, a única liderança no Estado do partido fundado por seu bisavô, Miguel Arraes, que se tornara uma força politica nacional importante e que governou o estado de Pernambuco por 16 anos. Embora, a cada eleição fosse minguando depois da perda de Eduardo Campos.
Prestes da completar 30 anos, João Campos sabe que a saída de Paulo Câmara do partido, nesta quinta-feira (26) e o distanciamento total do PSB de Geraldo Júlio a quem sucedeu, o obrigam a fazer um administração impactante à frente da Prefeitura do Recife, sob pena de sair precocemente da vida pública, ao menos por dois anos, quando poderia tentar um movo mandato.
O problema de João Campos é que seu partido vem sofrendo aquilo que na metalurgia se chama fadiga de material devido a duas administrações medíocres dos nomes escolhidos por seu pai para a prefeitura do Recife e, a seguir, para o Governo do Estado, meses antes de morrer.
Geraldo e Paulo foram tocando a máquina com milhares de cargos. Mas todos no PSB sabiam que a eleição de João para a Prefeitura custara caro demais para o partido que precisou "fazer o diabo" para derrotar Marilia Arraes.
A conta veio em outubro do ano passado, com exclusão do PSB do segundo turno, e agora João Campos lidera sozinho, no seu Estado, um partido que concretamene teve uma deferência especial do presidente Lula para com o prefeito.
Talvez pelo que Eduardo Campos fez por ele no Congresso na crise do mensalão quando o então deputado, ao lado de Aldo Rebelo discretamente costurou uma competente articulação a favor do presidente após as denúncias de compra de votos dos deputados.
A história não registra devidamente a atuação de Eduardo Campos e a discrição e honestidade política de Aldo Rebelo o impede de propagar o trabalho de ambos fizeram, gabinete por gabinete, naqueles dias difíceis em junho de 2005 quando Lula pôde contar mais com a capacidade de articulação dos deputados do PSB e do PCdoB para ajudar a salvar seu governo do que o próprio PT.
A história pode não destacar essa articulação, mas Lula nunca esqueceu o papel do deputado pernambucano e, talvez por isso, venha demonstrando tanto carinho com João Campos. Prova disso é a indicação do secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação do Recife, Rafael Dubeux, para o ministério da Fazenda e do ex-presidente de Suape, Roberto Gusmão para o secretaria-executiva do ministério dos Portos liderado por Márcio França.
O problema de João Campos é que, por motivos que ainda sabemos exatamente, não ajudou nas pretensões de Paulo Câmara de ocupar um cargo em nível federal no novo governo Lula.
E isso depois de Paulo Câmara, como vice presidente do PSB, liderar pessoalmente a recepção de Geraldo Alckmin no partido para que ele fosse candidato a vice-presidente na chapa vitoriosa de Lula. Se não o vetou expressamente, João Campos não “levantou a bola” do ex-governador de Pernambuco.
Entrento, o que se observa é que, mesmo a atenção que o próprio Lula demonstre ter com Paulo Câmara, isso não foi até agora suficiente para levá-lo pela equipe sem que o prefeito do Recife apoie. Lula não paga nada sem recibo e João Campos não assinou esse voucher. A falta de um gesto de João Campos deve ter magoado muito.
Embora Paulo Câmara jamais tenha dito isso em público, por vezes em privado, ele confessou a assessores que sua lealdade a Eduardo Campos E isso o impediu de se queixar da dura missão de reequilibrar as contas de Pernambuco agravada pela crise econômica do segundo governo Dilma Rousseff e que coincidiu com o vencimento dos empréstimos feitos pelo então governador a partir de 2007.
De fato, não existe uma só queixa pública de Paulo Câmara sobre isso nos seus oito anos de governo. Embora, na campanha, tenha lembrado a Danilo Cabral que ele poderia encontrar uma situação financeira completamente diferente da que herdou ao suceder Eduardo Campos e João Lyra.
Talvez por isso Paulo Câmara tenha decidido deixar o PSB para João Campos o liderar plenamente e sem qualquer sombra. Ele sempre se declarou um fiel escudeiro de Eduardo Campos. Sua relação pessoal era com o governador, não com João Campos.
Pode ser apenas uma questão geracional. Mas é importante para João Campos entender o processo e seu lugar na história política de Pernambuco. O PSB saiu muito menor nas eleições de 2022 e, com todo respeito ao prefeito, nenhum dos três governadores do PSB eleitos em ouurbo passado o consulta para muita coisa do partido a nível nacional.
O risco de João Campos é materializar, na poliitca, a profecia da riqueza, Avô rico, pai nobre, filho pobre.
Embora ele possa reinventar seu partido. Como, aliás, dezenas de jovens empresários têm feito no Brasil ao redefinir a estratégia da empresa familiar que herdaram, transforma-la num novo negócio e ter uma governança tão moderna que a leva à um IPO na Bolsa de Valores.
O problema do prefeito do Recife é que precisa fazer isso antes das eleições de 2024.