Refinaria Abreu e Lima foi de sonho de pesquisadores da Petrobras à escândalo de corrupção no Petrolão

A proposta era usar não apenas o óleo extraído do pré-sal, mas o óleo com as praticamente as mesmas especificações que o extraído da província de Corobodo na Venezuela
Fernando Castilho
Publicado em 04/08/2023 às 12:12
Lula com Hugo Chavéz na obra da Refinaria Abreu e Lima Foto: LÉO MOTA JC IMAGEM


O comunicado da Petrobras informando que iniciou a contratação para retomada do Trem 2 da Nova Refinaria Abreu e Lima - RNEST, cujas obras foram interrompidas em 2015, contrasta com o evento político que aconteceu em 2008 quando, ao lado do então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e o do então presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Naquela oportunidade, Lula e Campos fizeram questão de posar para as fotos e molhar a mão de petróleo, não antes de discursos sobre o que a Rnest estava representando para o Brasil, já que a proposta era usar não apenas o óleo extraído do pré-sal, mas o óleo com praticamente as mesmas especificações que o extraído da província de Corobodo, na Venezuela.

Na oportunidade, foi dito que uma nova empresa que seria constituída como subsidiária da Petrobras teria metade das ações de cada uma das estatais que representavam os dois países (Petrobras e PDVSA). A PDVSA nunca pagou US$1 na Rnest e também não avançou nas negociações.

LEO MOTTA - Lula da Silva com Hugo Chavéz e Eduardo Campos

Como se sabe, a obra acabou se revelando um dos eixos do escândalo do Petrolão pela sucessão de aditivos que elevou os preços iniciais por mais de 10 vezes e apenas para a construção parcial da refinaria. Só agora, sete anos depois de as obras serem paralisadas na Petrobras, o terceiro governo Lula está retomando as obras para a conclusão da refinaria.

A RNEST foi descrita por uma das presidentes da Petrobras, Graça Foster, numa reunião em Suape, como um modelo a não ser repetido. Isso antes mesmo de o escândalo do Petrolão ser descoberto. Foster saiu do comando da empresa antes das primeiras denúncias.

A Abreu e Lima foi também um caso que começou a ter problemas e denúncias de superfaturamento desde a escolha do local e sua terraplanagem. Os problemas prosseguiram com uma série de aditivos e a contração de pessoal que fez Pernambucano chegar a 50 mil trabalhadores.

Esse fenômeno foi potencializado com a construção de dois outros projetos igualmente problemáticos . A PetroquímicaSuape, depois vendida para o grupo mexicanso Alpek e o Estaleiro Atlântico Sul, hoje em Recuperação Judicial e em fase de fatiamento de seu terreno para a construção de um Terminal de Uso Múltiplo pela gigante Maersk que vai disputar cargas com o atual Recon. As obras ainda não começaram.

O caso da RNEST é um outro caso curioso de apropriação política de uma obra estatal concebida e desenvolvida pelos engenheiros da Petrobras que viram sua proposta de construir um modelo de refinaria destinado a explorar o petróleo do pré-sal virar um grande caso de corrupção.

A proposta do Centro de Pesquisas da Petrobras era de ter uma refinaria .BR do modelo conceitual a execução final. Em tese, a empresa deveria contratar um player internacional para construir essa planta seguindo as especificações do Cenpes.

Mas isso foi desvirtuado já na decisão do governo Lula, quando as empreiteiras brasileiras convenceram ao Governo que a RNEST seria também um caso de obra feita por brasileiros. Mesmo que nenhuma delas tivesse feito uma obra da envergadura da Abreu e Lima.

DIVULGAÇÃO - Lila com José Sérgio Gabrielle na Rnest

A obra da refinaria foi fatiada em diversos consórcios, cada um encarregado de fazer uma parte, o que mais tarde se revelou um grande escândalo de contratações superfaturadas. Os processos contra as empresas contratadas ainda se arrastam na justiça depois de terem sido denunciadas pela Operação Lava Jato.

De qualquer forma, a decisão de concluir o Trem 2 da RNEST, prevista para 2027, e com essa implantação, a Petrobras contribuirá para expandir a capacidade de refino nacional, viabilizando o aumento da produção de derivados: gasolina, GLP, nafta, mas principalmente diesel de baixo teor de enxofre (diesel S10), em atendimento às demandas do mercado, reduzindo a demanda por importação.

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