A praga da Mosca do Estábulo voltou a Pernambuco. E desta vez com mais força que nos anos anteriores conforme relatam os agricultores e pecuaristas de ao menos nove municípios da Zona da Mata do estado que sofrem com a infestação que deixou de ser um problema de zoonose para se transformar numa questão econômica.
Apesar de ter uma legislação própria (Lei nº 17.890, a partir de Projeto de Lei do Deputado Antônio Moraes - PP) aprovada no ano passado determinando a proibição da utilização de cama de frango, entre julho e outubro, nos municípios que enfrentaram infestação pela mosca-dos-estábulos produtores de hortaliças, legumes e tubérculos continuam usando o produto adquirido das graças do estado.
Em tese a lei funcionaria como uma espécie de defeso no período de maior incidência da mosca, mas isso não está acontecendo. Procurada, a Adagro informou por meio de uma nova que realizou reuniões de orientação em todos os municípios onde há incidência de moscas-dos-estábulos.
Também que está montando três bloqueios de fiscalização móvel por semana nas rodovias de acesso ao município de Barra de Guabiraba vizinhos e que desde julho, início do plantio até agora, os trabalhos são Intensificados. Até agora 30 propriedades foram vistoriadas e duas foram notificadas, pois em alguns casos os produtores que usam a cama são arrendatários e não permanecem nos locais de plantio.
A fiscalização que a Adagro diz estar fazendo não está funcionando e desde o começo de agosto a crise só tem aumentado com a situação se agravando.
O uso da cama de frango é uma prática conhecida de agricultores de plantas de ciclo curto em Pernambuco. Mas para se tornar uma prática de baixo custo de matéria orgânica de baixo custo precisa de alguns cuidados que como se observa não estão sendo cumpridos como o armazenamento no campo de forma adequada.
Também não vem sendo adotado o manejo de enterrar o adubo orgânico a uma profundidade de 20 centímetros, o que elimina a risca da proliferação das larvas. As fiscalizações que a Adagro afirma estar fazendo constatam que os agricultores simplesmente espalham a cama de frango sem dispensar qualquer tratamento.
No ano passado, quando do início da crise e da rápida aprovação pela Assembléia Legislativa da Lei nº 17.890 o fenômeno foi reduzido sensivelmente. Entretanto, este ano aparentemente a crise está muito forte.
Segundo o Diretor da UNA-União Nordestina da Agropecuária, João Tavares da Silva, a questão da Mosca do Estábulo ocorre com maior incidência na região do Brejo Pernambucano. A mosca hematófoga se alimenta de sangue quando adulta causa danos irreparáveis aos rebanhos daquela microrregião do estado.
Segundo ele, os municípios mais afetados são Barra de Guabiraba, Cortês, Bonito, Sairé e Amaraji, onde existem mais animais em fazendas de criação de gado bovino. Segundo o pecuarista, essa mosca é natural do Brasil, mas existe no mundo todo.
Entretanto, em regiões como a Zona da Mata Pernambucana que é grande produtora de frutas, hortaliças e principalmente do cará as cama de frango está sendo usada indiscriminadamente como adubo orgânico barato.
Entretanto, segundo ele, a infestação de moscas está trazendo grandes prejuízos para o setor pecuário com mortes de animais,emagrecimento pelo estresse causado pelas dolorosas picadas,abortos das vacas,sem falar no ataque que ocorre a todo tipo de animal de sangue quente.
Segundo a Adagro as equipes da agência estão checando as denúncias encaminhadas à Ouvidoria (0800 081 1020) e até identificando os locais onde a cama de frango está sendo empregada de forma irregular. Mas na prática os efeitos dessa fiscalização anunciada não têm surtido efeito.
No mês de agosto, por exemplo, o número de propriedades com grande infestação cresceu mais que nos anos anteriores, indicando que a legislação na está sendo obedecida.
Este ano a existência da praga da mosca do estábulo já está em mais municípios, indicando que a cama de frango está sendo usada indiscriminadamente especialmente pelos produtores de inhame um produto de maior valor agregado e que chegou a ser exportado no passado por Pernambuco.
O dirigente da UNA diz que na tentativa de reduzir os danos os produtores criaram armadilha para tentar diminuir a incidência da praga da mosca dos estábulos. Mas mesmo com a grande quantidade de armadilhas espalhadas nos pastos, não conseguimos resultados satisfatórios até agora.
João Tavares lembra que em 2022 com a nova lei o acesso da cama de galinha na região nos meses de julho, agosto, setembro e outubro, que reduziu a incidência da mosca em 80% , aliviando os prejuízos causados ao setor pecuário da região. Entretanto parece claro que a fiscalização da nova lei foi flexibilizada o que está multiplicando a ocorrência da infestação.
O pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA, Antonio Felix, afirmou que o IPA até formou um grupo para pesquisar soluções para erradicar a mosca.
“Neste momento, podemos afirmar que uma das medidas que pode reduzir a sua reprodução é o cuidado na aplicação do composto, que deve ser incorporado inteiramente ao solo, de forma a não deixar o material exposto de modo algum (cobrir com lona o que não utilizado)”, disse Felix.
Outras medidas propostas, segundo ele, serão analisadas através da pesquisa, cogita-se a aplicação de fungos controladores de insetos ou inimigos naturais.
O diretor da União Nordestina da Agropecuária, João Tavares, por sua vez, diz que uma solução seria uma ação mais proativa junto às granjas que acabam sendo produtores de cama de frango no sentido de que fizessem o tratamento desse material eliminando o risco de infestação.
Acreditamos que se a Adagro e o IPA ajudarem e assumirem uma presença mais firme as granjas poderiam já oferecer a cama de frango tratada. Sem isso, fica muito mais difícil conter a infestação porque o clima da Zona da Mata acaba sendo um vetor de transmissão muito forte, afirma João Tavares da Silva.