Fotos: Bobby Fabisak/JC Imagem
A tentativa de repassar para a iniciativa privada a gestão dos terminais integrados de ônibus, iniciada no segundo semestre do ano passado, não deu certo. As sete unidades do Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana (STPP) que estavam sob controle da Urbana-PE, o Sindicato das Empresas de Ônibus de Pernambuco, foram retomadas pelo governo de Pernambuco na semana passada. O gesto, que gerou desgaste entre as duas instituições, é uma tentativa de reduzir a desordem que, segundo o Estado e os passageiros, dominou os TIs depois da mudança de gestão, com o aumento da invasão de ambulantes, da ausência de segurança e limpeza.
Fizemos o convênio transferindo a gestão com o objetivo de melhorar o serviço para o passageiro, mas isso não aconteceu. A Urbana não entrou, de fato, nos terminais. Ela repassou a função para empresas terceirizadas. Não havia um gestor coordenando os trabalhos. Houve uma redução da vigilância nas portarias, da segurança e da limpeza nas plataformas", André Melibeu, diretor de Operações do GRCT
Voltaram para a gestão do Grande Recife Consórcio de Transportes (GRCT) alguns dos terminais integrados mais importantes da operação não só dos ônibus, mas também do metrô: Macaxeira, Joana Bezerra, Recife, Cajueiro Seco, Prazeres, Largo da Paz, Aeroporto, Afogados e Cabo de Santo Agostinho. Juntas, as três unidades recebem 200 mil passageiros por dia e conectam boa parte da Região Metropolitana. Devido à desorganização, o Estado voltou a responder pela segurança e manutenção dos terminais. A transferência de gestão representaria uma economia de aproximadamente R$ 11 milhões por ano (R$ 900 mil mensais) para o governo, mas o preço político e social que estava sendo pago por essa economia não compensou.
Vimos que precisávamos resgatar a organização, restabelecendo o combate ao comércio informal, fortalecendo a vigilância de prevenção e reforçando a limpeza profunda das unidades”, André Melibeu
“Fizemos o convênio transferindo a gestão com o objetivo de melhorar o serviço para o passageiro, mas isso não aconteceu. A Urbana não entrou, de fato, nos terminais. Ela repassou a função para empresas terceirizadas. Não havia um gestor coordenando os trabalhos. Houve uma redução da vigilância nas portarias, da segurança e da limpeza nas plataformas. O resultado foi uma invasão de ambulantes, além da evasão de receita com a entrada de pessoas sem pagar. Vimos que precisávamos resgatar a organização, restabelecendo o combate ao comércio informal, fortalecendo a vigilância de prevenção e reforçando a limpeza profunda das unidades”, explicou o diretor de Operações do GRCT, André Melibeu.
NAS FOTOS ABAIXO, IMAGENS FEITAS PELO ESTADO QUE MOSTRAM COMO ESTAVA A SITUAÇÃO EM ALGUNS TIs
Ao passar o controle para os empresários, a proposta era fazer uma experiência semelhante à adotada em sistemas de transporte como os de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Goiânia. Não haveria qualquer custo para o sistema ou população. A Urbana assumiria a gestão dos TIs e, em troca, melhoraria a operação, atendendo melhor os usuários. Também poderia disponibilizar máquinas para a venda de créditos do VEM e expor a marca institucional.
De fato, a situação está melhor desde a semana passada. Antes, estava impraticável, com muita bagunça. Os ambulantes estavam vendendo de tudo no terminal. Era leite e até pomada vencida”, Daniel Tenório, vigilante e usuário do TI da Macaxeira
Nesta quarta-feira (20/2), a reportagem esteve em alguns dos terminais integrados e constatou uma melhora na organização. Há bem menos ambulantes circulando, um maior controle da portaria e mais vigilantes. No TI da Macaxeira, por exemplo, um porteiro controlava a entrada e cinco vigilantes cuidavam da segurança. No TI Joana Bezerra eram três porteiros e cinco vigilantes, praticamente o dobro do efetivo de antes. As equipes de limpeza também estavam bem maiores. Passageiros e funcionários dos TIs confirmaram a impressão do JC, embora todos destaquem ainda ser muito cedo para avaliar as mudanças porque, se o Estado não mantiver o reforço de funcionários, será impossível controlar a entrada de ambulantes e de pessoas sem pagar.
As tentativas de burlar as regras são frequentes. A todo instante passageiros arriscam a invasão e ambulantes tentam circular nas plataformas. “Já notamos uma melhora, sem dúvida. Os ambulantes até aparecem e tentam comercializar, mas são retirados pelos seguranças. A questão é até quando eles conseguirão manter a fiscalização”, pontua a comerciante do TI da Macaxeira Tamires Ribeiro. O Estado, entretanto, garantiu que o efetivo será mantido.
A limpeza melhorou e vemos mais seguranças, é verdade. Há menos ambulantes. Mas é preciso que o governo olhe para outros problemas, como a desorganização das filas e a pouca quantidade de ônibus", Selmo Lima, artista plástico que utiliza o TI da Macaxeira
Por nota, a Urbana-PE afirmou que, após o período de testes da mudança de gestão, realizado em 2017, optou pela extinção do convênio firmado com o GRCT. Confira a nota na íntegra: “A Urbana-PE informa que no ano de 2017 foi firmado um convênio de cooperação técnica com o Grande Recife Consórcio de Transporte, através do qual determinados serviços e custos referentes à operação de alguns Terminais Integrados da Região Metropolitana do Recife seriam de responsabilidade do sindicato. Passado o período de testes, optou-se pela extinção do convênio.”
Ambulantes mais contidos no TI da Macaxeira. Na semana passada, a categoria promoveu protesto por causa da ação de fiscalização no TI Joana Bezerra