Pesquisa aponta que motoristas de ônibus brasileiros têm 71% de risco de contaminação pelo coronavírus

Mapeamento das profissões mais arriscadas de contágio foi feito pela UFRJ e colocou os motoristas num patamar semelhante aos profissionais da saúde
Roberta Soares
Publicado em 16/04/2020 às 9:06
Até então, o MPT vinha demonstrado cautela no processo, evitando desgastar ainda mais a já desgastada relação entre rodoviários e empresários de ônibus. Mas agora perdeu a paciência Foto: BOBBY FABISAK/JC IMAGEM


POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE

Eles não estão na linha de frente do combate à pandemia do coronavírus - como os mais diferentes profissionais da saúde -, mas têm enormes chances de serem contaminados. Correm um risco próximo ao enfrentado pelos trabalhadores da saúde. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovou o perigo. Apontou que os motoristas de ônibus são uma das profissões mais vulneráveis, com risco de contágio de 71%. E são profissionais que correm risco todos os dias nas ruas, já que os serviços de transporte público não foram suspensos na grande maioria das cidades do Brasil e do mundo. Na saúde, aponta a pesquisa, a probabilidade de contaminação está entre 50% e 100%, conforme a área de atuação.

"O medo é grande porque sabemos que o vírus fica impregnado durante quatro dias em superfícies e muitas pessoas se agarram nos balaustres dos coletivos sem ter proteção ou sem saber que é portador. Além disso, não respeitam a distância correta, tossem e espirram sem se proteger. A higienização também não é feita da forma correta porque são muitas viagens, com intervalos pequenos. Nunca sobra tempo para fazer como deveria " - José Carlos da Silva, motorista há dez anos

O mapeamento foi realizado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), que analisou 2,6 mil ocupações no País, nas mais variadas áreas, para identificar o índice de risco das profissões. De forma geral - e como já esperado - os que atuam na saúde são os mais expostos. De acordo com o estudo, 2,6 milhões de profissionais da área apresentam risco de contágio acima de 50%. Do grupo, os mais vulneráveis são os técnicos em saúde bucal - um total de 12.461 profissionais, com 100% de risco de contágio devido ao ambiente de trabalho e a proximidade física com os pacientes.

O perigo para os motoristas de ônibus urbanos (que operam os sistemas municipais e metropolitanos) e rodoviários (veículos que fazem viagens intermunicipais e interestaduais) surpreende e, segundo o mapeamento, é resultado do contato próximo que os profissionais têm com a população. Os pesquisadores do Coppe mapearam 350 mil motoristas de ônibus para indicar o risco de infecção. O percentual de 71%, inclusive, é semelhante ao identificado para os professores, por exemplo, caso as aulas não tivessem sido suspensas como medida preventiva à propagação do coronavírus.

O alto índice de contágio se confirma na prática, no medo dos motoristas que operam o serviço de transporte na RMR. "O medo é grande porque sabemos que o vírus fica impregnado durante quatro dias em superfícies e muitas pessoas se agarram nos balaustres dos coletivos sem ter proteção ou sem saber que é portador. Além disso, não respeitam a distância correta, tossem e espirram sem se proteger. A higienização também não é feita da forma correta porque são muitas viagens, com intervalos pequenos. Nunca sobra tempo para fazer como deveria", relata José Carlos da Silva, motorista há dez anos.

Thiago Lucas - Artes JC

Quando o recorte são os cobradores do transporte coletivo, maquinistas de metrôs e trens, e motoristas de táxis, por exemplo, o índice de perigo reduz, mas ainda se mantem acima dos 50%. Segundo o Coppe, os cobradores apresentam um percentual de 66,3% de risco de contaminação, o mesmo dos motoristas de táxi. Em relação aos maquinistas, esse percentual cai para 51%. Vendedores varejistas, operadores de caixas, entre outros profissionais do comércio que, juntos, somam cerca de 5 milhões de trabalhadores no Brasil, apresentam, em média, 53% de risco de serem infectados pelo coronavírus.

CONFIRA O MAPEAMENTO NA ÍNTEGRA:
https://impactocovid.com.br/

MENOS VULNERÁVEIS
Os trabalhadores menos vulneráveis são os solitários - que exercem suas atividades de forma isolada, quase solitária, com destaque para os 14.215 operadores de motosserra, cuja maioria trabalha nas áreas rurais e apresenta risco de 18%. Outros menos prováveis de serem infectados, com média de 19%, são roteiristas, escritores, poetas, e outros que fazem parte de um grupo que realiza trabalho voltado para o setor artístico e intelectual. O mapeamento abrangeu todo o País e foi dividido em 13 grupos ocupacionais, de profissionais da agropecuária e pesca aos do setor de transportes. O mapeamento foi liderado pelo pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro da Coppe. "É um momento importante de reflexão sobre o trabalho por parte do governo, das empresas e de quem realiza estudos sobre a área.

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