Cidades precisam de uma nova rotação no pós-pandemia

Se a sociedade voltar à rotina ainda mais individualista e novamente metida nos carros, tudo terá sido em vão. As cidades estarão perdidas. Por isso, é preciso estimular novos modais e escalonar o funcionamento de serviços. É a hora
Roberta Soares
Roberta Soares
Publicado em 27/05/2020 às 11:36
Abrir mão de hábitos, revê-los e buscar novos. Essa será a regra mundial quando a pandemia do coronavírus passar ou o mundo cansar de esperar por ela e determinar o fim do isolamento pessoal Foto: BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM


Abrir mão de hábitos, revê-los e buscar novos. Essa será a regra mundial quando a pandemia do coronavírus passar ou o mundo cansar de esperar por ela e determinar o fim do isolamento pessoal. A retomada das cidades no pós-pandemia será um divisor de águas para a mobilidade urbana. Se a sociedade voltar ainda mais individualista e, como diz a foto que ilustra essa reportagem - metida nos carros novamente -, tudo terá sido em vão. As cidades estarão perdidas. Já não dava certo antes do coronavírus e todos percebiam isso. Agora, será ainda pior. Isso porque não temos a estrutura ideal para o transporte ativo - especialmente a micromobilidade (bicicleta e patins elétricos, por exemplo) - e o transporte público, que já sofria com perdas, será ainda mais evitado por muitos.

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Por tudo isso, as cidades precisam de uma nova rotação. E o poder público tem papel fundamental nessa discussão porque uma nova mobilidade só é possível por determinação da figura do Estado (governos estadual e municipal). Seja pela construção e viabilização de infraestrutura para estimular novos hábitos de mobilidade - ciclofaixas móveis e permanentes, e faixas exclusivas de ônibus, por exemplo - ou pela imposição de uma nova rotação das cidades para distribuir melhor a demanda de passageiros dos ônibus e metrô ao longo do dia, por exemplo.

Goiânia, capital de Goiás, por exemplo, usou uma estratégia nessa linha para enfrentar a pandemia. A prefeitura decretou o escalonamento de horários de trabalho para evitar aglomeração de passageiros no transporte coletivo, em terminais e pontos. Desde a quarta-feira (20/5), os novos horários passaram a fazer parte da rotina de funcionamento do comércio, indústria e serviços essenciais de Goiânia. A determinação vale para aqueles que têm permissão para funcionar de acordo com o Decreto Estadual 9653, de 19/04/2020, mas é um modelo que poderia ser ampliado e efetivado no pós-pandemia.

REGRAS

São doze faixas de horários. A abertura começa às 6h e segue até às 11h30, como é o caso dos consultórios médicos, por exemplo. Os agentes do município têm autonomia para notificar, multar ou interditar estabelecimentos conforme as regras da Vigilância Sanitária. As multas começam em R$ 4,8 mil. O fechamento dos estabelecimentos é flexibilizado. Pelas informações oficiais da Prefeitura de Goiânia, o escalonamento foi discutido com entidades governamentais e classistas, entre elas a Fecomércio.

PORTAL MOBILIZE - Se a sociedade voltar ainda mais individualista e, como diz a foto que ilustra essa reportagem - metida nos carros novamente -, tudo terá sido em vão. As cidades estarão perdidas


POR UMA NOVA MOBILIDADE URBANA

Razões não faltam para reproduzirmos soluções semelhantes pelo País. Antes da pandemia as cidades já estavam em colapso. Refletiam o resultado da mobilidade urbana convencional. E, apesar dos danos, seguiam privilegiando o automóvel, menosprezando o transporte coletivo e a micromobilidade. Mas já havia uma parcela da sociedade ansiosa por mudanças dessa lógica. Talvez essa parcela aumente no pós-pandemia. Afinal, muita gente não queira mais voltar à rotina dos constantes congestionamentos.

A mudança é urgente e necessária. Nas grandes cidades e regiões metropolitanas brasileiras, entre elas a do Recife, mais de 70% da população fazem as mesmas coisas nos mesmos horários, todos os dias. Vão e voltam juntos do trabalho e da escola, por exemplo. E nesse ciclo vicioso, seguíamos perdendo 733 horas por ano presos no trânsito travado de nossas cidades. Se não mudarmos no pós-pandemia, veremos esses números duplicarem. Fica o alerta.

AOS POUCOS, O ABANDONO DO AUTOMÓVEL

A FORÇA DA MOBILIDADE CORPORATIVA

INTEGRAÇÃO DE MODAIS É O FUTURO DO TRANSPORTE

A MOBILIDADE CONVENCIONAL GERA MUITOS IMPACTOS

TECNOLOGIA COMO FORTE ALIADA

Confira os novos horários do escalonamento de Goiânia

6h
Laboratórios de análises clínicas e clínicas de vacinação;
Postos de combustíveis;
Supermercados e mercearias;
Hortifrutigranjeiros;
Padarias e panificadoras;
Empórios;
Drogarias,

6h30
Estabelecimentos industriais de fornecimento de insumos/produtos essenciais à manutenção da saúde ou da vida humana e animal, tais como os que produzem medicamentos, materiais hospitalares, alimentos, produtos de higiene e limpeza, gás de cozinha e combustíveis;
Empregados domésticos e diaristas, 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.
Profissionais de limpeza e manutenção predial, ou 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.

7h

Oficinas mecânicas de veículos e motos;
Autopeças e moto peças;
Borracharias;
Obras de construção civil;

7h30
Indústria de insumos para obras da construção civil;
Indústria de extração mineral;

8h30
Oficinas mecânicas destinadas ao setor agropecuário;
Lojas de insumos do setor agropecuário;
Lojas de produtos veterinários destinados ao setor agropecuário;


Empregados domésticos e diaristas, 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.
Profissionais de limpeza e manutenção predial, ou 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.

BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM - A expectativa é de que, pós-pandemia, a população priorize o transporte individual por medo de contaminação no coletivo


9h
Farmácias de manipulação; Lojas de produtos agropecuários; Lojas de peças do setor agropecuário; Empresas de vistoria veicular; Serviços de internet; Distribuidoras de água; Distribuidoras e revendedoras de gás;

9h30
Lojas de máquinas/implementos agropecuários; Depósitos de materiais de construção; Ferragistas e lojas de materiais elétricos/hidráulicos; Lojas de locação de máquinas/equipamentos para a construção civil; Lojas de pneus; Demais estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços não mencionados no Decreto, e prestadores de serviços ou similares, não mencionados no Decreto, e que estejam autorizados a funcionar por meio do sistema de entrega

10h
Óticas; Petshops; Cartórios extrajudiciais; E-commerces; Concessionárias de veículos e motos;

10h30
Lojas comerciais em sistema de entrega.
Empregados domésticos e diaristas, 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.
Profissionais de limpeza e manutenção predial, ou 6h30, 8h30 ou a partir das 10h30.

11h
Lavajatos;
Salões de beleza e barbearias;
Lavanderias;
Empresas de desinsetização e controle de pragas urbanas;

Após 11h30
Consultórios médicos;
Consultórios de psiquiatria e psicologia;
Consultórios odontológicos;
Escritórios de profissionais liberais.

Estabelecimentos com funcionamento 24 horas
Aos estabelecimentos autorizados a funcionar durante 24 (vinte e quatro) horas não se aplicam as determinações previstas neste artigo, sendo obrigatório que as trocas de turnos ocorram de maneira a não sobrecarregar o transporte público coletivo urbano no âmbito do Município de Goiânia.

Horários normais de funcionamento
Templos religiosos e congêneres;
Jornais e emissoras de rádio e TV;
Hospitais em geral;
Clínicas e hospitais veterinários;
Restaurantes e lanchonetes em postos de combustíveis situados às margens de rodovias;
Empresas de energia elétrica, saneamento, telecomunicação;
Empresas de segurança privada;
Agências bancárias e agências lotéricas;
Feiras livres;
Atividades de transporte;
Indústrias que estejam produzindo equipamentos e insumos para auxílio no combate à pandemia da COVID-19;
Cemitérios e serviços funerários; Call Centers (geral) e serviços de internet;
Estabelecimentos de ensino privado;
Hotelaria e congêneres e atividades de assistência social.
Prestação de serviços vinculados a reparos emergenciais, como chaveiro, encanador e eletricista.
Horários normais de funcionamento para “entrega”
Restaurantes;
Cafés;
Lanchonetes;
Bancas de jornais e revistas

Confira aqui a íntegra do Decreto 1050, de 18 de maio de 2020 – Escalonamento Obrigatório

 

72,23%
das pessoas da Região Metropolitana do Recife iniciam a jornada de trabalho entre 7h e 9h

68,17%
dos moradores do Grande Recife saem do trabalho entre 17h e 20h

773
horas são gastas por ano no trânsito brasileiro

 

IMAGENS DA RETOMADA DA VIDA NO BRASIL E PELO MUNDO

Nas fotos abaixo, exemplos das novas formas de convivência em diversas áreas - não só na mobilidade urbana - pelo mundo.

DIVULGAÇÃO - Vagões de metrôs e trens com indicação para passageiros respeitarem o distanciamento


DIVULGAÇÃO - Novas regras para o desconfinamento também tem sido adotadas nas estações de trens, como em Paris

 

DIVULGAÇÃO - Interior de ônibus em Portland, Oregon, durante a pandemia da covid-19

 

PREFEITURA DE SALVADOR/DIVULGAÇÃO - Ônibus de Salvador também aderiram às cortinas e painéis para proteger motoristas e cobradores

 

DIVULGAÇÃO - Estratégias de distanciamento no transporte público já têm sido adotadas


LOOP/DIVULGAÇÃO - Patinetes elétricos também são alternativa de deslocamento no pós-pandemia
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