Sem controle do poder público, excesso de peso em caminhões continua destruindo rodovias em Pernambuco
Estado bateu recorde na apreensão de cargas excedentes nas rodovias federais em agosto
Dados recentes divulgados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Pernambuco impressionam: o excesso de peso em veículos de carga ultrapassou todos os limites em Pernambuco no mês de agosto, quando 2,75 mil toneladas foram apreendidas, o que representa metade do que foi registrado no primeiro semestre de 2021 (5,4 mil toneladas). Além de assustar, indigna por comprovar que muito pouco ainda é feito pelo poder público para inibir o descontrole de peso de cargas, que não só destrói as rodovias construídas com dinheiro da população - o que já seria razão suficiente para uma repressão forte -, mas também compromete vidas.
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O Atlas da Acidentalidade no Transporte Brasileiro, desenvolvido anualmente pelo Programa Volvo de Segurança no Trânsito, mostra que quase metade das mortes registradas em estradas do País aconteceu após um sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito. Entenda a razão) envolvendo um caminhão. Mesmo assim, entre janeiro e agosto de 2021, a PRF já registrou 9,4 mil toneladas de peso acima do permitido em Pernambuco, em diferentes operações de fiscalização. E acreditem: em apenas 1.271 veículos.
As apreensões, sem dúvida, são reflexo das ações do poder público, mas não têm sido suficientes porque, como os próprios dados da fiscalização confirmam, o desrespeito por parte de motoristas e empresas do setor de transporte de cargas está aumentando. É preciso mais. Afinal, o controle do peso das cargas é requisito fundamental apontado por qualquer técnico para a preservação do pavimento das estradas, tanto federais como estaduais.
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A sobrecarga é uma das infrações de trânsito (pode ser média, grave e gravíssima de acordo com o excesso de peso) que mais contribui para o desgaste precoce das estradas e os sinistros de trânsito. Também sobrecarrega o sistema de freios e a suspensão dos veículos, compromete a dirigibilidade e aumenta o risco de sinistros graves - alerta a PRF.
BALANÇAS
As antigas balanças fixas e móveis nem são mais o recomendado. Segundo as entidades de engenharia, a tecnologia avançou rapidamente e hoje em dia é possível fazer leituras digitais. Sensores eletrônicos são alternativas para substituir balanças em rodovias. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por exemplo, desenvolveram os Postos Integrados Automatizados de Fiscalização (PIAFs), ainda em fase de projeto-piloto. É uma solução para evitar a sobrecarga nas estradas.
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Na série de reportagens JC nas Estradas, o engenheiro Sidiclei Magalhães, consultor em pavimentação e professor do Instituto Federal da Paraíba (IFPB), lembrou, ainda, que estudos apontam que a sobrecarga é uma das interferências que mais danos provocam às estradas. “Para se ter ideia, se houver controle de 30% do excesso de peso que passa por uma rodovia, você pode reduzir a vida útil do pavimento em 60%. Ou seja, a sobrecarga faz com que um pavimento que deveria durar dez anos, dure apenas quatro anos. Por isso é preciso controle”, alertou.
ESTUDO
A situação do excesso de carga nas rodovias é tão séria e danosa para a sociedade - principalmente porque ajuda a desperdiçar dinheiro público investido nas obras -, que o governo de Pernambuco, via Secretaria de Infraestrutura, fez um estudo em 2019, numa parceria com a Unicap, para quantificar esse desrespeito e constatou o abuso: uma sobrecarga superior a 50% da capacidade viária em toda malha rodoviária estadual. O trabalho foi coordenado pelo professor e engenheiro Maurício Pina. Pernambuco tem uma malha viária de 5.554 quilômetros de extensão. São 365 rodovias.
Levantamento da Agência Nacional do Transporte de Carga (NTC) mostrou que o excesso de carga de 10% aumenta em 46% o desgaste da pista e diminui em mais de 30% a sua vida útil. “Um peso maior em uma estrada faz com que haja um dano mais rápido e mais aprofundado no pavimento, e um pavimento degradado ocasiona acidentes (sinistros) e impacta negativamente na mobilidade", afirmou a secretária de Infraestrutura, Fernandha Batista.
MULTA
Segundo a PRF, exceder o limite de peso é uma infração de natureza média, com multa de R$ 130,16 e 4 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A cada duzentos quilogramas ou fração de excesso de peso, são acrescidos valores que podem variar de R$ 5,32 a R$ 53,20. O veículo também é apreendido até a retirada da carga excedente.