Estação de BRT recém-reformada é novamente vandalizada no Grande Recife. Mesmo com gestão privada
Mais da metade das estações de todo o sistema foram destruídas em 2020 e até hoje não voltaram a operar. Reparos custaram R$ 8 milhões
O BRT pernambucano, batizado de Via Livre na Região Metropolitana do Recife, segue sendo vandalizado a olhos vistos. Depois de ter mais da metade das estações de todo o sistema destruídas no auge da pandemia de covid-19, em 2020 - o que representou um investimento de R$ 8 milhões para recuperá-las, serviço que ainda está em andamento -, mais estações voltaram a ser depredadas. Mesmo depois de reformadas.
Confira a série A MORTE DO BRT
Foi o que aconteceu com a Estação Kennedy, localizada na PE-15, que integra o Corredor Norte-Sul e estava fechada há um ano e dois meses. O equipamento amanheceu nesta terça-feira (15/2) totalmente destruído. Além de ter os vidros quebrados, parte da fiação de iluminação e da futura refrigeração - os equipamentos seguem sem ar-condicionado - estava exposta e foi parcialmente furtada.
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Por nota, o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM) confirmou o vandalismo, mas não deu mais detalhes sobre o esquema de segurança dos equipamentos - que estariam com segurança patrimonial à noite, segundo informado ano passado pelo Estado. Disse que teriam jogado uma pedra contra um dos vidros da estação, mas a equipe do JC encontrou um estrago muito maior, que pode ser comprovado nas fotos da reportagem.
“Na PE-15, a Estação Kennedy, que estava totalmente revitalizada e em processo de reativação, foi alvo de vândalos que passaram pelo local e arremessaram pedras destruindo a estrutura de vidro. O Grande Recife junto com a Nova Mobi Pernambuco estão verificando a volta da operação no local, incluindo segurança”, diz a nota. Das 26 estações do Norte-Sul, apenas oito estão funcionando atualmente.
PARCERIA PRIVADA
Além de revoltante por se tratar de um equipamento público e recém-reformado, a destruição da Estação Kennedy evidencia o abandono a que o BRT está sujeito no Grande Recife. Nem mesmo o fato de as 44 estações do sistema terem sido incluídas na primeira Parceria Público-Privado (PPP) do setor, junto com os 26 terminais integrados de ônibus e metrô da RMR, parece estar garantindo a segurança ou um pouco de qualidade para o serviço.
A Nova Mobi Pernambuco é a empresa escolhida, via licitação pública, como concessionária para operar e manter as unidades, num contrato de R$ 113 milhões em 35 anos. No contrato, fechado no fim de 2021, estão previstos mais de R$ 1,5 bilhão de investimentos na operação, conservação e manutenção dos equipamentos, além da possibilidade de investimentos adicionais na realização de empreendimentos associados aos terminais integrados, como hotel, faculdade e logística.
Promessas de melhoria, inclusive, não faltam, feitas pelo governo de Pernambuco e referendadas no contrato assinado com a Nova Mobi Pernambuco.
PROMESSAS DE TECNOLOGIA E SEGURANÇA
Entre elas, a chegada da tecnologia - algo extremamente atrasado no transporte público do Grande Recife. A garantia é de que os TIs e as estações de BRT terão, em muito breve, uma comunicação em tempo real com o passageiro. Será possível saber quando os BRTs passarão nas estações e os ônibus chegarão e sairão dos terminais. Algo que o sistema pernambucano chegou a ter por um curto período, ainda em 2014, mas que foi retirado posteriormente por problemas administrativos.
Um Centro de Controle Operacional (CCO) será implantado no Terminal Integrado CDU, na Cidade Universitária, Zona Oeste do Recife, para monitorar toda a operação dos TIs e estações de BRT. A tecnologia garantirá a segurança dos equipamentos, que também terão a vigilância patrimonial permanente.
A previsão é de que o CCO fique pronto entre os meses de abril e maio de 2022. Em quatro anos, todos os equipamentos terão que ter sido reformados e requalificados.
PROMESSAS DE IDEIAS INOVADORAS E NOVOS SERVIÇOS
A nova modelagem é uma Parceria Público-Privada (PPP) no formato de concessão administrativa, ou seja, há aporte financeiro durante a vigência do contrato, mas sem cobrança dos usuários - já que o passageiro paga a tarifa do transporte e acessa as unidades com ela.
Além de prever amplas reformas física, administrativa e operacional, a proposta do governo de Pernambuco é uma reformulação conceitual dos TIs, com uma estratégica exploração comercial dos possíveis potenciais das unidades. Está buscando a inserção dos terminais às cidades onde estão localizados para que sejam vistos além de uma simples estação de embarque e desembarque.
Que possam incorporar os chamados empreendimentos associados - modelo já adotado com sucesso em muitos sistemas de transporte, inclusive no Brasil. E que geram uma razoável renda extra tarifária para o transporte - tão dependente da passagem paga pelo usuário.