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Imagens de jovens "surfando" em ônibus do Grande Recife viralizam e mostram o perigo a que jovens se expõem. Veja vídeos

A prática tem sido cada vez mais frequente na Região Metropolitana do Recife, assustando passageiros e operadores

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Roberta Soares

Publicado em 14/04/2022 às 11:34 | Atualizado em 03/05/2022 às 12:50
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A evasão de receita e o vandalismo voltaram a tirar o sossego de quem utiliza e opera o sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife.

No caso do vandalismo, a grande preocupação voltou a ser a prática por jovens do “surf” no teto dos ônibus, que teria ganhado força do fim de 2021 para o início de 2022.

A situação está fugindo ao controle nos coletivos, alertam os operadores do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP).

Chegou ao ponto de haver convocação, pelas redes sociais, para o encontro e a realização dos chamados “bondes”.

É o caso da mais recente convocação feita para esta quinta-feira (14/4), véspera do feriadão da Semana Santa, a partir das 18h30, no Terminal Integrado de Camaragibe, um dos maiores do sistema, por onde passam mais de 50 mil passageiros diariamente. 

Na convocação, os organizadores afirmam que “todas as favelas são bem-vindas”, que o “bonde será puxado às 19h30”, e que a proposta é “parar toda a Camaragibe”.

Há um mês, a prática deixou um jovem ferido no Cabo de Santo Agostinho, na área Sul do Grande Recife.

O rapaz, que não teve a identidade revelada, estava na linha 157 Gaibu-Cabo, operada pela empresa São Judas Tadeu, e foi derrubado quando o ônibus passava sob um viaduto.

Segundo informações dos operadores, o jovem e um amigo tentaram subir para o teto do coletivo pela clarabóia de ventilação. Quando o primeiro subiu, foi derrubado na passagem sob o viaduto de acesso à rodovia PE-60.

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Flagrantes de jovens "surfando" sobre os ônibus têm sido frequentes e em áreas específicas do Grande Recife - REPRODUÇÃO
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Em março, a prática deixou um jovem ferido no Cabo de Santo Agostinho, na área Sul do Grande Recife - REPRODUÇÃO
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Situação está tão fora de controle que chegou ao ponto de haver convocação, pelas redes sociais, para o encontro e a realização dos chamados "bondes" - REPRODUÇÃO
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O caso aconteceu no domingo (1°/5), no Terminal Integrado de Xambá. O jovem não teve a identidade revelada - REPRODUÇÃO

“Os operadores estão muito assustados porque o risco de acidentes é grande. O grande temor é que as pessoas achem que a responsabilidade é dos motoristas e das empresas, o que não é verdade”, alerta Antero Parahyba, superintendente da empresa São Judas Tadeu e do Consórcio Recife de Transporte, que reúne as empresas Pedrosa e Transcol.

“Nesse caso, por exemplo, o motorista ficou em pânico. O veículo estava lotado e ele não tinha como ver o que acontecia no interior. É muito difícil e perigoso. Não só para o operador, mas principalmente para o passageiro. Todos têm medo”, reforça.

Flagrantes de jovens “surfando” sobre os ônibus têm sido frequentes e em áreas específicas do Grande Recife.

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Convocação para realização de "bondes de surfistas de ônibus" na quinta-feira, véspera de feriadão da Semana Santa, no TI Camaragibe - REPRODUÇÃO

Os operadores afirmam que são mais comuns nas linhas que atendem às praias, principalmente as de fora do Recife, como os Litorais Norte e Sul.

E as que entram e saem dos subúrbios e periferias - a grande maioria das 348 linhas que atualmente estão em operação.

No Alto do Buriti, bairro da Macaxeira, na periferia da Zona Norte do Recife, novos flagrantes.

A situação ficou tão fora de controle que o Consórcio Recife está atuando em parceria com lideranças comunitárias para conversar com as famílias dos jovens e alertá-las sobre o perigo da prática.

“Além do perigo de uma queda, há ainda o risco de choques elétricos, por exemplo”, diz Antero Parahyba.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Invasões do sistema também aumentaram com o reajuste das passagens, a falta de fiscalização do poder público e a crise econômica do País - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Invasões do sistema também aumentaram com o reajuste das passagens, a falta de fiscalização do poder público e a crise econômica do País - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Falta de fiscalização acaba incentivando evasão de receita, principalmente nas estações do BRT, sucateadas e abertas - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

EVASÃO DE RECEITA

Além dos “surfistas de ônibus” - que comprometem a imagem do transporte público - , outro problema que vem crescendo é a evasão de receita do sistema.

O aumento de quase 10% das passagens, aprovado em fevereiro pelo governo de Pernambuco, é um dos principais fatores que contribuíram.

O Anel A, utilizado por 80% dos passageiros, passou de R$ 3,75 para R$ 4,10, pesando no bolso da população.

BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
Invasões do sistema também aumentaram com o reajuste das passagens, a falta de fiscalização do poder público e a crise econômica do País - BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

A crise econômica e o desemprego também têm alimentado a invasão do sistema. Seja nos ônibus ou nas estações de BRT, além do Metrô do Recife, que tem uma tarifa ainda mais cara: R$ 4,25.

Embora o Estado e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) tenham avançado na integração temporal nos Terminais Integrados, os ônibus ficam vulneráveis depois que saem dos TIs.

Dos 26 Terminais Integrados ônibus X metrô ou ônibus X ônibus, 13 já adotaram a tecnologia, que exige o uso do cartão VEM para o embarque e limita a integração sem pagamento de uma nova tarifa a duas horas.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Ônibus BRT passa a circular com sistema de catraca durante a pandemia do coronavírus (estação guararapes) - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
NE10
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Governo de Pernambuco/Divulgação
Bloqueios da estação voltaram a ser no padrão original do projeto. Mais refinados e bem diferente das catracas-monstro que foram substituindo o equipamento ao longos dos seis anos de operação - Governo de Pernambuco/Divulgação
Foto: Diego Nigro/JC Imagem
- Foto: Diego Nigro/JC Imagem

Antes da pandemia, os percentuais de evasão eram superiores a 10%. No BRT pernambucano eram ainda maiores: oscilavam na casa dos 12%.

Era como se 20 mil pessoas entrassem de graça no sistema diariamente, pelas contas ainda de 2019.

Agora, está ainda maior, mas os operadores ainda não conseguem medí-lo por causa da perda de demanda de passageiros provocada pela pandemia de covid-19 - é o que alegam.

A situação está tão crítica que algumas empresas estão pedindo formalmente ao Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM) - gestor do sistema de ônibus - para instalar catracas na traseira dos coletivos.

Outras empresas, como o Consórcio MobiBrasil, já fazem uso dos equipamentos.

CTM

Procurado pelo JC, o CTM informou não ter qualquer informação sobre evasão do sistema e a crescente prática do “surf” no teto dos ônibus.

Disse que não existiam dados sobre os dois assuntos, embora seja o órgão gestor do transporte público por ônibus na RMR.

 

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