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Com crise econômica, caminhoneiros estão se arriscando mais nas estradas e colocando a vida de todos em perigo

Número de autuações dispara, resultado da alta do diesel, que está empurrando caminhoneiros para a sobrecarga de trabalho

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Roberta Soares

Publicado em 25/08/2022 às 15:54 | Atualizado em 25/08/2022 às 16:12
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Por necessidade financeira, os caminhoneiros brasileiros estão se arriscando ainda mais nas estradas do País. Levantamento da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra), a partir de estatísticas da Polícia Rodoviária Federal (PRF), aponta que as autuações por descumprimento da Lei do Descanso triplicaram no primeiro semestre de 2022.

O crescimento do excesso de jornada, inclusive, assusta: aumentou 218% nos seis primeiros meses do ano. Em 2022 foram 50.467 autuações, enquanto que de janeiro a junho de 2021 foram 15.825. Os dados reúnem apenas os casos registrados na rodovias federais (BRs).

Os flagrantes são resultado, aponta a Ammetra, da crise econômica enfrentada pelo País. Pesam, principalmente, os sucessivos aumentos no preço do diesel e a alta da inflação.

Confira a série de reportagens Mutilados - As verdadeiras vítimas do trânsito

Não é mais acidente de trânsito. Agora, a definição é outra nas ruas, avenidas e estradas do Brasil

“Em dois anos o diesel acumulou alta de quase 90%, em média. Sabemos que o gasto com combustível corresponde a até 35% dos custos com o transporte rodoviário de cargas no Brasil”, analisa o diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra.

“Para conseguir um rendimento mínimo, os caminhoneiros estão tendo que trabalhar muito mais e isso impacta não só a saúde da categoria, mas coloca em risco a integridade física de todos os demais usuários das vias que circulam”, alerta.

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O crescimento do excesso de jornada, inclusive, assusta: aumentou 218% nos seis primeiros meses do ano - GUGA MATOS/JC IMAGEM

PERIGO GRANDE

Pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT) revelou que há caminhoneiros que passam até 13 horas por dia ao volante, o que aumenta o risco de sinistros de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se diz. Entenda) nas estradas.

Alysson Coimbra lembra que o alto custo de manutenção dos caminhões também contribui para que os motoristas desrespeitem a Lei do Descanso. ”Os pneus são um dos insumos que mais oneram os motoristas, distribuídos entre os eixos dianteiro, truck e tração, possuem um rendimento de rodagem de 7.721km rodados, em média. Considerando que algumas composições como bitrem de 7 eixos, o custo total de substituição dos 26 pneus pode ultrapassar R$ 30 mil”, explica.

IMPACTOS

O excesso de jornada também cobra um alto preço, lembra a Ammetra: o corpo não resiste ao excesso de trabalho e a saúde inevitavelmente é afetada. Estresse, falta de descanso, sedentarismo, solidão, os longos períodos sentado, e a alimentação irregular aumentam o risco de várias doenças fatais.

“O uso de estimulantes e substâncias psicoativas para evitar o sono, comprometem sentidos cruciais para uma direção segura, além de causar dependência e elevação contínua da dose para se obter efeitos cada vez menores”, diz Coimbra.

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Os flagrantes são resultado, aponta a Ammetra, da crise econômica enfrentada pelo País. Pesam, principalmente, os sucessivos aumentos no preço do diesel e a alta da inflação - GUGA MATOS/JC IMAGEM

“Falhas humanas causam 90% dos sinistros de trânsito. E os sinistros envolvendo veículos pesados são potencialmente mais letais que os que envolvem apenas carros de passeio", afirma o especialista em Medicina do Tráfego.

Segundo Coimbra, a situação é extremamente preocupante, ainda mais com a recente aprovação de uma Medida Provisória do governo que, dentre outras deliberações, suspenderá a fiscalização de jornadas em alguns trechos de rodovias.

ENTENDA A LEI

A Lei do Descanso determina que o motorista pare de dirigir por 30 minutos a cada seis horas de trabalho. É proibido passar mais de cinco horas e meia ao volante sem interrupção.

No caso do transporte de passageiros, esse limite é reduzido para quatro horas. A lei também obriga que os motoristas tenham intervalos de 11 horas ininterruptas entre um dia e outro de trabalho.

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