O estrago que a pandemia de covid-19 provocou para o Brasil e o mundo, nas mais variadas áreas, foi sobremaneira pesado para o transporte público. Principalmente no caso do serviço prestado por ônibus em 2.703 municípios brasileiros, que é o serviço mais utilizado pela população, já que poucas capitais têm metrôs ou trens.
Com a pandemia, 10,8 milhões de passageiros deixaram os ônibus, seja porque não puderam pagar o valor das tarifas ou desistiram de apostar na melhoria do serviço e o trocaram por um transporte privado ou outro modo de deslocamento, como a bicicleta e, talvez, a caminhada.
Em percentuais, a fuga do passageiro representou uma perda de 32,6% em relação ao ano de 2019, antes da crise sanitária. É uma perda acumulada de R$ 27,8 bilhões do início da pandemia até abril deste ano, ou o equivalente a uma perda mensal de R$ 1 bilhão.
Os dados fazem parte de um tradicional anuário produzido pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) e divulgado durante seminário que acontece em São Paulo.
Em 2019, eram realizadas 33,2 milhões de viagens por passageiros pagantes ao dia no País. Caiu para 22,4 milhões em 2021.
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O levantamento registra o desempenho operacional do setor de transporte coletivo urbano por ônibus no Brasil, há quase 30 anos e e é elaborado com base em 11 indicadores, em nove capitais brasileiras: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
São sistemas que, juntos, respondem por mais de 35% da frota nacional e da quantidade de
viagens realizadas, em todas as cidades brasileiras atendidas por sistemas organizados de transporte público por ônibus.
O setor teve uma melhoria em relação ao ano de 2020, o primeiro da pandemia. A demanda de passageiros equivalentes (pagantes) apresentou, em 2021, uma recuperação de 37,8%, em relação ao ano anterior.
Mas a crise persiste, com um desequilíbrio de demanda na ordem dos 30%. Ou seja, os sistemas seguem com 70% da demanda registrada em 2019, e que já acumulava perdas históricas.
Um cenário que exige mais e mais atenção ao setor pelo poder público e político. “Não hesitem em investir em transporte público. Os prefeitos, governadores e gestores públicos que fizeram isso foram exitosos", alerta Sérgio Avelleda, ex-secretário de Mobilidade de São Paulo e coordenador do núcleo de Mobilidade Urbana do Laboratório de Cidades do Insper Arq.Futuro.
"Vejam os exemplos do Jaime Lerner, em Curitiba, do prefeito Enrique Peñalosa, de Bogotá, e da Anne Hidalgo, de Paris, que inovaram e priorizaram a mobilidade coletiva de qualidade e foram bem sucedidos politicamente. Todos reeleitos. A nossa população se desloca mesmo é de transporte público. Não esqueçam disso”, exemplifica. Avelleda participou do painel de abertura do evento da NTU nesta terça-feira (9/8).
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