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Metrô do Recife: metroviários votam estado de greve nesta terça como pressão contra sucateamento

O passageiro está sendo punido demasiadamente com um serviço cada dia mais demorado e menos confortável, operado com a menor quantidade de trens da história do sistema, que desde 1985 atende ao Grande Recife

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Roberta Soares

Publicado em 06/09/2022 às 11:34 | Atualizado em 06/09/2022 às 11:53
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Os metroviários de Pernambuco devem aprovar um estado de greve nesta terça-feira (6/9) como forma de pressão pelo sucateamento do Metrô do Recife, que vem definhando sem recursos que garantam, ao menos, a operação básica.

Uma assembleia acontece a partir das 18h, na Estação Recife do metrô, no Bairro de São José, Centro do Recife. O ato, como explica o SindMetro, é para cobrar a liberação de recursos e verbas de investimentos e custeio (manutenção).

Também segundo o SindMetro, em junho deste ano, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) prometeu destinar R$ 29 milhões no mês seguinte, em julho, e não teria cumprido com o envio.

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O SindMetro denuncia que o Metrô do Recife estava operando com aproximadamente 50% do orçamento mínimo que precisa e, este ano, o dinheiro foi reduzido ainda mais, para apenas 30% da quantia necessária apenas para custeio da operação. A assembleia extraordinária é exatamente uma reação ao descaso do governo federal.

“A estratégia do governo federal é deixar o sistema se acabar para força a privatização, ou seja, passar para a operação da iniciativa privada. Como o governo do Estado, atendendo ao nosso pedido, suspendeu os estudos que estavam sendo feitos nesse sentido, a União está apostando no sucateamento total”, critica o presidente do SindMetro, Luiz Soares.

Na verdade, o projeto prevê a concessão pública do metrô e, não, a privatização porque o sistema não seria vendido, mas concedido a um operador privado por aproximadamente 30 anos.

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SITUAÇÃO CRÍTICA

A ausência de recursos até mesmo para o custeio da operação está matando o Metrô do Recife. Sem investimentos, os problemas ficam ainda piores. O passageiro está sendo punido demasiadamente com um serviço cada dia mais demorado e menos confortável, operado com a menor quantidade de trens da história do sistema, que desde 1985 atende ao Grande Recife.

“O sistema deveria operar com, no mínimo, de 18 a 20 trens, mas está funcionando com 14 composições. Há dias em que é até menos. E isso para as duas linhas: Centro e Sul. É um absurdo”, critica Luiz Soares.

A Linha Centro, a de maior demanda, está operando como uma média de 8 trens. No horário do pico da manhã, com muito, muito esforço, os profissionais da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) conseguem disponibilizar 9 composições. Até por volta das 7h.

GUGA MATOS/JC IMAGEM
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Na Linha Sul - criada com a proposta de ter um padrão mais elevado de serviço e, assim, conseguir atrair os moradores da Zona Sul do Recife e de Jaboatão dos Guararapes -, o número é ainda menor: 6 operam. A Linha Diesel, onde opera o VLT até o Cabo de Santo Agostinho, são apenas dois equipamentos. E o ramal Curado/Cajueiro Seco só está funcionando até a estação Marcos Freire.

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Ou seja, a situação não podia estar pior. Nos anos em que a Linha Centro operava com 14/15 trens já havia problemas, imagine agora, com a oferta atual? E os dados são oficiais. A CBTU, quando questionada, alega que os intervalos no pico estão de 10 a 12 minutos no chamado “tronco do metrô” - ou seja, as estações ao longo do percurso, o que já é muito quando se fala de um sistema metroviário.

Quando vamos para os ramais, esse intervalo sobe para 20 minutos. A população diz que é muito mais. Chega a 30 minutos diariamente, tanto na Linha Centro como na Sul. O resultado são trens cada vez mais e mais lotados, usados por passageiros que pagam uma tarifa cara - R$ 4,25 no metrô e pelo menos R$ 4,10 se entrar pela integração com os ônibus.

ESTADUALIZAÇÃO ENGAVETADA

Sem recursos para nada, o Metrô do Recife também segue sem perspectivas, o que é o mais angustiante. Não recebe recursos do governo federal, via Administração Central da CBTU e MDR, e ainda viu o estudo de uma possível estadualização e futura gestão privada ser engavetado pessoalmente pelo governador Paulo Câmara (PSB).

Em maio, o governador se comprometeu com os metroviários de que não iria avançar com o processo de estadualização e, posteriormente, concessão do Metrô do Recife à operação privada.

Assumiu o compromisso depois que técnicos da Secretaria de Planejamento de Pernambuco - com o seu aval - modelaram uma proposta de Parceria Público Privada (PPP) em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a pedido do governo federal. O Ministério da Economia decidiu conceder os sistemas operados pela CBTU no Brasil, além da Trensurb de Porto Alegre para gestão privada. E, apesar da recusa do Estado, os estudos seguem.

O SindMetro pressionou e ameaçou paralisar o metrô, conseguindo travar o processo pelo menos na gestão de Paulo Câmara. De lá para cá, nada aconteceu e o metrô seguiu em destruição, sem dinheiro para custeio, muito menos para investimentos, com muitas quebras, intervalos superiores a sistemas de trens de subúrbio e, ainda, sem perspectiva. Nenhuma perspectiva.

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