Futuro governador de Pernambuco vai ter que encarar o problema do Metrô do Recife. Não terá como fugir
Não dá mais para fingir que sucateamento do sistema metropolitano é responsabilidade só do governo federal
Um dos principais desafios do futuro governador de Pernambuco será encarar o problema em que se transformou o Metrô do Recife. Encará-lo de frente, entendendo que, embora seja um sistema gerido pelo governo federal, atende à população da Região Metropolitana do Recife e, não, do Brasil ou de Brasília, onde está sediado seu comando.
Diretamente, atende às pessoas que residem ou trabalham nas cidades do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho. Indiretamente, todo o Grande Recife, sendo fundamental, inclusive, para o sistema de ônibus, que alimenta e é alimentado pelos trens.
Não há mais espaço para fingir que o problema não é do Estado - prática comum até agora. A situação de abandono do sistema não permite e a sociedade não atura mais esse tipo de posicionamento.
“Uso o metrô todos os dias e sinto na pele o quanto o sistema tem piorado nos últimos anos. Nossos políticos precisam entender que o passageiro não sabe e não se importa se a gestão é estadual ou federal”, ensina o professor Carlos Henrique Silva, passageiro diário da Linha Sul do sistema metropolitano.
“Ele quer um serviço pelo menos razoável, que possa chegar ao trabalho e voltar para casa com o mínimo de conforto e rapidez. De tão sucateado, o metrô mais parece um trem velho. E com uma tarifa cara, de R$ 4,25”, critica.
OUTROS DESAFIOS:
- Licitação das linhas de ônibus do Grande Recife é dívida de quase uma década
- Três horas, três ônibus e um metrô para percorrer 20 km: o preço que Rômulo paga pela imobilidade no Grande Recife
- Consórcio de transporte do Grande Recife ainda não fez a diferença
- Na mobilidade urbana, os desafios são muitos para o futuro governador de Pernambuco
Ou seja, o problema terá que ser encarado. E é um grande, grande problema. O Metrô do Recife perdeu quase 50% da demanda de passageiros com a pandemia - enquanto os sistemas, de forma geral, perderam entre 30% e 40% - e há pelo menos cinco anos sobrevive com um pouco mais da metade do orçamento de custeio que necessita apenas para garantir a operação básica.
Terça (23/8/22) começa com atraso na abertura das estações do metrô
Sem falar de recursos para investimentos, algo que não é mais sequer previsto no orçamento da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
Uso o metrô todos os dias e sinto na pele o quanto o sistema tem piorado nos últimos anos. Nossos políticos precisam entender que o passageiro não sabe e não se importa se a gestão é estadual ou federal”,ensina o professor Carlos Henrique Silva, passageiro diário da Linha Sul do sistema metropolitano
ESTADUALIZAÇÃO TERÁ QUE SER ENCARADA
Especialistas em transporte e administração pública ouvidos pelo JC são unânimes em afirmar que a estadualização do Metrô do Recife terá que ser encarada pelo futuro governador. Não há volta.
Os estudos de uma Parceria Público Privada (PPP), elaborados pelos técnicos da Secretaria de Planejamento de Pernambuco (Seplag) em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sob coordenação do Ministério da Economia, forçaram essa situação. Mesmo tendo sido engavetados pessoalmente pelo governador do Estado, Paulo Câmara, em maio deste ano, a pedido do Sindicato dos Metroviários, que ameaçou uma greve e aproveitou as Eleições 2022 para fazer pressão.
“Não tem mais como fingir que o metrô não é problema do Estado. Sabemos que a estratégia é esperar a eleição em outubro e apostar que o ex-presidente Lula será eleito, suspendendo todo o processo de concessão privada da CBTU que o atual governo federal iniciou ainda em 2019”, alerta um técnico sob anonimato.
MAIS DESAFIOS:
“Mesmo que isso aconteça e Lula vire presidente, o futuro governador vai, novamente, fazer uma aposta de quatro anos sem encontrar uma solução de longo prazo para o metrô? E depois? Ou seja, a cada quatro anos será uma aposta diferente?”, segue raciocinando.
“O Metrô do Recife precisa de dinheiro. Aliás, de muito dinheiro. Mesmo Lula assumindo, a condição fiscal do País será muito difícil e não sabemos qual a margem de investimento que ele terá. Estamos falando de um déficit, por baixo, de R$ 250 a R$ 300 milhões anuais”, revela.
A PROPOSTA DE CONCESSÃO
Os estudos realizados pelo corpo técnico do Estado e do BNDES indicavam que o governo de Pernambuco seria o gestor do futuro contrato de concessão pública do Metrô do Recife, um pacote que representaria o montante de R$ 8,4 bilhões em 30 anos. Desse total, R$ 3,8 bilhões serão aportes públicos para reerguer o sistema e cobrir a diferença entre receita tarifária e despesa de operação.
Sendo, R$ 3,1 bilhões mobilizados pelo governo federal e R$ 700 milhões pelo governo de Pernambuco. E, dos R$ 3,1 bilhões bancados pela União (Ministério da Economia), R$ 1,4 bilhão serão recursos que ficarão guardados para serem utilizados pelo Estado ao longo do contrato de concessão pública.
O R$ 1,4 bilhão será a reserva para garantir o equilíbrio econômico financeiro do contrato, já que os estudos realizados nesses dois anos já apontaram que a receita gerada pela demanda de passageiros do Metrô do Recife não será suficiente para cobrir o custo de operação.
SAIBA MAIS SOBRE A PROPOSTA DE CONCESSÃO DO METRÔ DO RECIFE:
O modelo a ser adotado pelo governo do Estado seria de concessão pública simples, sem contrapartida financeira ao longo do contrato. O processo de estadualização e concessão pública começaria ainda em 2022 segundo previsão dada ao governo de Pernambuco pelo Ministério da Economia, que comanda os estudos.
A modelagem e os valores foram apresentados ao Ministério da Economia no fim de 2021 e foram validados pela equipe técnica que está à frente dos estudos.
QUEBRAS DO METRÔ
São muitas as consequências do abandono. Mas a principal delas é a quebra e a consequente paralisação do sistema, prejudicando os passageiros que dependem do serviço. Já foram 400 mil pessoas transportadas por dia, nas duas linhas principais do sistema: Linhas Centro e Sul. Agora está no patamar dos 200 mil passageiros diários.
A crise econômica aliada ao aumento de mais de 180% no valor da passagem - que subiu de R$ 1,60 para R$ 4,25 num período inferior a dois anos - e as quebras provocadas pelo sucateamento espantaram o usuário.
Também de acordo com os dados encaminhados pela CBTU, foram nove quebras somente entre janeiro e abril de 2022. Em 2021, outras 22 paralisações. Algumas superiores a 24 horas de interrupção do sistema, o que comprova o grau de desmonte do metrô. A maioria com mais de 10h.
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ensina o professor Carlos Henrique Silva, passageiro diário da Linha Sul do sistema metropolitano