Se alguém ainda se agarrava ao discurso fácil e oportuno de que o Metrô do Recife é um problema do governo federal, apenas dele, o que aconteceu no Grande Recife nas primeiras horas da manhã desta terça-feira (23/8) provou que não há mais lugar para esse pensamento. E a constatação se deu na prática.
Nesta terça, os passageiros que residem em Camaragibe e São Lourenço da Mata, cidades vizinhas do Recife na área Oeste da Região Metropolitana, perderam a paciência com as frequentes - em algumas semanas, diárias - panes do metrô e decidiram: se não tem metrô, também não tem ônibus.
Mais um problema provocado pelo sucateamento do metrô fez com que a Linha Centro atrasasse em duas horas a operação em algumas estações, entre elas a Camaragibe.
Revoltados, os passageiros fecharam a saída do Terminal Integrado de Camaragibe, impedindo a realização de pelo menos 500 viagens de ônibus até às 10h e atrapalhando a vida de aproximadamente 20 mil pessoas no horário.
O problema que para muitos é somente federal, caiu no colo do governo do Estado e das prefeituras de Camaragibe e do Recife. E o recado foi dado pelo passageiro trabalhador, aquele que precisa chegar no emprego todos os dias, independentemente de qual partido ou linha política sejam os governos ou os gestores do Metrô do Recife.
"Não tem informação, precisamos chegar ao trabalho e ninguém diz nada. De São Lourenço para cá, o trânsito está parado. Não sei como vou chegar na minha casa hoje", afirmou uma das passageiras, em Camaragibe.
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PLANO EMERGENCIAL
A situação é tão ruim, a perspectiva de mudança tão vazia, que entre operadores do transporte público da RMR já se pensa e defende a necessidade de ser criado um plano B para todas as vezes em que o metrô deixar a população sem deslocamento.
Uma rede alternativa, emergencial, sustentada numa oferta acima do necessário de ônibus, seria criada para as emergências - que tem sido semanais, quase diárias.
E, se isso for oficializado, o problema estará mais uma vez no colo do Estado, já que esse reforço de frota representa mais custo de operação. E alguém terá que pagar essa conta. Nesse caso, o passageiro e o governo de Pernambuco, que é o gestor oficial do transporte por ônibus no Grande Recife.
Ou seja, o problema estará, mais uma vez, no colo do Estado, que ainda insiste que o Metrô do Recife é um problema federal, embora quem ande nele não sejam os brasilienses, mas a população da Região Metropolitana do Recife.
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O mesmo vale para as prefeituras do Recife (para onde a maioria dos passageiros do metrô quer chegar), de Camaragibe (que embora tenha o BRT Leste-Oeste, depende do metrô) e de Jaboatão dos Guararapes (a cidade mais dependente de todas do sistema metroviário).
ENTENDA O MAIS RECENTE PROBLEMA DO METRÔ DO RECIFE
A terça-feira começou confusa na Zona Oeste do Grande Recife. Regularmente abertas às 5h, a Estação Camaragibe e algumas localizadas no Ramal Jaboatão só iniciaram as atividades a partir das 5h50.
Em protesto pelo atraso, passageiros da Estação Camaragibe fecharam o TI Camaragibe. Quando o Consórcio MobiBrasil começou a fazer uma operação na área externa para tentar atender à demanda do metrô - mesmo com dificuldade -, o protesto foi transferido para a Avenida Belmino Correia, a principal de Camaragibe.
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A cidade parou e os terminais integrados próximos à Camaragibe, como o TI Caxangá e o TI Macaxeira, receberam uma demanda inesperando, gerando problemas em cadeia.
Veja o cemitério de trens do Metrô do Recife:
Em nota, a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) informou que a Linha Centro abriu com atraso às 5h42, devido à manutenção realizada no Ramal Jaboatão durante a madrugada. No entanto, não havia sinalização do atraso nas estações.
Segundo a Companhia, às 7h39, a Linha Centro voltou a operar normalmente.
Já o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor dos ônibus, disse apenas “ter sido surpreendido pelo protesto e que só poderia aguardar o fim para normalizar a operação”.
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