O Metrô do Recife está pedindo socorro. De novo e de novo. E, mais uma vez, ninguém se importa. Nem o governo de Pernambuco, nem as prefeituras do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho (beneficiadas diretamente pelo sistema, além de todas da RMR, indiretamente), muito menos o governo federal - a “mãe” do metrô pernambucano. A "explosão" provocada por um provável curto circuito em um dos trens do Ramal Jaboatão da Linha Centro, nesta terça-feira (16/8), foi mais um reflexo dessa situação.
A ausência de recursos até mesmo para o custeio da operação está matando o Metrô do Recife. Sem investimentos, os problemas ficam ainda piores. O passageiro está sendo punido demasiadamente com um serviço cada dia mais demorado e menos confortável, operado com a menor quantidade de trens da história do sistema, que desde 1985 atende ao Grande Recife.
A Linha Centro, a de maior demanda, está operando como uma média de 8 trens. No horário do pico da manhã, com muito, muito esforço, os profissionais da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) conseguem disponibilizar 9 composições. Até por volta das 7h.
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Na Linha Sul - criada com a proposta de ter um padrão mais elevado de serviço e, assim, conseguir atrair os moradores da Zona Sul do Recife e de Jaboatão dos Guararapes -, o número é ainda menor: 6 operam. A Linha Diesel, onde opera o VLT até o Cabo de Santo Agostinho, são apenas dois equipamentos. E o ramal Curado/Cajueiro Seco só está funcionando até a estação Marcos Freire.
Ou seja, a situação não podia estar pior. Nos anos em que a Linha Centro operava com 14/15 trens já havia problemas, imagine agora, com a oferta atual? E os dados são oficiais. A CBTU, quando questionada, alega que os intervalos no pico estão de 10 a 12 minutos no chamado “tronco do metrô” - ou seja, as estações ao longo do percurso, o que já é muito quando se fala de um sistema metroviário.
Quando vamos para os ramais, esse intervalo sobe para 20 minutos. A população diz que é muito mais. Chega a 30 minutos diariamente, tanto na Linha Centro como na Sul. O resultado são trens cada vez mais e mais lotados, usados por passageiros que pagam uma tarifa cara - R$ 4,25 no metrô e pelo menos R$ 4,10 se entrar pela integração com os ônibus.
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A “explosão” desta terça-feira é mais um sinal desse estrangulamento da manutenção do serviço. Quanto menor a quantidade de trens disponíveis para a operação, a tendência é que eles passem cada vez menos tempo na manutenção preventiva. A pressa para que retornem à operação predomina.
“Quando se tem trens suficientes e reservas, a manutenção é feita com mais cuidado e mais tempo. O risco de passar algo despercebido é muito menor, é praticamente zero”, explica um metroviário, em anonimato. E assim o Metrô do Recife vai seguindo.
ESTADUALIZAÇÃO ENGAVETADA
Sem recursos para nada, o Metrô do Recife também segue sem perspectivas, o que é o mais angustiante. Não recebe recursos do governo federal, via Administração Central da CBTU e Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), e ainda viu o estudo de uma possível estadualização e futura gestão privada ser engavetado pessoalmente pelo governador Paulo Câmara (PSB).
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Em maio, o governador se comprometeu com os metroviários de que não iria avançar com o processo de estadualização e, posteriormente, concessão do Metrô do Recife à operação privada.
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Assumiu o compromisso depois que técnicos da Secretaria de Planejamento de Pernambuco - com o seu aval - modelaram uma proposta de Parceria Público Privada (PPP) em parceria com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a pedido do governo federal. O Ministério da Economia decidiu conceder os sistemas operados pela CBTU no Brasil, além da Trensurb de Porto Alegre para gestão privada. E, apesar da recusa do Estado, os estudos seguem.
O Sindicato dos Metroviários (SindMetro) pressionou e ameaçou paralisar o metrô, conseguindo travar o processo pelo menos na gestão de Paulo Câmara. De lá para cá, nada aconteceu e o metrô seguiu em destruição, sem dinheiro para custeio, muito menos para investimentos, com muitas quebras, intervalos superiores a sistemas de trens de subúrbio e, ainda, sem perspectiva. Nenhuma perspectiva.
Cada grupo defendendo apenas seus nichos, enquanto o passageiro sofre e paga a conta.
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