A estratégia para evitar a privatização do Metrô do Recife - que sofre com um déficit operacional anual de pelo menos R$ 300 milhões, sem considerar investimentos - será pressionar o governo federal para que sejam liberados recursos não só para reequipar o sistema, mas também modernizá-lo e até expandi-lo.
A pressão, entretanto, será uma espécie de “sensibilização”, já que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sempre se colocou contrário à concessão pública de muitos serviços, entre eles o transporte público sobre trilhos.
Essa foi a principal decisão da primeira reunião de 2023 do Fórum Permanente pela Mobilidade e Defesa do Metrô, realizada na sexta-feira (3/2), no Recife, e que contou com um apoio de peso: o senador pernambucano Humberto Costa (PT-PE). O Fórum Permanente é uma articulação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE) e do Sindicato dos Metroviários de Pernambuco (Sindmetro-PE), e foi instalado em maio de 2022.
O senador se comprometeu a agendar uma audiência com o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho, para discutir o sucateamento do sistema metropolitano. Além da pasta que responde pelo metrô - gerido e operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) -, Humberto Costa também irá em busca do apoio do ministro da Casa Civil, Rui Costa, para garantir os recursos necessário para arrumar o metrô e retirar a CBTU do Programa Nacional de Desestatização.
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A privatização do Metrô do Recife era praticamente certa na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e chegou a ter o estudo da concessão pública concluído pelo BNDES, sob coordenação do Ministério da Economia. Mas o modelo foi engavetado pelo ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB) a pedido do Sindmetro, antes das Eleições 2022.
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“Queremos encontrar saídas e alternativas para que o Metrô do Recife volte a ocupar papel importante na prestação com qualidade do serviço de transporte público da RMR. Há um sentimento claro do processo de desmonte que o sistema sofreu ao longo da administração do ex-presidente Michel Temer e, principalmente, de Jair Bolsonaro”, afirmou Humberto Costa.
“E o momento de reverter esse cenário é agora, quando começa um governo novo, progressista, preocupado com a prestação do serviço público de qualidade para a população. É fundamental garantirmos investimentos para impedir a continuidade desse desmonte e pensarmos, inclusive, em investimentos para ampliação do metrô”, seguiu.
Como esperado, além da busca por recursos para reduzir o sucateamento do sistema, o senador também defendeu a permanência do caráter público do Metrô do Recife.
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“E não podemos deixar de lado a importante discussão sobre o desenho institucional que o metrô deve ter, que na nossa opinião deve ser uma instituição estatal com participação direta do governo federal”, finalizou.
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Para o presidente do Crea-PE, Adriano Lucena, o debate promovido pelo Fórum Permanente não deve ser apenas sobre o sucateamento do Metrô do Recife, mas também sobre a valorização dos profissionais e de um transporte público de qualidade, com preço justo. “Os trabalhadores precisam ser ouvidos e participarem da tomada de decisão”, completou.
Já o presidente do Sindmetro, Luiz Soares, destacou a importância do metrô para o transporte público do Grande Recife, principalmente pelo caráter social do modal. “Defendemos a tarifa social, que permite ao trabalhador frequentar o sistema. Também é fundamental que o metrô receba verbas para manutenção e passe a atender à região norte do Grande Recife”, afirmou Soares.
O sistema Metropolitano atende à área norte da RMR apenas indiretamente, via integração com os ônibus. As duas linhas do sistema, Linha Centro e Sul, têm atendimento principal nas regiões Oeste e Sul do Grande Recife.