A crise enfrentada pelo Metrô do Recife, provocada pelo sucateamento estrutural do sistema, é um problema que diz respeito a todas as esferas da gestão pública: federal, estadual e, ainda, municipal. Não é um problema apenas do governo federal, que ainda administra e opera o sistema metroferroviário pernambucano via Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
O metrô é metropolitano e os quase 200 mil passageiros que os utilizam diariamente são moradores da capital e do Grande Recife. Por isso, diz respeito às prefeituras da Região Metropolitana do Recife, já que todo o Grande Recife é beneficiado pelo sistema, seja direta ou indiretamente.
Principalmente a capital pernambucana, para onde mais de 80% dos deslocamentos urbanos da região se dirigem. O metrô atende diretamente quatro cidades - Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe -, mas, com a integração com os ônibus, todas as cidades acabam sendo atendidas.
LEMBRE-SE: A CAPITAL E TODAS AS CIDADES DO GRANDE RECIFE SÃO BENEFICIADAS PELO METRÔ
Por isso, os prefeitos precisam parar de fingir que o problema não lhes diz respeito e enfrentar a luta travada por vários atores - principalmente metroviários e, agora, também políticos - para tentar recuperar o sistema, que definha.
E na linha de frente dessa batalha deveriam estar os prefeitos do Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e Cabo de Santo Agostinho principalmente. Na audiência pública que discutiu a crise do metrô, realizada na segunda-feira (21/8), nenhum deles estava na mesa ou na plateia.
CONHEÇA o Cemitério de Trens do Metrô do Recife
A greve do sistema, que já se arrasta há 12 dias, assim como os problemas técnicos vivenciados nos últimos meses, nunca são citados pelos gestores municipais. Nem mesmo pelos mais midiáticos, como o prefeito do Recife, João Campos (PSB), que se comunica diariamente pelas redes sociais e sobre vários temas.
Por isso, fica a pergunta: até quando?
E essa articulação precisa ser feita antes que o metrô sofra uma paralisação técnica - o que está na iminência de acontecer se não houver investimentos na manutenção dos equipamentos.
ESTADO, MESMO SEM POSIÇÃO CLARA SOBRE O FUTURO DO METRÔ, TEM TIDO MAIS PARTICIPAÇÃO DO QUE TODAS AS PREFEITURAS
A governadora Raquel Lyra, por exemplo, tem entrado na discussão do metrô. Embora não tenha se posicionado diante dos problemas do sistema de ônibus - do qual é gestora -, a chefe do executivo estadual tem feito gestos na direção do sistema metroferroviário pernambucano que há muito tempo não se via por parte do Estado. Até porque, não esqueçamos, foi promessa de campanha dela.
Tem conversado com o governo federal sobre a situação do sucateamento do sistema e enviou representantes em toda a agenda da força-tarefa do Congresso Nacional que foi ver de perto a crise do sistema.
PARTICIPAÇÃO DAS PREFEITURAS NO SISTEMA DE TRANSPORTE POR ÔNIBUS É OBRIGAÇÃO
A omissão dos prefeitos do Grande Recife deve ser cobrada, ainda, em relação ao sistema de transporte público por ônibus. Se no caso da crise do Metrô do Recife, os gestores municipais deveriam se incomodar e entrar na luta, no caso dos ônibus eles têm obrigação.
Para quem não sabe, o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP/RMR) é gerido por um consórcio que deveria agregar todas as prefeituras. Em 2011, a antiga EMTU foi extinta exatamente para isso. Mas apenas o Recife e Olinda aderiram ao Consórcio Grande Recife de Transporte Metropolitano (CTM).
O Recife, vale ressaltar, não poderia deixar de aderir - já que mais de 80% das linhas do STPP passam pela capital. Mas, embora tenham aderido, os dois prefeitos - Recife e Olinda - apenas acompanham os problemas e as crises enfrentadas pelo sistema de ônibus.
E, pelo visto, sentados e de pernas cruzadas.
E estamos falando do transporte de quase 2 milhões de passageiros diariamente. Cidadãos e eleitores das 14 cidades do Grande Recife.
METRÔ DO RECIFE EM CRISE
Na tentativa de estimular o envolvimento dos gestores municipais na crise enfrentada pelo Metrô do Recife, reunimos alguns dados que mostram a importância e as dificuldades do sistema.
*Apenas as quatro cidades atendidas diretamente pelo Metrô do Recife representam 67,8% da população da RMR.
* O Metrô do Recife vem recebendo, desde a gestão do ex-presidente Michel Temer, entre 30% e 50% do orçamento necessário apenas para custeio da operação.
* O déficit operacional do metrô é de R$ 300 milhões por ano.
* O sistema precisaria, segundo estudos da própria CBTU Recife, de pelo menos R$ 2 bilhões para se reerguer e voltar a ter a operação que tinha há dez anos.
* O sistema está operando atualmente com apenas 17 trens nos horários de pico (10 trens na Linha Centro e 7 na Linha sul) e 13 no fora pico, chamado vale (8 trens na Linha Centro e 5 na Linha Sul).
* Transporta apenas 176 mil passageiros por dia. Já foram 25 trens em operação e quase 400 mil pessoas transportadas diariamente.
* A falta de infraestrutura faz com que os intervalos do sistema cheguem a 15 minutos mesmo nos horários de pico.
PERIGO NA ESTAÇÃO DE METRÔ DO RECIFE: Rede de transmissão cai e assusta passageiros
O valor de quase R$ 2 bilhões seria para aquisição de 20 novos trens, recuperação das composições que ainda operam (atualmente são apenas 17 veículos), requalificação da rede férrea onde rodam os trens e da estrutura física do sistema (estações de passageiros e subestações de energia).
Somente a aquisição de novos trens custaria R$ 900 milhões. O restante do valor, que totalizam R$ 866 milhões, seria para as outras intervenções.
CONFIRA OS VALORES POR EQUIPAMENTO:
Total necessário: R$ 1,8 bilhão
Aquisição de 20 novos trens: R$ 900 milhões
Recuperação da via permanente (rede férrea onde circulam os trens): R$ 245 milhões
Recuperação do material rodante (trens e veículos de manutenção): R$ 304 milhões
Recuperação e requalificação das edificações do sistema (estações): R$ 51 milhões
Recuperação e requalificação dos sistemas físicos (subestações de energia): 260 milhões