CRISE TRANSPORTE PÚBLICO

Depois da queda o coice: assaltos a ônibus expõem crise no transporte público do Grande Recife e exigem reação do Estado

Como se não bastassem as mazelas operacionais que o sistema de transporte da Região Metropolitana do Recife já enfrenta, a violência urbana vem para afastar ainda mais o passageiro, que já está fugindo para o Uber e 99 Moto, vale ressaltar

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Roberta Soares

Publicado em 10/05/2024 às 13:06 | Atualizado em 10/05/2024 às 13:53
Notícia

A frase que melhor define o que está acontecendo atualmente no Sistema de Transporte Público da Região Metropolitana do Recife é: depois da queda, o coice. Os recentes casos de assaltos, mortes e até ‘justiça com as próprias mãos’ que têm sido praticada por alguns passageiros, são a base dessa afirmação.

O sistema de transporte público coletivo do Grande Recife agoniza. E a impressão que se tem é de que nada ou muito pouco está sendo feito - com todo respeito aos esforços do poder público.

O STPP vem sofrendo de diversas mazelas operacionais, que ganharam dimensões ainda maiores com a pandemia de convid-19. São as invasões de usuários e evasões de receita que já comprometem mais de 11% da arrecadação e a queda da qualidade do serviço, com frota velha e empresas como a Vera Cruz, sofrendo ‘intervenções’ para conseguir garantir o serviço mínimo. Tudo reflexo das mazelas.

Nesta sexta-feira, por exemplo, a operação da empresa Borborema foi prejudicada por protesto dos rodoviários, afetando mais de 80 linhas e deixando bairros do Grande Recife sem atendimento até as 8h. Na semana passada, um motorista foi agredido a socos e tapas por um passageiro irritado com a queima de uma parada. Mais um reflexo de problemas operacionais vivenciados pelo setor.

Agora, o STPP volta a conviver com uma insegurança urbana que explodiu nos últimos meses e teve casos de morte de passageiros e violência generalizada num intervalo inferior a uma semana. Os assaltos a coletivos vêm tendo altas faz tempo - em 2023 foi registrado um crescimento superior a 32% -, mas agora, com os recentes casos, percebe-se que a situação está fugindo ao controle do governo de Pernambuco. 

Um problema que afeta o transporte público, mas que não pode ser resolvido por quem o opera ou gere o sistema. Ou seja, nem o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM) nem os operadores do setor, muito menos os trabalhadores, têm condições de resolvê-lo.

Reprodução
Um suspeito morreu e outros foram espancados por passageiros durante assalto a ônibus BRT, na noite dessa quinta-feira (9) - Reprodução

A insegurança que se reflete nos coletivos é um problema da Secretaria de Defesa Social, não da gestão do transporte público. E, por isso, um problema ainda mais preocupante. Porque os efeitos do problema estão no já sofrido transporte coletivo da RMR, mas a reação a eles está com a pasta da Segurança Pública de Pernambuco.

E, assim como a invasão dos ônibus, o surf sobre o teto dos coletivos e a frota sem refrigeração e envelhecida, os assaltos aos BRTs e ônibus convencionais comprometem ainda mais a imagem do sistema.

E afugenta o passageiro. Cada vez mais.

SEM DINHEIRO CIRCULANDO NOS ÔNIBUS, PASSAGEIROS VIRARAM O PRINCIPAL ALVO DOS ASSALTOS

Para comprometer ainda mais a imagem do transporte público, o fim da circulação do dinheiro nos coletivos colocou o passageiro como alvo principal e, muitas vezes, único, dos assaltantes.

Isso potencializa ainda mais o medo de quem precisa usar o transporte coletivo e afasta ainda mais aquele passageiro que poderia fazer uso. Vão todos para o Uber e 99 Moto, vale lembrar.

É uma guerra perdida. Para um sistema que já tem muitas mazelas operacionais para cuidar. Não precisa também da violência urbana.

Por isso, é correto afirmarmos: depois da queda, o coice.

ENTENDA OS ASSALTOS RECENTES NOS ÔNIBUS DO GRANDE RECIFE

Um assaltante foi morto a facadas por um passageiro, um criminoso ficou gravemente ferido e outros três foram agredidos, na madrugada desta sexta-feira (10/5), em um assalto ao BRT do Corredor Leste-Oeste que fazia a linha Camaragibe/Conde da Boa Vista.

Acervo pessoal
Gean Carlos Lopes Júnior estudava na Universidade Federal Rural de Pernambuco e trabalhava como operador de caixa - Acervo pessoal

O assalto aconteceu após a estação Benfica, na Avenida Caxangá, no bairro da Madalena, Zona Oeste do Recife. Um último ladrão do grupo de seis conseguiu fugir com os bens das vítimas do assalto.

Segundo a Polícia Civil, pessoas que estavam fora do ônibus ouviram os gritos dos passageiros e também ajudaram a atacar os assaltantes quando perceberam que era um assalto.

Quatro assaltantes feridos, com idades entre 22 e 35 anos, foram levados para o Hospital da Restauração, no bairro do Derby.

Mais cedo, às 20h30, outra tentativa de assalto foi registrada em um ônibus que fazia a linha Camaragibe/Macaxeira, na altura da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), no bairro do Sítio dos Pintos, na Zona Norte da capital. Não houve feridos.

UNIVERSITÁRIO FOI MORTO EM ASSALTO

Na noite de 1º de maio, outro assalto a ônibus acabou em tragédia no Centro do Recife. A vítima foi o universitário Gean Carlos Lopes Júnior, de 20 anos, que reagiu ao ser abordado por três assaltantes.
O assalto aconteceu no cruzamento das Avenidas Guararapes e Dantas Barreto, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. O estudante foi atingido a facadas no abdômen e na perna.

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