Crise no transporte público: subsídios públicos e Tarifa Zero aumentaram no País. Ao menos uma boa notícia

Uma das poucas notícias boas para o setor e um dos efeitos positivos do choque vivenciado pelo transporte público na pandemia de covid-19

Publicado em 06/08/2024 às 14:16

Apesar de os ônibus brasileiros estarem perdendo quase 20 mil passageiros por dia, nem tudo são más notícias no setor de transporte público coletivo do País. O Anuário NTU 2023-2024, elaborado pela Associação Nacional das Empresas de Transporte de Transportes Urbanos (NTU), mostra que, ainda que lentamente, o setor tem conseguido ganhar força como política pública e social.

E isso tem acontecido com a ampliação dos subsídios públicos e a adoção da Tarifa Zero no País - um dos efeitos positivos do choque vivenciado pela pandemia de covid-19, quando a maioria dos sistemas de transporte público brasileiros tiveram uma perda de demanda superior a 80%.

A quantidade de cidades brasileiras que subsidiam os passageiros do transporte público por ônibus aumentou significativamente nos últimos quatro anos. Atualmente, 365 cidades possuem algum subsídio tarifário em seus sistemas de transporte coletivo por ônibus. Desse total, 135 cidades adotaram o subsídio total, ou seja, a Tarifa Zero.

Essa análise integra o relatório temático “Subsídios para o Transporte Coletivo Urbano por Ônibus”, encartado no Anuário NTU.

A amostra pesquisada pela NTU revela que a média dos subsídios aplicados atualmente no Brasil é de 30% do custo total dos serviços, ainda abaixo do patamar aplicado internacionalmente, em média de 55% dos custos.

“Mas já representa um grande avanço em relação ao cenário pré-pandemia. A ampliação do número de cidades que subsidiam os passageiros de seus sistemas de transporte coletivo contribui para manter as tarifas públicas baixas e é um atrativo para a volta dos usuários do serviço”, analisa o diretor executivo da NTU, Francisco Christovam.

Os dados foram apresentados nesta terça-feira (6/8), durante o Seminário Nacional de Transportes, que acontece em São Paulo até o dia 8/8 e está sendo acompanhado pela Coluna Mobilidade.

EM UMA DÉCADA, ÔNIBUS PERDERAM METADE DAS VIAGENS

Reprodução
Anuário da NTU mostra, mais uma vez, a perda de passageiros nos ônibus do Brasil - Reprodução

O Anuário NTU mostra que os ônibus do Brasil tiveram uma redução de praticamente metade das viagens nos últimos dez anos. Foram 44,1% viagens a menos.

E, embora o fenômeno tenha se intensificado na pandemia de covid-19, o cenário de antes já foi praticamente recuperado, mas mesmo assim os passageiros seguem fugindo.

“Não conseguimos ainda a recuperação plena e nem sei se ela virá mais, diante das opções de transporte que a população tem hoje em dia - os aplicativos, sejam carros ou motos, entre elas. Mas já chegamos a uma recuperação de 85% do que perdemos na pandemia. Esse é o cenário atual e que vem se mantendo”, analisa o diretor executivo da NTU, Francisco Christovam.

Além disso, os sistemas de ônibus do País estão perdendo quase 20 mil passageiros por dia, pelo menos desde 2014. E esses passageiros estão fugindo do transporte coletivo por diversas razões.

Divulgação NTU
Anuário da NTU mostra, mais uma vez, a perda de passageiros nos ônibus do Brasil - Divulgação NTU

Na lista, destacam-se a baixa qualidade do serviço oferecido, comprometido por frotas velhas, sem refrigeração, prioridade viária para os ônibus ainda tímida nas cidades, tarifas altas para o bolso da população e, principalmente, a concorrência dos aplicativos de transporte, especialmente o realizado com motos, como Uber e 99 Moto.

FUGA PARA O TRANSPORTE PRIVADO E, AGORA MAIS DO QUE NUNCA, PARA OS APPS DE MOTO, COMO UBER E 99 MOTO

Os especialistas em mobilidade urbana são enfáticos em afirmar: a queda de passageiros é explicada por diversos fatores, como o home office e o e-commerce, mas é a fuga para o transporte privado o que mais pesa.

São os aplicativos de transporte de passageiros com carros e, agora mais do que nunca, os apps que usam motocicletas, como o Uber e 99 Moto - que vivem uma explosão do País, principalmente nas regiões Nordeste e Norte do Brasil.

“Os dados do Anuário mostram que a demanda de passageiros dificilmente retornará aos níveis pré-pandemia sem a adoção de novas políticas públicas, como um novo Marco Legal, priorização para o transporte público e incentivos governamentais”, reforça Francisco Christovam.

ENTENDA O ANUÁRIO

Guga Matos/JC Imagem
Nos últimos quatro anos, um em cada quatro passageiros deixou de utilizar o transporte coletivo por ônibus, nas cidades pesquisadas - Guga Matos/JC Imagem

O Anuário NTU é uma análise que detalha, desde 1994, o comportamento de nove sistemas de transporte público por ônibus em capitais e regiões metropolitanas brasileiras, cobrindo dois períodos diferentes de cada ano da série histórica, os meses de abril e outubro, até 2023.

Os sistemas monitorados incluem Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Esses sistemas representam 33% da frota nacional, que hoje é de 107 mil veículos, e 34% da quantidade de passageiros transportados no Brasil.

Considerando os meses pesquisados, foram realizadas 204,6 milhões de viagens em abril do ano passado (contra 209,2 milhões em 2022), e 223 milhões em outubro de 2023 (contra 226,7 milhões em 2022), o que representa uma ligeira queda de 1%.

 

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