Desafios do Recife: trânsito constantemente travado do Recife e ausência de investimentos são desafios do futuro prefeito

Na sequência dos desafios do futuro prefeito do Recife está um gigante: o trânsito da capital, que não tem mais horário para ter retenções e congestionamentos. Situação, inclusive, que colocou e vem mantendo a cidade na liderança de rankings negativos sob a ótica da circulação viária.

Embora o problema dos congestionamentos seja uma realidade em praticamente todos os centros urbanos, na capital pernambucana percebe-se que alguns problemas poderiam ser ao menos minimizados com o uso mais eficiente de tecnologias de engenharia de tráfego. E com uma presença maior da fiscalização.

O tempo que, em muitos horários e na maioria dos grandes corredores viários, o motorista e os passageiros dos ônibus levam para percorrer pequenas distâncias na cidade é um retrato de que o poder público precisa se fazer mais presente. E esse será um dos desafios mais difíceis do futuro gestor municipal.

“Há dias e horários que você tem vontade de descer do carro e sair andando. É irritante. E o mais grave é que a cada dia vemos menos agentes de trânsito, ‘amarelinhos’ ou qualquer representante da fiscalização viária nas ruas. Na minha opinião, falta investimento mesmo. Colocar mais agentes, melhorar a sincronização dos semáforos e adotar novas tecnologias. Somente agora a cidade começou a usar os sinais inteligentes, por exemplo”, critica o motorista de táxi Guilherme Souza, que passa o dia circulando pela cidade.

Quem está no transporte público sofre e reclama ainda mais. “Se é ruim para quem está em seu carro, no ar-condicionado, ouvindo música e tal, imagine para quem está nos ônibus? Há dias, por exemplo, que levamos mais de uma hora para sair do Terminal da Macaxeira (na Zona Norte do Recife) e chegar no Centro com o trânsito. É muito sacrificante. Espero que o futuro prefeito se preocupe mais com isso”, desabafa a diarista Maria Aparecida Vidigal, que faz o percurso duas vezes por semana.

A frota de veículos do Recife também não para de crescer. Em janeiro de 2024, eram 735 mil veículos registrados e, em maio, já havia subido para 740 mil, segundo dados oficiais do Detran-PE. O sistema viário da capital, entretanto, recebe praticamente os 1,5 milhão de veículos registrados em toda a Região Metropolitana do Recife.

TRÂNSITO DO RECIFE É CONSIDERADO UM DOS PIORES DO BRASIL

Reduzir os congestionamentos será obrigação do futuro prefeito. Isso porque a capital tem um dos piores trânsitos do Brasil, constatação apontada a partir de registro de índices de congestionamentos feitos por aplicativos de geolocalização.

A última pesquisa que apontou esse cenário foi divulgada em setembro de 2023. Segundo o ranking das cidades brasileiras que viram o volume de tráfego explodir em 2023, o Recife é a segunda capital do Nordeste que mais se destacou nas retenções de trânsito.

A capital pernambucana, inclusive, deixou para trás monstros da imobilidade urbana como São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo. A cidade viu os congestionamentos aumentarem 23% em 2023 em relação com 2022. Perdeu apenas para Fortaleza, que liderou a lista nordestina, com o crescimento dos índices de congestionamento em 30%.

O ranking foi divulgado pelo Waze, aplicativo de orientação e navegação de trânsito usado por mais de 115 milhões de pessoas por mês no mundo, que percorrem uma média de 28 bilhões de quilômetros.

RECIFE ADOTOU OS SEMÁFOROS INTELIGENTES, MAS PASSIVO AINDA É GRANDE

No início de julho, depois de muitos anos de espera e críticas, o Recife começou a usar os semáforos inteligentes, como são chamados os sinais que têm programação em tempo real e, dentro de um limite, conseguem dar mais fluidez à circulação.

Ampliar o uso dos semáforos inteligentes na cidade também é um desafio para o futuro prefeito, já que a capital está atrasadíssima no uso dos dispositivos, já adotados por muitas cidades brasileiras.

O investimento inicial foi de R$ 1,07 milhão e está atendendo, pelo menos por enquanto, apenas dois corredores de transporte, mas que são de extrema importância para a cidade: as Avenidas Antônio de Góes, principal via de saída da Zona Sul, e Abdias de Carvalho, na Zona Oeste.

Os semáforos inteligentes - oficialmente denominados semáforos adaptativos - permitem uma programação automática dos ciclos semafóricos a partir da análise do tráfego em tempo real Ou seja, mais tempo de verde para as vias por onde estão passando mais veículos - essa é a lógica.

Por isso, o uso deles é algo esperado há muito tempo na engenharia de tráfego. A expectativa é de que os ciclos semafóricos fiquem mais próximos da necessidade do volume de tráfego do momento. E que essa flexibilidade garanta uma redução dos congestionamentos e tempos de espera devido à adaptação contínua ao comportamento do tráfego nas vias.

FISCALIZAÇÃO ELETRÔNICA DESLIGADA À NOITE E RADARES DESATIVADOS

Outros dois desafios que o futuro prefeito terá na capital será enfrentar o religamento da fiscalização eletrônica à noite e destravar a licitação dos radares de velocidade, que desde junho de 2023 foram retirados das ruas e avenidas devido a entraves administrativos ainda não solucionados.

O desligamento da fiscalização eletrônica à noite acontece há 18 anos, fazendo do Recife a única cidade brasileira a desligar todos os equipamentos de segurança viária entre 22h e 5h, apesar das estatísticas da própria gestão municipal do trânsito apontar que a fatalidade das colisões nesse horário é alta na cidade quando comparada à redução da frota de veículos em circulação.