99 Moto: Especialista diz que proibir o serviço não é solução e defende discussão em nível nacional

Problemas relacionados ao transporte de passageiros por moto voltaram à tona depois que Ricardo Nunes prometeu proibir o serviço na capital paulista

Publicado em 16/01/2025 às 18:19 | Atualizado em 17/01/2025 às 7:39
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O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), acionou a Justiça para proibir o serviço de motos da 99 App (empresa de transporte por aplicativo), que começou a operar na cidade nesta terça-feira (14). Nunes chamou o serviço de “carnificina” e prometeu ir “até as últimas consequências” para impedir o funcionamento na capital paulista.

A disputa travada entre a prefeitura de São Paulo e a 99 levanta mais uma vez a questão sobre como lidar com os problemas do transporte remunerado de passageiros por moto no País. No Grande Recife, o serviço de mototáxi já existe há bastante tempo, apesar de oferecer maiores riscos para os passageiros.

Para Leonardo Meira, que é professor da UFPE e especialista em mobilidade urbana, a proibição do serviço polêmico - vinculado ao aumento de sinistros e mortes no trânsito - não é o melhor caminho para lidar com o problema, que precisa ser mais discutido no País.

As declarações foram dadas em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, nesta quinta-feira (16).

O especialista considera que a associação do serviço com sinistros de trânsito coloca passageiros de motos em situação de risco e acende um alerta para o problema. Ao mesmo tempo, diz que as questões sociais que levam as pessoas a usarem o transporte de moto não podem ser ignoradas.

Faixa única para motos

A capital paulista criou faixas exclusivas para motociclistas nas vias da cidade, chamadas de Faixa Azul, com o objetivo de reduzir sinistros envolvendo motos. Mas segundo Meira, que revela não utilizar moto por questões de segurança, essa medida não é suficiente para acabar com os riscos desse tipo de transporte.

O professor indica, inclusive, que o modelo adotado pode aumentar a ocorrência de sinistros, de acordo com estudos ainda em curso. Ele explica que, na faixa única, o motociclista tende a aumentar a velocidade, além de que a delimitação nem sempre é respeitada.

“Os motoristas passam na faixa com automóveis particulares do mesmo jeito. Ocorre também colisão de moto com outra moto. Então essa não é uma solução para esse problema”, pontua.

As kombis no Grande Recife

Questionado sobre a semelhança entre o transporte por moto e o também polêmico serviço de kombis que funcionou no passado no Grande Recife, o professor diz ver pontos em comum entre os problemas, mas aponta a busca por diálogo como uma das diferenças.

“Foi feito um diálogo, foi criado um sistema complementar de transporte sob condições para atender determinadas regiões, ao qual eu até tenho algumas críticas, mas que foi recolocado para as pessoas”, lembra Meira, destacando que não houve uma proibição direta das kombis.

No caso do serviço de moto, o especialista considera ruim que a solução buscada seja a proibição total e fala que a fiscalização das motos não seria fácil, diferentemente das kombis, que eram mais facilmente identificáveis.

“Tem muitas motocicletas que são usadas por trabalhadores comuns que não estão transportando ninguém. Então, como é que você coloca essa fiscalização na rua para impedir que esse serviço exista?”, questiona.

O professor relata que antes dos aplicativos oferecerem os serviços de moto, já havia serviço de mototáxi no Recife, mesmo sem haver regulamentação da prática, o que ele notava por meio das pesquisas de campo que fazia como parte de seus estudos.

“Você tinha o serviço de mototáxi tranquilamente, principalmente em locais de feira, locais de comércio. Você chegava e as pessoas estavam lá oferecendo, mesmo não tendo nenhuma legislação que regulamentasse o serviço”, recorda.

Qual a solução?

Para o especialista em mobilidade urbana, não há como esperar uma solução pacífica ou mesmo satisfatória para o problema, mas seu enfrentamento deve ser feito com uma discussão em nível nacional, e não com a proibição direta do serviço, o que ele considera “jogar o problema para debaixo do tapete”.

Ele defende buscar soluções por meio do diálogo entre a categoria dos motociclistas, as autoridades públicas e as próprias plataformas, para entender como conciliar os embates e verificar a possibilidade de o serviço ser ofertado sob algumas condições, preservando a segurança dos seus usuários.

“É preciso discutir, ver o que pode ser feito, sobre quais condições esse serviço pode eventualmente funcionar, porque tem muita gente séria que trabalha com isso, trabalhador honesto que tira seu sustento em cima dessa moto, trabalhando e levando pessoas”, propõe o professor.

Transporte público

Entre os motivos que levam as pessoas a usar o transporte por moto, mesmo sabendo dos riscos associados, estão a praticidade, a rapidez e o preço, fatores diretamente ligados à insatisfação com o transporte público nas cidades brasileiras.

Por conta disso, Meira é claro ao afirmar que a solução do problema também passa por uma ampla melhoria do transporte público, o que envolve oferecer serviços melhores e mais planejamento de mobilidade urbana, como calçadas melhores e ampliação do uso de bicicletas.

“Nenhuma cidade do mundo resolveu seus problemas de mobilidade com veículos particulares, ou seja, com automóveis e motos a mais nas ruas. Todas as cidades do mundo que têm um bom sistema de mobilidade resolveram com o transporte público”, diz.

Ele usa como exemplo o Transmilênio, sistema público de transporte de Bogotá, na Colômbia, que prioriza ônibus e é reconhecido pela eficiência, realizando deslocamentos em tempos menores do que outras modalidades de transporte, inclusive carros.

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