A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) iniciou nas redes sociais uma cruzada contra o filme “Lindinhas” exibido na Netflix. Ela prometeu que não vai ficar de braços cruzados e que vai fazer tudo o que estiver ao seu alcance para barrar o filme acusado de estimular a sexualidade precoce de adolescentes.
Quem acompanhou a chegada da Nova República (1985), comandada por José Sarney (MDB-MA), vai se lembrar que um ano após a posse, chegava às telas de cinemas do Brasil, ou deveria chegar, o filme “Je Vous Salue Marie” do cineasta francês Jean-Luc Godard.
Naquela época, a poderosa Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), comandada por dom Ivo Lorscheider, e um colegiado de religiosos [ditos] progressistas, bateu à porta do presidente da República, pedindo a proibição do filme. A Igreja Católica alegava que Godard tratava Maria, a mãe de Jesus, como uma mulher comum, uma estudante que jogava basquete e trabalhava em um posto de gasolina. Sarney ouviu a pressão dos bispos, chamou o ministro da Justiça para uma conversa e mandou o pernambucano Fernando Lyra (1938 — 2013) assinar a censura ao filme francês.
Por estes dias, ao tentar barrar “Lindinhas”, da cineasta do Senegal, Maïmouna Doucouré, a ministra Damares Alves pode estar ressuscitando uma prática que o Brasil não quer lembrar, que foi a censura dos anos duros da Ditadura Militar (1964 — 1985).
O curioso é que nem “Je Vous Salue Marie” no passado, nem “Lindinhas” atualmente, merecem a fama que receberam. O que na prática a gente pode concluir que além de autoritária, a censura é burra porque às vezes coloca em evidência uma obra de arte que não merece toda a propaganda que recebe.
A ministra Damares Alves faria melhor pelas adolescentes do Brasil se criasse um programa para acolher aquelas que são vítimas da violência.
Pense nisso!
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