No meio acadêmico, quando um trabalho de conclusão de curso, o temível TCC, é muito abrangente costuma ser chamado de “tabuleiro da baiana”, numa homenagem ao famoso samba de Ary Barroso (1903 - 1964). “No tabuleiro da baiana tem: Vatapá, oi, caruru, mungunzá, tem umbu” e outras tantas iguarias.
O governo de transição tem um quê de tabuleiro da baiana. Ali tem trabalhadores rurais sem terra tomando o mesmo café que o grande produtor de soja. Tem economista dividindo o mesmo ar condicionado com a militante da União Nacional dos Estudantes (UNE) e, até aqui, na mais perfeita harmonia.
- Quem paga a conta do transporte gratuito aprovado pelo STF a jovens de baixa renda?
- Equipe de transição de Lula poderia ser mais enxuta. Mas aí, não seria o PT, que tem experiência de inchar a máquina
- Lula precisa entender que o cobertor é curto e as pernas dos gastos são longas
- Militância que bloqueou rodovias vai ter de encontrar outro motivo para questionar a eleição
Até aqui, é bom que se diga. Por enquanto, os temas ainda estão no nível das comemorações da vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva e os mais de 30 grupos de trabalho não se debruçaram amiúde nos temas centrais do plano de governo, tudo é festa.
Os embates, salutares, é bom que se diga, estão sendo deixados para as próximas semanas quando o pessoal da Cultura perceber que o “cobertor é curto” ou quando as prioridades da campanha eleitoral precisarem ser enxugadas para caber no mesmo orçamento.
O mineiro Ary Barroso vai terminando seu poema perguntando: “…sim, mas depois, o que será de nós dois? Seu amor é tão fugaz, enganador”. Essa é a pergunta que não quer calar no gabinete de transição.
E depois, quando os números do escasso orçamento forem colocados à mesa? Bem, aí é a segunda parte da festa.
É contar os trocados para pagar os fornecedores. Pagar o garçom que serviu os convidados.
Pense nisso!