Após 16 dias, SDS ainda não sabe como trabalhador foi atingido e perdeu visão em ato no Recife
O adesivador Daniel Campelo da Silva prestou depoimento nesta segunda-feira (14)
As investigações da Polícia Civil e da Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) ainda não conseguiram esclarecer as circunstâncias em que o adesivador Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, foi atingido no olho esquerdo durante ação da Polícia Militar contra manifestantes no último dia 29 de maio, na área central do Recife. A suspeita inicial foi a de que ele teria sido atingido por tiro de bala de borracha disparado por um PM. Mas ainda segue a suspeita de que o trabalhador foi ferido por fragmento de granada, por exemplo. Nesta segunda-feira (14), o adesivador prestou depoimento à polícia, na Delegacia da Boa Vista. O caso completou 16 dias.
As investigações da Polícia Civil visam identificar quem cometeu a agressão contra Daniel e também pode punir os policiais militares que se negaram a prestar socorro a ele. O depoimento durou cerca de uma hora e meia. Não há prazo para conclusão do inquérito.
Em nota, a SDS informou que "a Polícia Civil, por meio de dois delegados especialmente designados, prossegue nas investigações que apuram os fatos relacionados à manifestação do dia 29 de maio. Ouvidas estão sendo feitas, assim como exames de corpo de delito serão realizados pelas pessoas atingidas de forma grave durante o ato. Todos os elementos disponíveis para elucidar a ocorrência estão sendo colhidos e analisados. Ao fim dos trabalhos, a PCPE apresentará as respostas à sociedade, assim como a devida responsabilização".
"Ainda não foi possível, seja no âmbito disciplinar ou criminal, determinar as circunstâncias em que Daniel foi atingido. As investigações estão em curso justamente para dar essas respostas. Os trabalhos estão sendo conduzidos com dedicação, técnica, isenção e dentro da legalidade para, no menor tempo possível, elucidar os fatos ocorridos naquele dia", disse outro trecho da nota da SDS.
Na última quinta-feira (10), o arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, prestou depoimento à polícia. No caso dele, imagens gravadas mostram claramente que o PM atirou contra a vítima que passava de bicicleta pela Ponte Santa Isabel. Jonas foi atingido no olho direito, passou por procedimento, mas também ficou cego. O PM que o atingiu foi identificado e afastado das atividades nas ruas.
A Corregedoria da SDS já instaurou nove procedimentos administrativos para investigar possíveis infrações disciplinares cometidas por policiais que atuaram na manifestação. Ao todo, 16 policiais, entre oficiais e praças, foram afastados enquanto respondem disciplinarmente.
INDENIZAÇÕES
Em paralelo às investigações, o governo de Pernambuco está em negociação para pagar uma indenização vitalícia às duas vítimas, que não participavam da manifestação. Além disso, durante três meses, o governo vai pagar dois salários mínimos a cada um. A Procuradoria-Geral do Estado (PGE), no Recife, está acompanhando tudo.
QUEDA DO SECRETÁRIO
A ação violenta da PM também derrubou o delegado federal Antônio de Pádua, que foi exonerado do cargo de secretário de Defesa Social no último dia 04 de junho. Pádua está no centro da investigação que busca esclarecer quem deu a ordem para que os policiais militares avançassem e atirassem contra os manifestantes. Pádua nega que tenha dado a ordem e diz também não saber quem foi o responsável.
"Os fatos ocorridos foram graves e precisam ser investigados de forma ampla e irrestrita. Minha formação profissional e humanística repudia, de forma veemente, a maneira como aquela ação foi executada. Seis dias depois do episódio, com um novo comandante à frente da PM, com os procedimentos investigatórios instaurados e após prestar contas à Assembleia Legislativa, à OAB e ao Ministério Público, entreguei meu cargo com a certeza do dever cumprido e mantendo nosso compromisso com a transparência e o devido processo legal", afirmou, em nota oficial, Pádua.
POLÍCIA MILITAR
O comando geral da PM também mudou em Pernambuco. José Roberto de Santana tomou posse em substituição ao coronel Vanildo Maranhão. Até então, Santana exercia o cargo de diretor de Planejamento Operacional da corporação. O coronel tem 31 anos de serviço à polícia.
"Ao povo pernambucano eu asseguro que a Polícia Militar continuará sendo a instituição confiável que sempre foi. A Polícia Militar continuará sendo dura contra o crime e amiga do povo pernambucano, esse é o nosso compromisso", declarou no discurso de posse.
Não foi permitida a presença da imprensa, sob o argumento da pandemia do novo coronavírus.O subcomandante da PM, André Cavalcante, também foi substituído. No lugar dele, assumiu o coronel Aníbal Rodrigues Lima. Até então, ele era corregedor adjunto da Corregedoria da SDS. Ele tem 30 anos de efetivo serviço.