As investigações sobre o assassinato do menino Jonathas Oliveira, de 9 anos, no Engenho Roncadorzinho, em Barreiros, Mata Sul de Pernambuco, serão acompanhadas também pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE). A coluna Ronda JC apurou que, nesta terça-feira (15), haverá uma reunião do promotor de Justiça do município com o delegado titular de homicídios de Palmares, Marcelo Queiroz, designado para apurar o fato. O promotor vai cobrar detalhes do que foi descoberto pela polícia desde a última quinta-feira (10), quando houve o homicídio. A principal linha de investigação aponta para um conflito agrário na região.
Os pais da criança estão sendo ouvidos na tarde desta segunda-feira na Delegacia de Barreiros. Geovane da Silva Santos, pai do menino, é presidente da associação dos agricultores familiares do local. Ele também foi atingido por tiro no ombro depois que sete homens encapuzados invadiram a casa da família.
"Eu já estava deitado com a minha esposa quando ouvi o estrondo na porta. Quando saí do quarto já recebi o tiro. Eles passaram por mim e eu fugi para a casa do meu cunhado. Só ouvia os tiros e pensava que eles tinham matado a minha família", contou Geovane, em entrevista à TV Jornal.
A mãe de Jonathas e outras três crianças que estavam na residência não foram atingidas.
Por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que a Delegacia Seccional de Palmares e a Delegacia de Barreiros estão dando apoio nas investigações conduzidas pelo delegado Marcelo Queiroz.
CONFLITO AGRÁRIO
No Engenho Roncadorzinho, vivem mais de 70 famílias agricultoras - cerca de 400 pessoas. A ocupação ocorreu, há 22 anos, após a falência das usinas onde elas trabalhavam ou eram credoras.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que há anos acompanha a situação dessas famílias, há 10 anos a Agropecuária Javari arrendou o engenho e iniciou o plantio e colheita de cana-de-açúcar. Anos mais tarde, começaram os conflitos, porque a Javari entrou na Justiça para que ocorresse o despejo dessas famílias.
"Nos últimos anos, a comunidade vem sofrendo diversas ameaças e violências promovidas por empresas que exploram economicamente a área, com intimidações, destruição de lavouras e com contaminação das fontes de água e cacimbas do imóvel por meio da aplicação direcionada e criminosa de agrotóxico de alta toxidade", informou a Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape).
Em outubro de 2021, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) remeteu o processo para a Vara de Conciliação. Ainda não houve mediação entre as partes. A coluna procurou a assessoria do TJPE para saber mais detalhes, e ainda aguarda uma resposta.
"Os casos de violência contra a comunidade vêm sendo denunciados pela Fetape e pela CPT há vários meses, sem que medidas efetivas sejam tomadas por parte do Estado para solucionar a tensão e a violência no local", denunciou a CPT, em texto divulgado nas redes sociais.
A coluna não conseguiu contato com representantes da Agropecuária Javari.
ARQUIDIOCESE COBRA GOVERNADOR
Em carta, no último sábado, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Olinda e Recife cobrou do governador Paulo Câmara empenho pessoal na solução do assassinato de Jonathas Oliveira.
"A Comissão de Justiça e Paz impactada, como toda a sociedade, pela brutalidade do crime, (...) espera seu empenho pessoal na rigorosa apuração do atentado. Esse crime bárbaro , perpetrado por sete homens encapuzados e fortemente armados, que não hesitaram em atirar no menino indefeso, escondido sob a cama com sua mãe, não pode ficar impune. Apelamos ao senhor governador que disponibilize todos os meios ao alcance do Estado para solução e punição dos responsáveis", afirma trecho da carta.
Desde que ocorreu o crime, o governador Paulo Câmara não se pronunciou sobre o caso.