VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

A cada hora, 5 mulheres vítimas de violência procuram a polícia em Pernambuco

No primeiro semestre de 2022, quase 20 mil vítimas registraram queixas e pediram socorro contra seus agressores. Saiba como ajudar

Raphael Guerra
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Raphael Guerra
Publicado em 18/07/2022 às 6:00 | Atualizado em 19/07/2022 às 19:01
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Empresária levou tiro na cabeça disparado pelo ex-marido, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Ela morreu cinco dias depois - FOTO: BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
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Uma empresária de 48 anos morta com um tiro na cabeça pelo ex-marido, que invadiu o edifício onde ela morava, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Uma empregada doméstica de 43 anos assassinada a facadas pelo marido, dentro de casa, na comunidade Rio das Velhas, no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes.

Os dois casos de feminicídio, que ocorreram em um espaço de apenas uma semana, reforçam que a violência contra a mulher ainda é muito presente no nosso cotidiano - independente de classe social. Entre janeiro e junho de 2022, a polícia somou 39 feminicídios em Pernambuco.

A média é de uma morte a cada quatro ou cinco dias.

O número é 27,8% menor em relação ao primeiro semestre de 2021, quando 54 feminicídios foram contabilizados no Estado. Apesar disso, não há o que comemorar enquanto esse tipo de crime continuar sendo registrado.

Somente no último mês de junho, cinco mulheres foram mortas por pessoas que tinham vínculos com elas, como os companheiros ou ex-companheiros.

No primeiro semestre deste ano, 19.889 mulheres procuraram as delegacias de Pernambuco para prestar queixas de algum tipo de violência doméstica (como ameaça ou agressão, por exemplo).

Isso significa que, em média, cinco boletins de ocorrência foram registrados por hora. São 109 pedidos de socorro diários.

No mesmo período de 2021, a polícia somou 20.276 queixas de violência doméstica em Pernambuco. Houve queda de 1,91% nos registros neste ano, mas a polícia pontua que a diminuição de boletins de ocorrência é um sinal de alerta, porque pode significar que as vítimas estão com dificuldade de procurar ajuda da polícia.

Por isso, é importante que parentes e amigos observem sinais de que as mulheres podem estar sofrendo algum tipo de violência para ajudá-las.

FEMINICÍDIOS RECENTES

No caso da empresária baleada no dia 8 de julho, em Boa Viagem, a Polícia Civil disse não ter registro de queixa de violência doméstica. Apesar disso, ele estava proibido de entrar no edifício, a pedido da vítima. Ele aproveitou que o portão foi aberto para um carro sair e invadiu o local.

Na ocasião, a filha da empresária, de 21 anos, e o genro, de 28, também foram atingidos por tiros. O autor dos disparos se matou em seguida. A investigação aponta que ele não aceitava o fim do relacionamento.

O genro da empresária morreu pouco depois de ser socorrido e encaminhado ao Hospital da Restauração, na área central do Recife. A filha dela, atingida de raspão no pescoço, recebeu alta médica na última quarta-feira. No mesmo dia, a empresária faleceu.



A Polícia Civil ainda não esclareceu se o assassino tinha direito ao porte ou posse de arma de fogo. A questão é importante porque, segundo dados da SDS, 38% dos feminicídios registrados em 2021 foram cometidos com uso de armas de fogo. Por causa disso, a polícia tem intensificado as apreensões para tentar evitar mais mortes.

A Lei Maria da Penha prevê a possibilidade de apreensão de arma que se encontre com o agressor, inclusive com a suspensão do direito ao porte ou posse dela.

"A presença da arma de fogo, nos casos de situação de violência doméstica, incrementa o perigo da progressão criminosa do autor. E isso poderá servir de parâmetro para a concessão de medidas protetivas de urgência. O juiz terá prazo de 48 horas para decidir e expedir as medidas que entender cabíveis", explicou a delegada Mariana Villas Boas, assessora do Departamento de Polícia da Mulher, em recente entrevista à coluna Ronda JC.

O feminicídio da empregada doméstica, citado no início desta reportagem, ocorreu na última sexta-feira (15). Uma das filhas do casal encontrou o corpo, que tinha pelo menos oito lesões possivelmente provocadas por faca.

Testemunhas contaram à polícia que o relacionamento do casal era conturbado e marcado por violência. No dia seguinte ao crime, o suspeito se apresentou na Divisão de Homicídios Sul, onde foi autuado em flagrante pelo crime de feminicídio.

Thiago Lucas/ Artes JC
Quantidade de boletins de ocorrência - Thiago Lucas/ Artes JC

NOVAS DELEGACIAS DA MULHER, MAS SEM ATENDIMENTO 24H

No último mês, a Polícia Civil inaugurou mais três delegacias da Mulher. Uma delas fica em Olinda, no Grande Recife. O endereço é Avenida Governador Carlos de Lima Cavalcanti, 2405, no bairro de Casa Caiada.

As outras duas ficam nos municípios de Arcoverde e de Salgueiro, ambos no Sertão. Agora, o Estado conta com 14 unidades especializadas no atendimento à mulher.

As três novas delegacias, no entanto, funcionam apenas durante o expediente comercial, ou seja, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h.

As mulheres que precisarem de atendimento à noite e nos fins de semana e feriados não vão contar com o serviço. Devem procurar uma delegacia comum para registro de queixas.

Atualmente, a única Delegacia da Mulher que funciona 24 horas no Grande Recife é a que está localizada no bairro de Santo Amaro, na área central da capital.

A SDS reforça que há ainda o serviço gratuito da Ouvidoria Estadual da Mulher, por meio do telefone 0800-281-8187, para aquelas vítimas que precisam de orientações quanto à rede de proteção.

Em situação de emergência policial, a orientação é telefonar para o 190 (qualquer pessoa que presenciar o ato de violência pode ligar).

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