O Pronto Socorro Cardiológico Universitário da Universidade de Pernambuco (Procape), no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, abre leitos exclusivos para pacientes com doenças cardiovasculares que apresentem sintomas de covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. O anúncio foi feito, na tarde desta quinta-feira (2), pelo secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, durante coletiva de imprensa online em que foi apresentada a atualização da covid-19 no Estado. Os pacientes com problemas no coração fazem parte do grupo de maior risco de complicações e mortes pelo novo coronavírus.
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"Pernambuco está se preparando para os dias difíceis que virão, e não temos ilusão quanto a isso. Apesar de todo o esforço que o Estado vem feito, temos perspectiva de dias difíceis, mas estaremos na luta com toda a nossa forca para superar este momento", disse Longo.
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Segundo o cirurgião-cardiovascular Ricardo Lima, diretor-geral do Procape, o hospital está com oito leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) em funcionamento e dez leitos de enfermaria. "De acordo com a demanda, esse número de leitos pode ser revisado. Todas as vagas são direcionadas estritamente aos pacientes com doença cardiovascular", destacou Ricardo, que também é professor-titular da Universidade de Pernambuco (UPE).
Ele informa que o Procape já internou, em 15 dias, quatro pacientes com sintomas respiratórios sugestivos de covid-19. Entre eles, três tiveram diagnóstico negativo para covid-19. Atualmente apenas um dos leitos de UTI está ocupado com uma pessoa infectada por covid-19. "É um doente que estava no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc, também vinculado à UPE) e que chegou ao Procape na quarta-feira (1º). Ele é portador de marcapasso, que estava com a bateria terminando. Então, corria risco de vida se o marcapasso parasse. O doente foi transferido do Huoc para o Procape e, na quarta-feira mesmo, fez o procedimento de implantar um marcapasso temporário para depois colocar o definitivo", explica Ricardo. O diretor não informou detalhes sobre sexo e idade, mas disse que "não é um paciente jovem. Está com quadro de saúde estável."
Ainda de acordo com Ricardo Lima, o Procape é responsável por cerca de 80% da cardiologia de Pernambuco e ainda oferece tratamento a pacientes de Estados vizinhos. "Atendemos mais de mil doentes por dia, realizamos 1.500 cirurgias por ano e 500 exames de cateterismo cardíaco por mês. Por causa da epidemia de covid-19, suspendemos todos os procedimentos eletivos e ficamos apenas com os de emergência, a fim de esvaziar o hospital e evitar o contato social entre pacientes e acompanhantes", informa. Ele também acrescenta que o hospital está preparado para a esperada explosão no número de casos de infectados pelo novo coronavírus. "As autoridades de Saúde alegam que haverá uma ascensão na curva (da epidemia) nas próximas semanas. Não sabemos ao certo como será esse desfecho, pois o inimigo é invisível e, para ele, não existem barreiras. Estamos com a nossa estrutura preparada."
Entre os nove registros de mortes confirmadas no Estado, por covid-19, até esta quinta-feira (2), estão quatro vítimas que tinham hipertensão e diabetes associadas, uma apresentou relato isolado de problemas cardíacos e outra hipertensão, além de mais um caso em que o paciente era ex-fumante e tinha problema cardiovascular. As outras duas pessoas que foram a óbito foram de uma idosa com leucemia e outro com doença de Parkinson.
Um estudo publicado, no British Medical Journal (BMJ), no último dia 26, avaliou 113 pessoas que morreram com covid-19 em Wuhan, na China. Os resultados mostraram que 48% das vítimas fatais tinham pressão arterial alta; 21%, diabetes.
O médico cardiologista Hermilo Borba Griz, um dos diretores da Sociedade Pernambucana de Cardiologia, explica que normalmente hipertensão e diabetes são condições mais frequentes em pessoas idosas (em comparação com outras faixas etárias), que formam o grupo mais acometido pela covid-19. “São doenças que tendem a levar a uma alteração da imunidade, mas isso não é algo que pode se aplicar a todos os casos”, diz. Outro detalhe é que, quando se tem uma infecção grave, e não apenas pelo novo coronavírus, segundo Hermilo, substâncias tóxicas são criadas pelo agente infeccioso. “Isso pode ocasionar uma alteração no músculo cardíaco, a chamada miocardite, um problema grave que leva à falência do coração”, acrescenta o cardiologista.