O uso de metáforas tem sido uma constante nas falas diárias do secretário de Saúde de Pernambuco, o médico cardiologista André Longo. A sensação é que, dessa forma, ele consegue traduzir, de forma clara, para todos os públicos, as terminologias incorporadas ao jargão epidemiológico da covid-19. Nesta semana, uma frase colocada por ele tem feito muito sentido para compreendermos a dimensão da gravidade do novo coronavírus. “Temos conseguido estar a um passo, mas um passo pequeno, à frente da epidemia”, disse Longo, preocupado com um número que esteve à sua frente nas primeiras horas da quarta-feira (15): “Nós amanhecemos com 15 vagas de UTI (unidade de terapia intensiva) para população”, alertou Longo num dia em que o Estado tem mais um recorde diário de casos e mortes pela doença. Em 24 horas, foram confirmados 200 novos diagnósticos e 28 mortes por covid-19.
É pouquíssimo - ou quase nada - para um universo imenso de pessoas com sintomas graves, suspeitos e confirmados de covid-19, que chegam às unidades de saúde de Pernambuco e precisam ter internamento. “Esse número tem duplicado na última semana, e isso pressiona por mais vagas de UTI. E como lidamos com isso neste momento? Com a ampliação de leitos”, informou o secretário, que relata um trabalho diário para correr contra o tempo e permanecer, no mínimo, com um pequeno passo (uma figura de linguagem para expressar disponibilidade de leitos) à frente dessa expansão tão brutal da epidemia. Por enquanto, de um dia para o outro, tem se conseguido abrir um número maior de leitos do que o volume de pacientes que precisam de assistência.
Mas até quando? “Em pouco mais de 30 dias, ofertamos mais de 250 leitos de UTI. É um esforço concentrado: compramos leitos do privado, ampliamos leitos do filantrópico e da nossa rede, requisitamos hospitais, e a Prefeitura do Recife tem aberto unidades provisórias. “Mas estamos no limite de trabalho quanto à expansão de leitos. A maioria das pessoas tem ajudando (com isolamento social), mas é preciso envolver aqueles que são mais refratários à política de ficar em casa. É preciso proteger a população da dificuldade de chegarmos a ter momentos que não tenhamos leitos para ofertar à demanda crescente de casos”, ressaltou Longo.
Na quarta-feira (15), o governador Paulo Câmara anunciou a abertura de mais dez novos leitos de UTI no Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), em Santo Amaro, área central do Recife. Com isso, subiu para 43 o número de vagas de terapia intensiva no hospital, que já conta com 133 leitos de enfermaria dedicados exclusivamente ao tratamento de pacientes com sintomas de covid-19. Outros dez novos leitos de UTI deverão ser ativados no Huoc na próxima semana. Também foram nomeados mais 224 novos profissionais de saúde para atuar no hospital.
“Hoje (quarta-feira), no decorrer do dia, temos a expectativa que, em três serviços no Estado, tenhamos mais 30 leitos de UTI à disposicão, com mais 20 que a Prefeitura do Recife disponibiliza, neste primeiro momento, na Rua da Aurora (com início do funcionamento do Hospital Provisório Recife 1, no bairro de Santo Amaro). Então, temos a expectativa de terminar esta quarta-feira (15) com mais vagas do que no início do dia, com mais 50 leitos de UTI ofertados à população. Esse é um exercício que está sendo diário”, disse André Longo.
Atualmente, das 1.484 pacientes infectados pelo novo coronavírus no Estado, 942 estão em isolamento domiciliar e 331 internados, sendo 68 em leitos de UTI e 263 em leitos de enfermaria. Ainda há as pessoas que permanecem nas unidades dedicadas à covid-19 por estarem com sintomas graves sugestivos da infecção e estão na mesma conta de ocupação de leitos.
“Estamos testemunhando o que é provavelmente o maior evento de saúde pública da história do Recife, e a prefeitura enfrenta tudo isso com um esforço na mesma proporção, realizando mobilização com foco em salvar vidas”, destacou o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia. Só a capital pernambucana reúne 857 (58%) das 1.484 confirmações de covid-19 do Estado.