Profissionais de saúde que habitualmente não trabalham nas alas dos hospitais passaram a se entregar a uma missão de solidariedade neste momento em que o adoecimento por covid-19 é uma realidade para muitos colegas da linha de frente. Dermatologistas, psiquiatras, reumatologistas e endocrinologistas, além de trabalhadores de outras especialidades, deixam seus consultórios e ambulatórios para atuar em salas de triagem, emergências, enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs) voltadas para pacientes com suspeita ou confirmação da infecção pelo novo coronavírus. Diante dessa necessidade crescente de profissionais para combater a epidemia, Pernambuco convocará servidores para iniciar o processo de substituição de outros profissionais que estavam na linha de frente.
O recrutamento é instituído por meio de portaria, nº 166, publicada no Diário Oficial do Estado de hoje. Serão chamados 1.092 médicos diaristas e 702 profissionais de outras áreas da saúde. "Os profissionais que estavam atuando em ambulatórios, nas situações eletivas, passarão a ser convocados para a linha de frente”, frisou ontem André Longo, em coletiva de imprensa online.
“Assim como eu, alguns médicos dermatologistas e de várias outras especialidades foram deslocados dos seus setores para atender em emergências, enfermarias e UTIs. E o que eu tenho a dizer sobre isso? Apenas que estou sendo testemunha de algo que nunca imaginei viver e que está acontecendo aqui, com nosso sistema de saúde e com os nossos cidadãos: a proximidade do caos”, relata a dermatologista Lígia Pessoa de Melo, 43 anos. Ela percebe que, ainda uma quase desconhecida, a covid-19 já faz muito parte do nosso dia a dia. “Quem está de fora talvez não imagine a real quantidade de profissionais de saúde contaminados, de pessoas doentes; alguns muito graves e outros morrendo.” Ela ainda acrescenta: "Sem heroísmo ou sensacionalismo, mas se eu tenho um mínimo de ligação, de credibilidade e de influência, eu imploro: se puder, permaneça em casa".
O psiquiatra Rodrigo Silva também conta que, há cinco anos sem dar plantão em hospitais, passou a atender esta semana em UTI que recebe os pacientes com suspeita e confirmação de covid-19. “Apesar de tudo, fui trabalhar confiante e feliz por poder ser médico. Que essa tragédia toda sirva para que a gente se una. Sem romantismo, mas com vontade de fazer nosso melhor”, diz Rodrigo.
Além dos médicos convocados para a linha de frente, há outros 75 que atuarão pelo aplicativo Atende em Casa, ferramenta desenvolvida em parceria com a Prefeitura do Recife para que médicos ou enfermeiros orientem pessoas com sintomas respiratórios, fazendo chamadas de vídeo quando necessário. A plataforma funciona no Recife, Paulista, Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho. Além disso, será expandido para moradores de Camaragibe e São Lourenço da Mata, municípios do Grande Recife. Psiquiatra na UTI de covid-19
Leia o depoimento completo de Rodrigo:
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