Um estudo comparativo da Fiocruz Pernambuco reforça as percepções de especialistas mundo afora: há um maior crescimento das taxas de incidência (detecção) de covid-19 em Estados do Norte e Nordeste, quando comparadas num primeiro período (até meados de abril) com o acumulado até meados de maio. Além disso, a aceleração dessas taxas nesses locais foi muito acima do resto do País.
A análise foi elaborada pelo pesquisador, estatístico e epidemiologista Wayner Vieira, a partir de dados disponíveis na plataforma Covid-19 no mundo, no Brasil e em Pernambuco, da Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco (Seplag). Estados das regiões Norte e Nordeste, incluindo Pernambuco, tiveram crescimento dessa taxa de casos por milhão de habitantes, aumentando mais que a média brasileira. Em dois deles, o aumento foi de quase 50 vezes em maio: Tocantins (49,8) e Sergipe (47,8). As taxas de Alagoas, Pará e Paraíba cresceram mais de 20 vezes, enquanto Roraima, Piauí, Acre, Maranhão, Amazonas e Amapá cresceram mais de 10 vezes; Bahia, Roraima, Ceará e Pernambuco viram a taxa ser multiplicada por 9.
Todos tiveram índice maior do que o nacional. A média do crescimento no Brasil foi de 7 vezes, o que já é considerado alto pelos especialistas. O Rio Grande do Norte foi o único Estado do Nordeste abaixo desse número, com 6,6.
A análise de Wayner retrata um deslocamento da maior incidência da covid-19 entre os Estados brasileiros e sinaliza para uma possível influência, nessa trajetória, das iniquidades sociais e da vulnerabilidade das condições de vida nas áreas mais pobres do Brasil. “Esse crescimento acelerado no Norte e no Nordeste não pode ser explicado tão somente por questões de momento. Existe uma lacuna de desenvolvimento nesses Estados, o que é refletida, por exemplo, pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)”, explica Wayner, que integra o departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz Pernambuco. “Os Estados onde as taxas mais aumentaram são os mais pobres. Com a interiorização da covid-19 que está acontecendo, essa situação tende a ser observada com mais intensidade”, acredita o pesquisador.
Ele acrescenta que a pandemia atingiu o País, no primeiro momento, em áreas socioeconomicamente menos vulneráveis, com a covid-19 sendo trazida pelos viajantes que circularam pela China, Europa e, posteriormente, América do Norte para o eixo Rio-São Paulo, Distrito Federal, distrito industrial de Manaus, Fortaleza e Recife.
Atualmente os casos graves confirmados da doença (13.086, ao todo), segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), estão distribuídos por 159 dos 184 municípios pernambucanos, além do Arquipélago de Fernando de Noronha e da ocorrência de pacientes de outros Estados e países que se infectaram em Pernambuco. Dos casos graves, 1.362 evoluíram bem, receberam alta hospitalar e estão em isolamento domiciliar. Outros 5.083, permanecem internados, sendo 225 em unidade de terapia intensiva (UTI) e 4.858 em leitos de enfermaria das redes pública e privada.