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Coronavírus: Pernambuco é o Estado que acumula mais dias com taxa de contágio abaixo de 1, diz pesquisa

Grupo da PUC-Rio indica que Pernambuco é um dos dez Estados com transmissão sob controle. Mas população deve continuar a adotar medidas preventivas para evitar uma segunda onda da covid-19 na capital

Cinthya Leite
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Cinthya Leite
Publicado em 16/06/2020 às 0:36 | Atualizado em 16/06/2020 às 0:49
FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM
Segundo a FGV, a queda da confiança dos comerciantes "segue sendo influenciada pela redução no ritmo de vendas atual, resultado da cautela dos consumidores" - FOTO: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM

Estimativas mais atuais de taxas de contágio por Estado, apresentadas pelo grupo Covid-19 Analytics, de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, apontam que Pernambuco é um dos dez Estados brasileiros com taxa de contágio (número de pessoas para qual cada infectado transmite o coronavírus) abaixo de 1, o que sugere uma transmissão sob controle. O Amazonas e o Acre também apresentam esse índice.

A diferença é que Pernambuco é o que acumula um maior número de dias com a taxa de contágio baixa (0,87). Ou seja, cada 100 pessoas no Estado com o novo coronavírus o transmitem para 87.

Segundo a plataforma da PUC-Rio, Pernambuco já está por 19 dias nessa faixa, enquanto que o Acre e o Amazonas estão há 15 dias e 14 dias, respectivamente, com taxa abaixo de 1. 

Estabilização 

Com a manutenção da tendência de estabilização da epidemia por covid-19, Pernambuco alcançou, na segunda-feira (15), a menor taxa de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI), a contar de 10 de abril. Desde então, a assistência hospitalar do Estado operava no limite diante da pressão causada pelo novo coronavírus. Por cerca de 60 dias, a taxa de ocupação das UTIs (somando os leitos públicos da redes estadual e os da Prefeitura do Recife) ficou entre 94% e 99%.

Ao contabilizar vagas de UTI e de enfermaria abertas nos últimos dias, em hospitais distribuídos em todo o Estado, a Central de Regulação de Leitos de Pernambuco registrou, na segunda-feira (15), uma taxa de ocupação de 87% nas UTIs. O percentual indica que, pelo menos ontem, 115 vagas de terapia intensiva estavam disponíveis para o tratamento de pacientes que têm suspeita ou diagnóstico confirmado da infecção pelo vírus.

“Teremos ainda a expansão do número de leitos na Região Metropolitana do Recife e no interior, além do aumento na capacidade de testagem e o reforço da mensagem para que as pessoas continuem fazendo o isolamento social e saindo de casa apenas em casos de extrema necessidade. Ainda teremos um tempo longo de convívio com a doença, e todos precisamos nos adaptar”, disse o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, em coletiva de imprensa transmitida pela internet.

A queda na taxa de ocupação dos leitos de UTI é impulsionada principalmente pela diminuição da demanda por esse tipo de vaga no Grande Recife, onde se percebe com maior clareza o achatamento da curva epidêmica, considerando também o número de casos diários. Na capital, foram confirmados ontem 80 novos casos da covid-19. Para se ter uma ideia, na fase de aceleração da epidemia, o Recife chegou a registrar centenas de adoecimentos por dia. No dia 22 de maio, por exemplo, foram 939 novos casos da covid-19 – um número quase 12 vezes maior do que foi contabilizado ontem. Os dados atualmente em queda ainda são consequência (também) dos dias de quarentena rígida vividos em cinco municípios do Grande Recife, na segunda quinzena de maio.

“Talvez possamos citar aqui o nosso querido e saudoso Ariano Suassuna para dizer que, se não é um momento de celebração, é momento de ter uma boa dose de realismo esperançoso. Pernambuco como um todo, particularmente o Recife e a Região Metropolitana, diferencia-se de outras partes do Brasil que ainda vivem franca aceleração (da curva epidêmica)”, destacou o secretário de Saúde do Recife, Jailson Correia.

Retomada da economia 

A reabertura ao público do varejo de rua, iniciada na segunda-feira (15), com lojas de até 200 metros quadrados, coloca à prova a tendência de estabilização da epidemia de covid-19 observada ao longo dos últimos dias em Pernambuco. O receio de especialistas é que, com o início da flexibilização das restrições de funcionamento do setor, venha uma nova onda de aceleração da curva de casos e mortes por covid-19. Em outros locais do Brasil e do mundo, onde já foram feitos ciclos de relaxamento no isolamento social, houve novas explosões de adoecimento. É por isso que o lema “fique em casa” continua valendo para toda a população pernambucana.

“A ativação de cada uma das próximas etapas (do Plano de Convivência com a Covid-19), depende unicamente das atitudes de cada um de nós. É uma volta a um novo normal, uma normalidade possível. Ficar em casa, para quem pode, ainda é preciso. Sair, só para o inevitável e sempre reforçando as medidas de higiene pessoal e etiqueta respiratória, que precisam estar incorporadas ao cotidiano”, diz o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, que ainda reforça a mensagem sobre as condutas da sociedade. “O nosso comportamento hoje será determinante para os nossos próximos passos”, complementa.

O cumprimento das recomendações durante a quarentena rígida (na segunda quinzena de maio), por parte da população, foram essenciais para achatar a curva epidêmica, especialmente no Recife. “Acalmou (a epidemia) porque a gente passou por um processo de fechamento completo de quase tudo. Foram duas semanas de distanciamento extremo, e isso deve ter refletido nos números que vemos agora. A questão é que ainda há muita gente susceptível, que pode ter a doença. O vírus ainda está circulando, e muito. A gente vê casos praticamente em todo o Estado”, ressalta o infectologista Demócrito Miranda, professor da Universidade de Pernambuco (UPE).

O Estado tem, ao todo, 182 dos seus 184 municípios, além da ilha de Fernando de Noronha, atingidos pela pandemia de covid-19. Os únicos sem confirmações são Mirandiba e Manari, no Sertão. A maioria das cidades (91,3%) também registrou pacientes que evoluíram para a forma grave da doença. Atualmente, está em alerta o sinalizador da situação no interior, onde a demanda por leitos de unidade de terapia intensiva está alta, segundo o governo estadual. Foi por essa condição que 85 municípios do Agreste e da Zona da Mata não entraram na flexibilização das restrições desta semana, diferentemente das demais regiões do Estado onde comércio de rua, salões de beleza e serviços de estética retomam as atividades.

Quem precisar ir às ruas deve continuar com todos os cuidados recomendados desde o início da epidemia, sem esquecer o uso de máscaras. “A gente permanece sem algo novo: não há vacina nem medicação nova. Quem adoece vai continuar também tendo riscos. Então, devemos continuar se reservando o máximo possível em nossas casas, saindo só o necessário, mesmo com esse parcial relaxamento das medidas de distanciamento. É preciso que a população tenha muito bom senso”, frisa Demócrito Miranda.

Na segunda-feira (15), a Secretaria Estadual de Saúde confirmou 246 novos casos da covid-19 em Pernambuco. Com isso, são 45.507 pessoas que se infectaram no Estado. Além disso, subiu para 3.886 o número de mortes pela doença.

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