Um levantamento da Fiocruz Pernambuco traz dados que comprovam o panorama atual de interiorização da covid-19 no Estado. A capital pernambucana, que concentrava 71% dos casos da doença no Estado no início de abril, passou a responder por apenas 34% neste mês – último período observado no trabalho feito pelo estatístico e epidemiologista Wayner Vieira, pesquisador da Fiocruz Pernambuco. O inverso aconteceu com os demais municípios, que tinham 29% dos casos de covid-19 em abril e passaram a responder este mês por 66% dos novos registros da doença no Estado.
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"Dois terços dos (novos) casos não são mais da capital e 68% dos óbitos não são mais de pessoas que moram na cidade do Recife", alerta Wayner. A análise dele foi feita com base em dados disponibilizados até o último dia 6 pela Secretaria de Saúde de Pernambuco. O estudo contemplou informações sobre moradores do Estado atendidos na rede de saúde pernambucana no período. Atendimentos a residentes em outros Estados ou países não foram incluídos.
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A análise se dividiu em quatro intervalos que permitem observar o deslocamento da maior incidência da covid-19 para fora da capital, em direção ao interior do Estado. Até 4 de abril, o Recife concentrava 156 casos (71%) e os demais municípios contabilizavam 56 (29%). No intervalo seguinte (5 a 25 de abril), a capital passou a ter 55% dos novos casos; e o restante do Grande Recife e interior, 45% no período. Já de 26 de abril a 16 de maio, os novos casos ficaram distribuídos assim: 49% no Recife e 51% nos demais. No último intervalo observado (17 de maio a 6 de junho) a capital respondeu por 34% dos casos, enquanto a fatia dos demais municípios representou 66%.
A partir desses resultados, Wayner destaca a flagrante interiorização da epidemia. “Isso traz como consequência o aumento da demanda assistencial, devido à pequena disponibilidade de leitos hospitalares, principalmente de UTI, nessas regiões”, diz o pesquisador.
Crescimento exponencial
O comparativo dos números absolutos permite também perceber o crescimento acelerado nesse período. No Recife, o acumulado dos casos cresceu de 156 em 4 de abril para 16.909 em 6 de junho, um aumento de 108 vezes em relação ao número inicial. Enquanto isso, o total nos demais municípios cresceu de 56 para 23.253 no mesmo período, o que representou um incremento muito maior, de 415 vezes.
Quando se separam os números dos municípios que compõe a Região Metropolitana do Recife (sem a capital), esse crescimento foi de 40 para 12.521, um número 313 vezes maior. Voltando o foco para o conjunto dos demais municípios do interior, o aumento se revela mais preocupante, de 16 para 10.732 no acumulado de todo período, o que representa uma multiplicação dos casos por 671, num período aproximado de dois meses.
Esse crescimento exponencial na quantidade de novos casos no interior pode ser percebido claramente a cada intervalo de 20 dias observado. Em 4 de abril, eram apenas 16 casos. Esse número salta para 487 novos casos nas semanas de 5 de abril a 25 de abril e, em seguida, alcança 2.444 (de 26 de maio a 16 de maio). No último intervalo do estudo (17 de maio a 6 de junho), esse número aumentou para 7.785 (37,5% do total dos casos novos do estado no último período).
A distribuição do número de óbitos no estado também reflete essa interiorização. A distribuição dos dados acumulados até 6 de junho mostra 38% dos óbitos em moradores do Recife e 62% nos demais municípios, sendo 36% no Grande Recife e 26% no interior. O pesquisador alerta que essa distribuição também vai se deslocar, no mesmo sentido do aumento dos casos do interior, com o passar do tempo.
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