O feriado de 7 de setembro levou pernambucanos a aproveitarem a folga e irem às praias do Estado, que tornaram-se cenário de aglomerações e desrespeito às regras sanitárias. As ações de fiscalização das prefeituras não foram suficientes para conter a grande parte que não usou máscaras e nem cumpriu o distanciamento necessário. Especialista alerta que, apesar de Pernambuco não ter registrado alta nos casos da covid-19 duas semanas - tempo médio de incubação do vírus - após o Dia da Independência, a incerteza sobre a imunidade coletiva torna eminente o alerta para uma nova onda, e pede que prefeituras reforcem o monitoramento na segunda-feira de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida.
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"O aumento na fiscalização é crucial para que haja um respeito às normatizações e aos decretos lançados nesses pontos de aglomeração, para tentar inibir a prática de exposição coletiva ao vírus. Além da fiscalização, que é um aspecto muito policialesco, é imprescindível mais campanhas de educação, de conscientização, que devem sempre ser associadas à fiscalização. A ideia não é apenas uma abordagem punitiva, mas também educativa e dialógica por meio de vários canais, propagandas na televisão, jornais impressos", defende o epidemiologista Rafael Moreira, pesquisador da Fiocruz Pernambuco.
Entretanto, conforme apurado pelo JC, Ipojuca e o Cabo de Santo Agostinho manterão, dia 12 de outubro, as mesmas ações de fiscalização já feitas no dia 7 de setembro, enquanto Jaboatão dos Guararapes receberá mais um quadriciclo e reforço na quantidade de pessoas na inspeção, mas não deu detalhe sobre quantos fiscais a mais irão a campo. Já Recife e Olinda ainda não têm um plano definido, e prometeram divulga-lo assim que este for elaborado. (Confira detalhes sobre ações no final da matéria)
Além da fiscalização, a consciência individual de cada cidadão é, também, indispensável. Os pernambucanos devem lembrar: a pandemia não acabou. Prova disso é que, só neste mês, desde o dia 1º até o dia 24 de setembro, foram registrados 18.164 infectados pelo novo coronavírus, e mais 517 óbitos no Estado. Além disso, ainda que os casos, segundo análise do JC sobre os dados epidemiológicos divulgados pela Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco, tenham se mantido estáveis - mesmo que a média seja considerada alta - depois do 7 de setembro, não é regra que o mesmo aconteça no próximo feriado.
"Temos alguns casos de pessoas que tiveram uma reinfecção e de queda do número de anticorpos, que não sustentaram o nível elevado para sua proteção. Essa incerteza que circula em torno da covid-19 deve gerar preocupação diante desses feriadões e dessas possibilidades de aglomerações. O novo normal deve ser entendido como algo diferente do que a gente vivia no passado, até a gente ter um total conhecimento [da doença]", diz Moreira. Por isso, o especialista da Fiocruz alerta sobre o cumprimento de medidas sanitárias por parte da população, como a necessidade de manter o distanciamento e o uso de máscaras, com trocas de duas em duas horas e imediata caso o acessório molhe.
O especialista também explica mesmo que um repique da doença não tenha sido notificado em números oficiais, existe um "universo invisível" do vírus, criado pela subnotificação dos casos e ausência de testagem em massa. "Tem que considerar que um universo invisível circula sem que um sistema de registro possa ter o conhecimento. Então a gente tem que tomar os mesmos cuidados de uso de máscara, distanciamento social e evitar aglomeração. Os estabelecimentos comerciais devem ter o mesmo cuidado de atendimento, para que não seja observado um aumento de casos, novas ondas da pandemia e elevação no número de casos e mortes, como foi detectado em outros países que tiveram maior flexibilização", afirmou.
As imagens das praias no 7 de setembro preocuparam especialistas, que fizeram a previsão de que casos voltariam a aumentar. Quando a constatação não se concretizou, a infectologista Vera Magalhães, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por exemplo, afirmou à Rádio Jornal que os dados foram "surpreendentes". "Eu achei que fôssemos ter um repique", reconheceu. Em explicação, ela traçou como possibilidade para o não aumento o desenvolvimento de uma imunidade coletiva, mas deixou claro que não há resposta definitiva. "Existem várias possibilidades. [A primeira é] desenvolvimento de uma imunidade. Acha-se que ela existe, mas que é temporária. Então, se continuarmos com esses comportamentos, é possível que tenhamos um repique no futuro. Outra possibilidade seria uma mutação do vírus, que o tenha tornado mais ameno, mas isso também não tem comprovação", disse.
O pesquisador da Fiocruz Pernambuco também citou a mesma questão e afirmou que, "pelas imagens e notícias" sobre o último feriado, a estabilização da doenaç não deve ter acontecido por causa de um bom comportamento coletivo. "A gente observa que esse não aumento não foi, provavelmente, devido à conscientização das pessoas. Grande parte ainda insiste em práticas de risco, de exposição, então provavelmente esse não aumento se deve ao manejo adequado do paciente e à possível imunidade coletiva que algumas pessoas podem ter adquirido."
Apesar da praia ter risco de contaminação menor em relação a um ambiente fechado, existem diversas possibilidades de transmissão, como afirma o epidemiologista. "Se você está na praia e você não respeita o distanciamento, mesmo que em um ambiente aberto o risco seja diminuído em relação ao ambiente fechado, existe também a possibilidade de transmissão. Quando você está consumindo, você está se expondo a uma série de fatores que você não tem controle, como a manipulação inadequada do alimento, da bebida. Tudo isso são situações criadas a partir desse tipo de comportamento coletivo para aumentar o risco de exposição", completou.
Qual o plano das prefeituras para 12 de outubro?
Recife
No 7 de setembro, a Prefeitura do Recife (PCR) tentou frear as atitudes inadequadas nas praias, por meio de operação para conscientizar os barraqueiros e ambulantes sobre a importância de cumprir os protocolos. Para 12 de outubro, a gestão afirmou ainda não ter definição específica sobre planos de fiscalização, e que divulgará assim que formulá-lo.
A capital pernambucana teve, até o dia 24 de setembro, 34.056 casos confirmados de covid-19 e 2.380 óbitos. Só no último dia, foram registrados mais 109 casos e mais 11 mortes.
Olinda
À reportagem, a Prefeitura de Olinda informou que as secretarias e órgãos envolvidos estão em processo de planejamento da operação e fará a divulgação em momento oportuno.
No entanto, informou que, no feriado de 7 de setembro, efetivos da Guarda Municipal, Polícia Militar, Controle Urbano, Vigilância Sanitária de Olinda e do Trânsito realizaram abordagens aos banhistas, palhoceiros e clientes. Segundo a gestão, no total, a Guarda Civil Municipal fez 1.128 abordagens a pessoas que estavam transitando no calçadão e na praia sem utilizarem máscaras, nos três dias do feriadão e nas praias dos Milagres, Praia do “L”, Bairro Novo (Praia do Quartel e Praia do Zé Pequeno), Casa Caiada e Rio Doce.
Olinda registrou, até o dia 23 de setembro, 5900 casos e 483 óbitos pela covid-19.
Ipojuca
A Prefeitura de Ipojuca anunciou que o esquema para o feriado do dia 12 de outubro será o mesmo do dia 7 de setembro.
"A Autarquia Municipal de Trânsito e Transporte (AMTTRANS) durante o feriado realiza fiscalização em pontos surpresa para verificar se bugueiros e quem realiza transporte coletivo estão cumprindo a portaria municipal de cuidados sanitários no transporte de passageiros. Agentes ambientais também reforçam os trabalhos no feriado em relação ao cumprimento das novas medidas na orla, sobretudo nas piscinas naturais", disse.
Normalmente, nos finais de semana, segundo a gestão, participam da fiscalização 110 guardas municipais no sábado, 110 no domingo e 30 salva vidas por dia. Já nos feriados, número aumenta para 390 guardas municipais e 60 salva-vidas.
"Os agentes de controle urbano se dividem entre a orla e a Vila de Porto para verificação dos protocolos estaduais e municipais, mas fazem a fiscalização em conjunto com agentes da vigilância sanitária, educadores da saúde que fazem a conscientização de turistas, banhistas e comerciantes da orla sobre uso da mascara na faixa de areia e os cuidados sanitários como higienização de barracas, distância entre elas, etc.", informou, por nota.
Por fim, Ipojuca garantiu que, desde o último feriado, equipe da Secretaria de Turismo distribui máscaras nas praias.
Até o dia 24 de setembro, Ipojuca somava 863 casos e 93 óbitos por coronavírus. Só no último boletim, foram registrados mais 6 novos infectados.
Cabo de Santo Agostinho
A Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho afirmou que as ações serão as mesmas do dia 7 de setembro. "De forma educativa e integrada entre as secretarias de Saúde, Defesa Social, Programas Sociais, Desenvolvimento Econômico e Turismo, Controle Urbano e Serviços públicos, com efetivo diário de 40 pessoas", irá atuar na conscientização da pandemia com orientação e distribuição de máscaras, além de abordagem aos bares e restaurantes que estarão funcionando durante o feriado de 12 de outubro nas praias da cidade.
No Cabo de Santo Agostinho, tiveram, até 23 de setembro, 1.904 casos da covid-19 e 251 mortes.
Jaboatão dos Guararapes
A Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes afirmou que foi feito um reforço no número do efetivo que irá fiscalizar as praias, mas não detalhou quantas pessoas a mais irão trabalhar no 12 de outubro, em relação ao último feriado.
A gestão disse que estará com uma equipe formada por cerca de 70 pessoas, de diversas áreas, para realizar o monitoramento nas praias no dia 12 de outubro. "Serão utilizados dois quadriciclos, três viaturas da Guarda Municipal e seis motos pelos agentes de trânsito, tendo em vista que é um feriado, e, por isso, vamos ter a ciclofaixa liberada. A ação ainda vai contar com o apoio de um drone. Serão distribuídas pulseiras de identificação para as crianças. A ação contará com o apoio de equipes do Grupamento de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), Vigilância Sanitária, Procon e da Secretaria Executiva de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer", garantiu.
Jaboatão dos Guararapes confirmou, até o dia 24 de setembro, 8.737 casos de coronavírus e 840 óbitos.
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