CORONAVÍRUS

'Neste ritmo, a gente não consegue a imunidade coletiva da população brasileira', alerta sanitarista

A politização do combate à covid-19 pode ser um entrave para que o Brasil atinja a imunidade de rebanho em curto espaço de tempo

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JC

Publicado em 29/01/2021 às 15:59 | Atualizado em 30/01/2021 às 0:06
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As disputas políticas que envolvem a compra de doses de vacinas e a imunização da população brasileira contra a covid-19 seguem preocupando profissionais de saúde envolvidos na estratégia de vacinação do país. Em entrevista à Rádio Jornal, a médica sanitarista, professora da Universidade Federal de Pernambuco e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), Bernadete Perez, alerta que o ritmo atual e os interesses políticos do processo impedem que o Brasil atinja a imunidade de rebanho.

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Para que a população brasileira consiga a imunidade coletiva, é preciso vacinar mais de 70% das pessoas que vivem no país. "Precisaríamos de pouco mais de 300 milhões de doses. Nós temos essa possibilidade e a experiência com o Plano Nacional de Imunizações (PNI), mas que tem tido um boicote nacional. Essa inteligência, os profissionais de saúde tem, mas os políticos não permitem que aconteça", destacou a médica.

A falta de integração durante a vacinação também é criticada por Bernadete. "Tinha que ter sido pensado um plano nacional de imunização, que não existe. Cada estado tem traduzido as fases em etapas diferentes, o que torna um plano completamente heterogêneo". A incerteza sobre os próximos passos é vista com preocupação pela médica. "Quando a gente retarda intencionalmente [a vacinação] por uma disputa política, a gente entra num contexto de incerteza. É uma situação assustadora, principalmente quando a gente olha o estado do Amazonas que precisava de uma estratégia especifica para segurar a transmissão".

Imunizantes

A vice-presidente da Abrasco considera que o grande leque de vacinas disponíveis no mundo deveria ser motivo de celebração. "Tivemos uma corrida por vacinas que a gente nunca teve na história do mundo. As vacinas sempre levaram em torno de 10 a 30 anos para serem produzida. A epidemia nos colocou numa corrida para conseguir achar e chegar na última fase", observa.

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Atualmente, cerca de 20 vacinas contra a covid-19 estão na fase 3 de testes no mundo. Na corrida para desenvolver um imunizante capaz de amenizar a pandemia, diferentes tecnologias vêm sendo utilizadas pelos laboratórios. Atualmente, são testadas vacinas que utilizam o vírus causador da covid-19 de forma inativada, a técnica de subunidade proteica, a biologia molecular e as técnicas de vetor viral.

Dessa forma, as vacinas vêm se mostrado eficazes no combate as novas variantes do coronavírus que estão surgindo pelo mundo. "As vacinas tem o impacto de frear uma transmissão e inclusive as mutações, que acontecem quando você tem uma transmissão acontecendo de forma desenfreada e o vírus tende a ter modificação. Vários estudos estão caminhando para inclusão das variantes nos princípios ativos das vacinas", constatou a médica.

Eficácia

A possibilidade da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca não atingir a máxima eficácia em idosos, grupo para qual o imunizante está sendo destinado em Pernambuco, também foi comentada pela professora. "O que tem sido alertado é que os estudos acima de 65 anos tem que ser mais robustos para avaliação da eficácia dessa vacina, o quanto ela protege acima dessa faixa etária". 

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Para Bernadete, é preciso analisar os estudos e as vacinas disponíveis ao decidir o público alvo que receberá as doses. "Os médicos vêm alertando que pessoas com mais de 60 anos e trabalhadores de saúde sejam priorizados. Tem que ser muito criterioso e cuidadoso para pensar os planos adequados ao que melhor vai ter impacto para proteger toda população. O programa nacional de imunização tem uma experiência muito grande em vacinação acumulada, o SUS chega em todos lugares com muita experiência", avalia.

Escassez

As poucas doses de vacina contra a covid-19 disponíveis no Brasil, que até agora aprovou o imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac e a vacina da AstraZeneca/Oxford, devem ser utilizadas com cuidado, para evitar desperdícios. "Os técnicos já tem sabedoria de como economizar dose, não perder vacinas, utilizar o mesmo frasco para imunizar o maior numero de pessoas. Na escassez do imunobiologico, tem que ser muito cuidadoso e criterioso e não perder doses. Mas, nossa situação no Brasil é uma escassez muito maior por falta de planejamento da compra", critica Bernadete. 

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