O avanço da epidemia de gripe e a nova alta da covid-19 em Pernambuco, que têm sobrecarregado e pressionado as unidades de saúde, levaram o governo do Estado a definir, nesta segunda-feira (10), novas restrições no plano de convivência com o coronavírus. A decisão partiu de reunião com integrantes do Gabinete de Enfrentamento à Covid-19 do Governo de Pernambuco.
A partir da próxima sexta-feira (14), será exigida a apresentação de passaporte vacinal para se ter acesso a serviços de alimentação, cinemas, teatros e museus. Já os eventos terão a capacidade máxima reduzida para três mil pessoas e, além da exigência de comprovação de duas doses, será preciso apresentar um teste negativo para covid-19. As medidas são válidas até o dia 31 de janeiro. Os detalhes serão divulgados na manhã desta terça-feira (11), em coletiva de imprensa, no Palácio do Campo das Princesas, no bairro de Santo Antônio, área central do Recife.
A comprovação de vacinação será de duas doses ou dose única para pessoas até 54 anos e de dose de reforço para pessoas acima de 55 anos. Nos eventos, além do passaporte vacinal, será exigida a apresentação de teste negativo de covid-19. Este deve ser feito com 24 horas de antecedência para exames de antígeno e de 48 horas para exames de RT-PCR. O número máximo de frequentadores será de 50% da capacidade do espaço ou três mil pessoas em locais abertos e de mil pessoas em locais fechados.
"A ocupação dos leitos de terapia intensiva (UTI) no Estado chegou a 85% nesta segunda-feira (10). Temos um problema duplo com uma epidemia de influenza dentro da pandemia de Covid. Temos feito nossa parte com a ampliação de leitos, mas apenas isso não será suficiente. Estamos ampliando a exigência do passaporte vacinal para salvar vidas e diminuir a quantidade de mais de 500 mil pernambucanos que não concluíram a imunização”, afirmou o governador Paulo Câmara.
Depois de dois anos de sofrimento com a pandemia da covid-19, muita gente se surpreendeu com a reação dos mercados financeiros na Europa e Estados Unidos quando uma nova variante foi designada como ômicron pela Organização Mundial de Saúde (OMS), após ter sido detectada e anunciada pelo Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul (NICD), em 25 de novembro, a partir de amostras retiradas de um laboratório cerca de dez dias antes.
Para um leigo não fazia qualquer sentido.
Por que a queda nas ações das empresas e preocupações ao redor do mundo depois de dois anos de enfretamento da doença que já provocara a morte de cinco milhões de pessoas?
A razão das preocupações dos analistas de mercado estava numa linha do relatório que dizia que apesar de, aparentemente, a ômicron ser menos letal havia uma característica que era muito mais preocupante: ela era potencialmente 10 ou 20 vezes mais infectante que todas as demais variantes até agora identificadas.
Acostumados a fazer contas e simulações matemáticas, os analistas de mercado não precisaram de mais do que duas horas para chegar a um veredito assustador.
Se a ômicron infecta 10 vezes mais que a variante delta, isso quer dizer que para cada 10 pessoas que ela contaminasse ao menos mais 100 estariam também contaminadas. Se ela chegasse a um milhão, isso quer dizer que dez milhões poderiam ser infectados. E isso tem a ver com o que está acontecendo agora no Brasil e no mundo.
Como uma pessoa infectada precisa de, ao menos, 14 dias para voltar ao trabalho presencial, isso quer dizer que milhões de pessoas estariam fora do trabalho e, consequentemente, as empresas não teriam a força de trabalho mínima para operar.
Os resultados dessas análises têm um nome no mercado financeiro: “precificação”. E foi essa precificação derrubou as bolsas no mundo inteiro na última semana de novembro e vem derrubando até agora.
Felizmente a ômicron, de fato, demanda menos internação.
O problema é que como ela é exponencialmente muito mais contaminante e mesmo que demande menos internação o número de infectados e os que precisem de internação tende a ser nos hospitais também exponencialmente. Muito maior que as necessidades da demais variantes.
Numa conta bem simples. Se a variante delta demandava 10 leitos a cada 1.000 infectados, a ômicron demandará 100 leitos porque ela contaminará 10 mil pessoas. Ou seja, o problema não e porque os infectados têm sintomas leves. O problema está no número de pacientes graves em hospitais que são 10 vezes mais que os da variante anterior.
Mas este não é o problema mais sério. Economicamente, o problema está também naqueles 10 mil infectados leves. Eles precisam sair do ambiente de trabalho.
Ou seja, deixarão de trabalhar e as empresas reduzirão obrigatoriamente sua força de trabalho. Na prática, a Economia vai sofrer - como já está sofrendo - um impacto muito maior do que com as outras variantes. Porque milhões de pessoas estarão em casa sem trabalhar ao mesmo tempo.
Isso prova a teoria dos analistas financeiros diante de seus terminais de computador que, a partir da informação simples de que a ômicron tinham 10 vezes mais potencial de contaminação, projetaram no mesmo dia as perdas econômicas nos mercados ao redor do mundo.
Para uma economia que sofreu muito com a perda de milhões de vidas em dois anos pode ser até reconfortante saber que menos pessoas podem morrer de covid-19 com a variante ômicron. Isso é bom.
Mas o problema é que, como ela é muitas vezes mais contaminante, no leito dos hospitais a pressão será igual ou maior que no ano passado. Porque não serão mais 10 para cada 1.000 mas 10 para cada 10.000, o que na pratica quer dizer que serão 100.
Ou seja, no mínimo, os hospitais vão precisar dos mesmos leitos usados no pico da pandemia ano passado.
Na beira de um leito de hospital importa pouco se o paciente tem ômicron, delta ou gama. Ele precisa de cuidados do mesmo jeito.
O desafio é que, com a ômicron, muito mais pessoas podem chegar na porta dos hospitais ao mesmo tempo. Isso custa muito caro ao governo e ao país.
O que só reforça a necessidade de manter os cuidados básicos.