Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (8), um dia após anunciar restrições a grandes eventos com aglomeração, o secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, informou que o governo estadual recuou e alterou parte do que foi divulgado na segunda-feira (7). Agora, de 25 de fevereiro a 1º de março (período de Carnaval), está proibido, em todo o Estado, qualquer tipo de festa e evento. Na noite da segunda-feira, o Gabinete de Enfrentamento à Covid-19 chegou a comunicar que, também durante os dias de Carnaval, festas estavam permitidas com a limitação do público (3.000 para 500 pessoas em locais abertos, e de 1.000 para 300 em locais fechados).
A decisão foi revista devido ao aumento exponencial de casos de covid-19. Com isso, o secretário ressaltou que a medida que reduz a quantidade de público, em eventos no Estado de Pernambuco, começa nesta quarta-feira (9) e só vai até o dia 24 de fevereiro - e não mais até o dia 1º de março. Permanece obrigatória a comprovação de vacinação e a apresentação de teste negativo nos eventos com mais de 300 pessoas. Cinemas, teatros, circos e jogos de futebol também estão inclusos nas medidas.
Com a alteração, a partir do dia 25 deste mês até o dia 1º de março, as festas estão proibidas. "Nosso objetivo é desestimular situações que possam gerar aumento da contaminação e aglomerações. Iremos nos reunir com os prefeitos dos principais polos pra reiterar a importância de as gestões municipais também adotarem medidas próprias para conter aglomeração e ampliar a fiscalização nos espaços públicos e privados", disse André Longo. O secretário destacou que lamenta, por mais um ano, o cancelamento das celebrações de Carnaval. "É uma festa que está na alma e no coração dos pernambucanos. Mas nosso compromisso precisa ser, neste momento, prioritariamente com a vida e a saúde das pessoas."
Durante a coletiva, o secretário reforçou ainda a informação sobre o cancelamento do ponto facultativo nos órgãos públicos estaduais durante o Carnaval. A recomendação é que os demais entes públicos continuem funcionando normalmente.
Repercussão
Após o anúncio de restrições a grandes eventos com aglomeração, que certamente foram também responsáveis por acelerar a variante ômicron em Pernambuco, profissionais de saúde fazem críticas ao que foi divulgado na segunda-feira (7), por nota, pelo governo estadual. "Depois de dois finais de semana com eventos privados, ajudando a espalhar o vírus em meio à alta de casos, superlotação de hospitais e suspensão de férias, o governo de Pernambuco anuncia novas restrições. Eventos fechados: até 300 pessoas. Eventos abertos: até 500 pessoas", critica, no Twitter, o médico infectologista Bruno Ishigami, que diariamente analisa o cenário epidemiológico da covid-19 nas redes sociais e sugere condutas que podem ser adotadas pela população, profissionais e autoridades sanitárias.
Também médico infectologista, Demetrius Montenegro, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), analisa que a redução no número de pessoas permitidas nos eventos traz um impacto em termos de transmissão do vírus. "A propagação será menor com essas restrições. Como epidemiologista e infectologista não vejo, no momento, a necessidade de um lockdown. Mas, neste momento atual, o mais adequado seria cancelar todas as festas. E não precisaria ser por um longo período. Ajudaria demais se não houvesse eventos por cerca de 15 dias. Passado esse período, a liberação seria aos poucos", disse Demetrius, ao JC, na segunda-feira (7). Após tomar conhecimento, nesta terça-feira (8), sobre a proibição, em todo o Estado, qualquer tipo de festa e evento durante os dias de Momo, o infectologista comentou que a medida ajudará a conter a disseminação do vírus. "Com 500 pessoas, já se faz um Carnaval. Quantos blocos não iriam surgir, caso as festas continuassem permitidas no período (de 25/2 a 1º/3)?", refletiu Demetrius.
Recentemente, no Instagram, o infectologista fez duras críticas às festas realizadas - que, na visão dele, são "incubadoras de vírus". "Acho uma lástima e fico preocupado com as aglomeração em festas, não importa o número de pessoas, até porque esse número só me mostra o tamanho da incubadora de vírus e de quantos infectados e infectantes podem de lá sair. Além disso, existem os que negam, os que escondem sintomas e o pior, os que testam positivo e não cumprem o isolamento. Verdadeira falta de consciência sanitária e de empatia e quiçá crime!", ressalta Demetrius. "Alguns vão falar no transporte público. Bem, isso é outro caso, é o inevitável. Mas, se controlarmos o evitável, incluindo a melhora da cobertura vacinal entre adultos e crianças, a chance de novas variantes diminuirá. Caso contrário, não sairemos nunca dessa Caverna do Dragão", acrescenta.