Aos 77 anos, o Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP), em Santo Amaro, área central do Recife, passa por mais um momento de crise. Agora, sem pagar o percentual de 20% de incentivo aos médicos cirurgiões (que deveria ser acrescido ao salário), a instituição trabalha para evitar que esses profissionais de saúde interrompam as atividades no dia 8 de março.
Uma situação bem parecida foi vivenciada pelo HCP também em 2007. Naquele ano, médicos e enfermeiros do hospital entraram em greve por melhores condições de trabalho e pagamento de quatro meses de salários. Eles chegaram a se reunir com o então governador Eduardo Campos para fazer reivindicações.
Era o auge da maior crise da história do Hospital de Câncer de Pernambuco, cujo momento atual de problemas financeiros faz voltarmos a essa fase de 16 anos atrás. Em 2007, o HCP acumulava uma dívida em mais de R$ 40 milhões e sérios problemas com fornecedores.
O fechamento era questão de tempo. Para evitar a suspensão do trabalho do hospital responsável por cuidar de de 51% dos pacientes que vivem com câncer no Estado, o governo de Pernambuco fez a intervenção na unidade, em abril de 2007. Foram cinco anos de gestão estadual, até 2012.
O apelo agora se repete para evitar que médicos façam greve a partir do próximo mês. A nova superintendência pede ajuda para salvar o Hospital de Câncer de Pernambuco, que acumula uma dívida com médicos de R$ 12 milhões, em valores não corrigidos. Além disso, a instituição não conseguiu pagar o salário do mês de janeiro ainda aos funcionários.
Segundo o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), o hospital subtraiu 16% do salário dos médicos, sem sequer uma justificativa legal, ao longo dos últimos sete anos.
Em visita ao Jornal do Commercio na manhã desta sexta-feira (10), o superintendente geral do HCP, o executivo em saúde Sidney Batista Neves, informou que o departamento jurídico da instituição considera indevida a solicitação e que o conselho administrativo mantém a proposta de incremento (apenas daqui para frente, sem os pagamentos retroativos) de 20% à remuneração.
O Simepe não aceitou a proposta. "A lista de proposições minimamente razoáveis do conselho gestor da instituição para resolver os problemas sequer existe. A persistência desse cenário de indiferença, que ignora a urgência de demandas fundamentais, prejudicando usuários e profissionais, levará à suspensão das atividades médicas", explica, em nota pública, o sindicato.
Por outro lado, Sidney Batista Neves garante que a população atendida pelo HCP não tem sido prejudicada.
"O hospital funciona normalmente, e os tratamentos não estão interrompidos. Em janeiro, foram realizadas 1.137 cirurgias, e os procedimentos de quimioterapia também permanecem sendo feitos. Só em 2022, foram 62 mil procedimentos desse tipo - oito mil a mais do que em 2019", diz Sidney, que recebeu no hospital, na tarde desta sexta-feira (10), jornalistas para uma coletiva de imprensa e visitação a instalações da unidade.
O superintendente geral do HCP ainda garante que as instalações se mantêm adequadas para receber os pacientes, sem risco aumentado de infecções e com gerador em funcionamento para atender serviços essenciais. "Passamos por problemas (estruturais) como qualquer outro hospital, mas são problemas que não trouxeram risco à assistência da população atendida pelo hospital", assegura.
Para impedir a suspensão do trabalho dos médicos no próximo dia 8 de março, Sidney conta que está numa "relação próxima com o Simepe e conversando bastante para se chegar a um consenso antes desse prazo (o da paralisação)".
O superintendente geral ainda reforça que a "população fique tranquila", pois a gestão do hospital tem trabalhado para que a greve não ocorra.
"O atendimento (no HCP) atualmente está normal. Nosso plano é de conversar para que possamos fazer um trabalho de tranquilizar a população. Não temos diminuição do serviço, estamos na normalidade. Quando se tem boa vontade de resolver a situação, é fácil para todos."
O Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que se dedica ao diagnóstico e tratamento integral de pacientes com câncer, por meio do Sistema único de Saúde (SUS).
Como organização filantrópica, a instituição é mantida com doações de pessoas físicas e de empresas, além de parcerias, convênios e políticas públicas pactuadas com os governos municipais, estaduais e federal. Esses recursos são responsáveis pela totalidade da receita, despesas e investimentos necessários para atender os pacientes.